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Histórias & Sabores

Por Isabel Oliveira

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 28 de agosto de 2021 às 8:00 h • Atualizada em 28/08/2021 às 18:10 | Autor:

Nhoque da fortuna

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Imagem ilustrativa da imagem Nhoque da fortuna
| Foto: Raphael Müller/ Ag. A TARDE
O nhoque atrai sorte para quem o saboreia sempre no dia 29 de cada mês

Verônica Rabelo/Divulgação Cantina Cosa Nostra

Amanhã é dia de atrair sorte! Dia de cumprir uma deliciosa tradição, provavelmente trazida pelos imigrantes italianos no século XIX. Neste domingo, é dia de comer nhoque ou o “gnocchi della fortuna”, um petisco envolto em superstições e lendas que, dizem, atrai sorte a quem o saboreia sempre no dia 29 de cada mês.

Por trás da história do nhoque, há uma fábula que se espalhou por muitos países. Com algumas variações, diz a lenda que São Pantaleão, em uma noite de 29 de dezembro, maltrapilho, andando por um vilarejo da Itália, bateu em uma casa humilde e pediu comida. O jantar era nada mais nada menos que o nhoque. Apesar do pouco alimento à mesa, o maltrapilho não deixou de ser servido. Os sete pedacinhos de massa foram divididos para cada um dos presentes. Depois que o mendigo foi embora, a família percebeu que embaixo dos pratos havia muitas moedas de ouro.

Há também uma explicação relacionando o nhoque ao Dia de São Genaro, na Itália. Essa tradição teria se difundido a partir de italianos emigrados para a Argentina nos anos 1980. Quem explica essa curiosidade é o jornalista de ascendência italiana Eduardo Diogo Tavares, que há 19 anos cultiva a tradição.

“O fato de o alvo do pedido ser São Genaro e não São Pantaleão se deve à grande popularidade de São Genaro entre os italianos que emigravam através do porto de Nápoli, cidade que abriga a catedral dedicada a ele. Muitos pediam proteção e votos de fortuna. Daí o "gnocchi da fortuna".

Eduardo Diogo, filho do “pracinha” Ítalo Diogo Tavares, conta que começou a tradição para homenagear o pai, que gostava muito de comida italiana, casou-se com uma descendente de italianos e acabou abraçando a tradição quando morava em Rio de Janeiro, nos anos 1980. Nádya Argolo, jornalista e esposa de Diogo, emenda: “Nós começamos a fazer o nhoque quando o pai de Diogo faleceu em 2002, portanto há 19 anos”.

O então tenente da Força Expedicionária Brasileira (FEB) do 5º Exército Aliado foi um dos 25 mil militares comandados pelo general Mascarenhas de Morais que lutaram na II Guerra Mundial. A força brasileira atuou, principalmente, em algumas regiões da Itália.

Imagem ilustrativa da imagem Nhoque da fortuna
| Foto: /Gazeta do Povo
Os 'pracinhas'

Gazeta do Povo/ reprodução

Conta Diogo que as reuniões com o pai eram sempre regadas a nhoque, quando coincidia de a data cair no dia 29. Um mês depois da morte do pai, o jornalista andava pelas ruas de Barra Grande, na Península de Maraú, quando se deparou com um restaurante italiano. No local, havia o nhoque. Tomou aquilo como grande sinal e resolveu homenagear o “pracinha” e sua ascendência italiana.

“Falei: caramba! Acho que a partir de hoje eu vou fazer essa homenagem não só pela minha própria origem da família materna, mas também em homenagem ao meu pai”.

Imagem ilustrativa da imagem Nhoque da fortuna
| Foto: Reprodução/ acervo pessoal
O 'pracinha' Îtalo Diogo Tavares

Reprodução/Acervo pessoal

Desde então ele e a esposa não passam a data sem o nhoque na mesa. “Desde 2003, até hoje, eu e Nádya nunca deixamos de comer nhoque no dia 29. Quando é fevereiro, mês que não tem a data, a gente come no dia 28 ou dia 1º de março, mas não deixamos de cumprir a tradição”, diz, em tom de satisfação.

O casal já passou por alguns sufocos para fazer valer a tradição. Um caso bem pitoresco ocorreu em Coimbra, Portugal, onde a maioria dos restaurantes não vende nhoque.

“Eu olhava, tinha pizzaria e nada de restaurante italiano. Quando achava, não tinha nhoque. Até que achamos o restaurante de uma brasileira, de são Paulo, que tinha receitas italianas inspiradas na nona dela. Perguntei se tinha nhoque, ela respondeu com um ‘geralmente’. Ah, mas tem que ter! Porque a gente tem esse compromisso no dia 29 de comer nhoque”, contou, com muito humor. E o nhoque foi servido com pompa e circunstância!

