O mais doce símbolo da época natalina: a rabanada | A TARDE
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O mais doce símbolo da época natalina: a rabanada

Chamada de fatia de parida, fatia dourada ou pain perdu, ela está nas mesas de fim de ano por todo o mundo

Publicado sábado, 25 de dezembro de 2021 às 01:59 h | Atualizado em 29/12/2021, 16:42 | Autor: Isabel Oliveira

  “Minha mãe fazia em casa, todo o mundo gostava. A rabanada é para mim um símbolo do Natal”, assim resume a dona de casa Ana Neves, mãe de três filhos e avó de duas crianças. Com esta frase, ela traduz um sentimento quase universal entre os povos de tradição cristã espalhados pelo planeta. Afinal a receita que aproveita o pão dormido e o transforma num doce saboroso viajou pelo mundo com os europeus e fincou raízes nas mais diversas culturas.

As origens da iguaria são incertas, e os ingredientes usados variam de lugar para lugar. Mas tudo começa com o aproveitamento do pão dormido. Umedecido e reaquecido, ele volta a ter sabor e textura. Há uma referência do século I a uma receita de pão molhado em leite, frito e depois banhado em mel. O registro foi feito pelo gastrônomo romano Marco Gávio Apício, no livro “De re coquinaria”, onde o preparado aparece com o nome de pan dulcis, ou pão doce.

Nos tempos modernos, os registros escritos remontam ao fim do século XV, também na Europa. O poeta e teatrólogo espanhol Juan del Encina descreve a rabanada como prato indicado para a recuperação das mulheres que deram à luz, feito de pão, mel e muitos ovos. Por ser rica em calorias, ganhou essa fama de alimento ideal para o resguardo feminino pós-parto e passou também a ser chamada de fatia de parida.

O termo fatia de parida parece estar caindo em desuso, mas era como as famílias baianas conheciam o doce de Natal. Dona Ana Neves lembra disso.

Minha mãe, Esmeralda Dias Nobre, chamava de fatia de parida. Só que não tinha isso de dar para quem pariu. Era servida no Natal mesmo. Depois que veio essa moda do Sul do país, com a televisão, de falar em rabanada Dona Ana Neves, Fatia de Parida não é para quem pariu!
 

recorda.

Aliás, nome é o que não falta para o pão doce com ovos. O termo rabanada tem origem espanhola. Vem de “rebanada”, que significa fatia. Chegou a Portugal na região ao norte do rio Mondego com a forma aportuguesada rabanada, mas, ao sul, já era denominado fatia parida, fatia dourada ou simplesmente, como o português adora, fatia de ovo. Na França, é “pain perdu”, ou pão perdido, o que faz alguns por aqui também chamarem de fatia de paris.

A tradicional gastronomia francesa espalhou a iguaria mundo afora, fazendo com que seja apreciada em diversos países, como tostadas francesas. Mas pelas bandas do rio Sena, elas não são fritas em óleo nem azeite, como ocorre na Península Ibérica e por aqui. São tostadas na chapa, deixando de ser frituras e ficando um pouco menos calóricas.

Pierre Fatumbi Verger guardava na memória o sabor afetivo da rabanada servida em sua infância e reviveu esse sabor pouco antes de morrer
Pierre Fatumbi Verger guardava na memória o sabor afetivo da rabanada servida em sua infância e reviveu esse sabor pouco antes de morrer |  Foto: Divulgação

No fim do documentário “Pierre Verger: Mensageiro Entre Dois Mundos”, há uma passagem que ilustra o quanto esse é um alimento ligado a nossa afetividade. Um amigo do fotógrafo e etnógrafo relembra que já no fim da vida, Pierre Fatumbi Verger teria pedido uma guloseima que a sua mãe fazia, mas que, segundo ele, seria impossível de reproduzir: era rabanada! Foram imediatamente para preparar e o mais baiano dos franceses se refestelou.

A mãe e avó Ana Neves reclama que “a onda fitness já está mudando os hábitos porque os jovens não querem comer alimentos muito calóricos e a rabanada é cada vez menos exigida pela família na ceia natalina”. O ator norte-americano The Rock não parece se preocupar tanto com isso. Em 2016, o astro sarado postou uma foto em suas redes sociais e confessou ter traçado uma bandeja do pão doce na noite de Natal assistindo ao filme “Star Wars: Episódio VII – O Despertar da Força”.

O astro americano The Rock não se importou com as mais de 170 calorias de uma fatia de rabanada e devorou uma bandeja da iguaria numa noite
O astro americano The Rock não se importou com as mais de 170 calorias de uma fatia de rabanada e devorou uma bandeja da iguaria numa noite |  Foto: Reprodução do Instagram

Variações, acréscimos, adaptações fazem parte da história desse quitute. Tem as versões ibéricas em que o leite é substituído por vinho, seja ele verde, branco, tinto e até mesmo o tradicionalíssimo vinho do porto. Há opções veganas, que usam leite de soja, em lugar do leite de cabra ou de vaca, e farinha de grão de bico em substituição aos ovos. Há quem aromatize o leite com raspas de laranja ou até mesmo um pouco de conhaque.

Receitas à parte, a rabanada está nas mesas comemorativas, principalmente do Natal, mas também da Quaresma. Faz parte da memória afetiva culinária de muita gente e por isso vem sendo reinventada a cada dia. Nem sempre dá certo, como no ganhador do Oscar de 1979 “Kramer vs Kramer”. Na película, o pai Ted, depois de ser abandonado pela esposa Joanna, tenta realizar o desejo do filho de comer o quitute. “Se é rabanada que você quer, rabanada é o que você vai ter”, diz o pai para o filho. Mas nada dá certo e ele consegue apenas queimar as mãos.

Fatia dourada não é propriamente uma receita complexa. Pelo contrário: é simples, usa ingredientes convencionais e baratos e por isso se presta a experimentações. Que o diga a confeiteira Angélica Barros, dona da L’amour Confeitaria (@lamourtortaria), que fornece bolos lindos e saborosos para festas e confraternizações. “A receita é simples, mas tem muita afetividade envolvida. Quando faço, lembro de minha avó, Ana. Sinto ela no cheiro das coisas”, revela emocionada.

A confeiteira Angélica Barros sofisticou a fatia de parida que aprendeu a fazer na infância, acrescentando doce de leite e banana prata
A confeiteira Angélica Barros sofisticou a fatia de parida que aprendeu a fazer na infância, acrescentando doce de leite e banana prata |  Foto: Angélica Barros / Divulgação
 

Angélica começou a fornecer bolos em 2013, mas há quatro decidiu incluir durante o período natalino a opção da rabanada para seus clientes, que ela atende apenas por entrega em domicílio. E como confeiteira que é, decidiu também inovar. Além da opção tradicional, ela oferece também nesta época uma rabanada com banana da prata e leite condensado. “Fui pesquisando aqui e ali, fiz, ficou bom e resolvi vender. E pelo visto as pessoas também gostaram porque os pedidos só aumentam”, comemora a carioca radicada na Bahia.

Mesmo sendo uma profissional da confeitaria, Angélica Barros não se esquece das lições da cozinha da avó Ana. “Minhas referências estão todas lá. Desde pequena gostava de ficar com ela preparando os pratos, os doces, os bolos e no Natal era certo ter rabanada, que meu avô português adorava e a família inteira também. Ela fazia no dia, mas eu mesma prefiro comer no dia seguinte, no café da manhã”, desmancha-se.

A nossa receita de hoje poderia ser uma dessas versões gourmetizadas, uma opção vegana, ou até uma mais raiz, em que o vinho substitui o leite. Mas qual nada! Vamos de receitinha da vovó. E quem traz ela para os leitores de Histórias & Sabores é a confeiteira Angélica Barros, que em vez de apresentar sua tradicional rabanada ou mesmo a inovadora com banana e doce de leite, foi no fundo da memória para nos passar o jeitinho como avó Ana fazia aquelas rabanadas para a ceia natalina e para o café do dia seguinte. Confira e faça a sua também!

O passo a passo para fazer uma tradicional fatia dourada à moda da avó de Angélica Barros,, que tem canela e limão para dar um sabor a mais ao leite
O passo a passo para fazer uma tradicional fatia dourada à moda da avó de Angélica Barros,, que tem canela e limão para dar um sabor a mais ao leite |  Foto: Angélica Barros / Divulgação
 

Rabanada

(Receita de Ana, avó de Angélica Barros)

Ingredientes

• 1 pão francês de 200g

• 300ml de leite

• 60g de açúcar

• Açúcar para polvilhar

• 3 ovos

• Casca de limão

• Canela em pau

• Canela em pó

• Óleo vegetal

Modo de fazer

Corte os pães na espessura de dois dedos na diagonal. Aqueça o leite com a canela em pau e a casca de limão para dar um sabor diferente e adicione 60g de açúcar.

Bata os ovos em um refratário que dê para mergulhar as fatias de pão. Em outro refratário, faça uma mistura de canela em pó e açúcar a gosto. Reserve. Coloque uma quantidade de óleo suficiente para cobrir as fatias em uma panela e aqueça em fogo médio. Passe as fatias de pão no leite para que fiquem bem molhadinhas em ambos os lados, depois passe na mistura de ovos batidos e leve para fritar. Doure os dois lados, escorra em papel absorvente e depois passe na mistura de açúcar e canela.

Está pronta para servir!

Notas com Histórias & Sabores

Outback aposta em Gift Cards físico e virtual

O Gift Card físico do Outback Steakhouse, rede de restaurantes com 122 estabelecimentos no Brasil, presente em 49 cidades de 16 estados e em mais 23 países, ganha novo impulso este mês com a comercialização em nos supermercados Big, Lojas Americanas, Posto Ipiranga, lojas de conveniência, drogarias e outros estabelecimentos, além das lojas do Carrefour. A rede de restaurantes também repaginou sua plataforma de vendas dos vales virtuais. Na prática, os dois modelos funcionam como um cartão de crédito, no qual o cliente utiliza o valor em qualquer Outback físico do Brasil. Basta apresentar o número do cartão na hora de pagar a conta e o saldo do presente será automaticamente abatido. “Acreditamos que estamos criando um novo hábito de consumo nos brasileiros, já que a prática é bem conhecida e aceita em outros países“, finaliza Andrea França, gerente de consumer insights e produtos digitais da Bloomin’ Brands, grupo detentor da marca no Brasil.
 

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