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| Foto: Acervo pessoal
Diogo e Nádya degustando o gnocchi em Roma

Diogo Tavares/ Acervo pessoal

E para quem deseja cumprir a tradição ou experimentar o nhoque, muitos restaurantes em Salvador oferecem a iguaria no cardápio, como o tradicional restaurante italiano Cantina Cosa Nostra, na Pituba. De acordo com a gerente e proprietária do local, Marta Barrero Inácio, no dia 29 os pedidos aumentam em cerca de 30%.

“No dia da tradição, 29, vendo muito, principalmente por meio de delivery, por conta da pandemia”, mas durante toda a semana as pessoas gostam de comer nhoque. Saem muitos pedidos”, conta.

Abaixo a deliciosa receita, prática e barata, preparada por Nádya Argolo, que esteja onde estiver com o marido Diogo Tavares, tem que comer o “gnocchi della fortuna”

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| Foto: Raphael Müller/ Ag. A TARDE
O molho pode ser de tomate ou mais incrementado, como o molho à bolonhesa

Raphael Müller/Ag. A TARDE

O molho

Ingredientes

4 tomates maduros

3 colheres de sopa de azeite

2 colheres de sopa de bacon picadinho

4 dentes de alho picados

1 cebola ralada

Sal a gosto

1 pitada de açúcar

Folhas de manjericão a gosto e temperos a gosto

Modo de fazer

Cozinhe na água fervente os quatro tomates bem maduros até soltar as peles. Em seguida, passe a polpa em uma peneira para depois amassar com um garfo.

Em uma panela, aqueça o azeite e frite o alho, a cebola e, em seguida, o bacon. Coloque a polpa e aproveite um pouco do caldo em que cozinhou os tomates. Adicione o sal e uma pitada de açúcar para cortar a acidez. Acrescente folhas frescas de manjericão, orégano, alho desidratado e as ervas que desejar. Deixe ferver e está pronto.

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| Foto: Raphael Müller/ Ag. A TARDE
Ingredientes da massa

Raphael Müller/ Ag. A TARDE

Antes da massa

Enquanto prepara a massa, é preciso deixar fervendo a água para o cozimento do nhoque. Numa panela funda, coloque a água, que pode ser temperada a gosto. Se desejar, coloque uma pitada de sal, manjericão fresco, orégano, alho granulado e uma pimenta-de-cheiro. Isso para os mais corajosos. Mas pode ser pimenta do tipo que não arde, como a biquinho.

A Massa

4 batatas grandes

1 ovo inteiro

1 colherzinha de manteiga ou azeite de oliva

Sal a gosto

Para início de conversa, vamos prestar bastante atenção nas batatas. É preferível escolher as de casca mais fina e mais durinhas, que devem ser bem cozidas e com casca. É importante deixar esfriar totalmente para então descascar e espremer.

Coloque uma xícara de farinha de trigo e comece a misturar com as mãos até perceber que a massa se solta da mão. Coloque mais farinha, se precisar, até encontrar o ponto certo para modelar a massa.

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| Foto: Raphael Müller/Ag. A TARDE
Enrolar a massa e cortar os quadradinhos de nhoque é uma terapia a parte

Raphael Müller/ Ag. A TARDE

Com a massa pronta, modelar em formato de rolinho, que não precisa ser feito de forma regular

Feitos vários rolinhos, é só cortar em pequenos pedaços quadradinhos com uma faca lisa, sem serra.

Em seguida, colocar uma boa porção desses quadradinhos em uma escumadeira, peneira inox ou de alumínio e mergulhar delicadamente na água, previamente aquecida e temperada. Quando os quadradinhos retornam à superfície da água é hora de retirá-los e arrumar no refratário.

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| Foto: Raphael Müller/ Ag. A TARDE
Muitos restaurantes em Salvador oferecem o nhoque no cardápio no dia 29

Raphael Müller/Ag. A TARDE

Prepare um refratário untando com azeite de oliva ou manteiga, em seguida uma porção de molho para receber o nhoque.

Coloca-se uma camada dos nhoques, cobre-se com o molho e assim, sucessivamente, até que a última camada seja a do molho. Finaliza com queijo parmesão ralado, salpicando.

É de suspirar e revirar os olhos, mas não esqueça o ritual!

Atenção! Antes de comer, deve-se colocar uma nota de qualquer valor sob o prato. Na sequência comer os sete primeiros nhoques em pé. Ao terminar a refeição, a nota deve ser guardada até o próximo dia 29. E está cumprida a tradição, como conta a lenda, e esperar dias melhores!

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| Foto: Raphael Müller /Ag. A TARDE

Antes de comer, deve-se colocar uma nota de qualquer valor sob o prato

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