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Histórias & Sabores

Por Isabel Oliveira

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 15 de novembro de 2025 às 7:01 h | Autor:

O turismo de terreiro que resgata saberes, história e comunidade

A imersão ancestral da kilede Solange pode ser vivenciada no projeto “Culinária de Terreiro”, na Agrovila Pinhão Manso, em Camaçari

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Pense na emoção de sentir-se em um solo sagrado, nas proximidades de um terreiro de candomblé, vivenciando o que há cerca de 30, 40 anos era impossível pensar em existir. Esta é a sensação descrita por muitos dos que vivenciam o roteiro afro e ancestral do ‘Culinária de Terreiro’, projeto idealizado pela kilede Solange Borges, 62 anos, do terreiro Unzo N’Ganga Kuatelesa Ninza, que teve a ideia em 2017.

“Empreendi o ‘Culinária de Terreiro’ com cursos presenciais e online carregados de sabor, cultura e ancestralidade. Ali entendi que o que eu queria era transformar a vida de mais pessoas, começando pela minha comunidade, estimulando e incentivando dezenas de famílias a produzir e se sustentar”, afirma Solange, moradora da Agrovila Pinhão Manso, em Camaçari, que abriga o projeto, que fica ao lado do seu terreiro.

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| Foto: Divulgação

Solange faz questão de explicar que o projeto da Agrovila é no mesmo solo do templo religioso “e as pessoas, em algumas oportunidades, adentram também o terreiro. Isso, quando existe a possibilidade de ir. Às vezes, não dá porque o terreiro está na ritualística, aí não tem como fazer essa visita”, explica Solange.

O ‘Culinária de Terreiro’ nasceu como exemplo de turismo comunitário e valorização do saber ancestral. Sobretudo, para “dirimir esse preconceito que as pessoas têm, né? Porque às vezes a pessoa tem preconceito por uma coisa que ela não conhece. Então, nossa perspectiva era celebrar em torno da comida dentro de um terreiro de candomblé”, explica Solange, na vida, como ela diz, professora formada em Magistério, graduada em Letras em 2011 pela Unijorge, cozinheira pelo Senac em 2009, e com curso de extensão em Fitoterapia pela Ufba em 2016.

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É na Agrovila que a kilede guarda uma das suas maiores conquistas com a imersão, que reforça o aprendizado dos saberes ancestrais, um dos objetivos do projeto. Outra é a experiência gastronômica ao final do processo de aprendizagem. Afinal, o visitante está ali para aprender.

Que o diga o professor Bené Fontele, professor de artes que saiu de Brasília para Salvador e teve a experiência imersiva com seus alunos.

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“Solange Borges foi um achado na minha vida. Eu fiquei muito encantado com ela quando a conheci. Levei meus alunos da Escola de Belas Artes no curso que ministrei como professor artista visitante de 2024 a 2025, durante o qual eu oferecia uma oficina chamada Epo Dendê. Foi maravilhoso aprender com ela as histórias da comida baiana e a forma como ela coloca sua culinária de terreiro como cultura viva da Bahia. Em seguida, dei a oficina no galpão de oficinas do MAM. Trabalhamos com o dendê, seus materiais, o bagaço, todos os subprodutos, para fazer obras de arte com o dendê”.

A vivência tem início a partir do interesse daqueles que vêm em busca de experiências que misturam fé, identidade e gastronomia. É importante dizer que essas práticas ganham cada vez mais espaço no coração de baianos e brasileiros, que também vêm ganhando o mundo. Este ano, um grupo da Escola de Belas Artes, da Ufba, participou da energia que é estar na Agrovila.

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A imersão foi envolvida por uma tradicional roda de conversa, com o objetivo de que todos conhecessem os propósitos e a história de cada um. Na sequência, foi a vez da chamada Feita da Farinha, momento de “fazer a farinha, raspar o aipim, moer”, detalha Solange. Logo em seguida, o prazer de todos em dar aquele passeio pela mata, extraindo a melhor “energia incrível da natureza”, como faz questão de afirmar a idealizadora do projeto.

“A primeira coisa que ele [o participante] experimenta é estar em uma área arborizada. Aqui o clima é outro, a energia é outra. Então, ele está no solo sagrado arborizado, que trabalha com agroecologia. As pessoas chegam, elas querem tirar o sapato, elas querem colocar os pés no chão. Então, aqui é um lugar de você colocar os pés no chão e se reconectar com a Mãe Natureza”, reforça.

Em meio a tudo isso, a Feita do Dendê é sempre um capítulo à parte no processo de imersão. A retirada do óleo de palma é artesanal e comum em terreiros, comunidades quilombolas e regiões rurais da Bahia. É um trabalho coletivo, manual e profundamente ancestral, com o processo de debulhar, lavar o dendê, bater no pilão e cozinhar.

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O barulho do pilão, o tom amarelo intenso do óleo, o aroma que invade o ar. “O resultado é um dendê de pilão fantástico”, comenta Sol. Não há como negar que o turismo de terreiro e o azeite de pilão são formas de resistência cultural e sustentabilidade social.

Quando a mata é apresentada, e todos os processos de preparação são realizados, chega o momento delicioso de degustar as iguarias ancestrais. Este grupo pôde se deliciar com o preparo da moqueca de banana-da-terra, moqueca de peixe. E para concluir em grande estilo, preparamos o beiju com coco”, contou uma Solange cheia de orgulho com o que faz.

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Solange faz questão de enfatizar a importância da culinária como cultura. “Comida é cultura, né? Quando você vai em algum lugar, quando você vai em algum país, quando você visita alguma cidade, você vai ao mercado, você quer saber das feiras, você quer saber o que as pessoas têm para comer. Então, a comida é uma forma de territorialidade”, ensina Solange.

A ideia de Solange é levar conhecimento às pessoas para que elas entendam que o terreiro é um lugar religioso, mas também um território onde memória, saberes e alimentos são transmitidos de geração em geração. E isso é realizado na transmissão oral das receitas; no ato em si de cozinhar, lavando, cortando, pilando; no aprendizado, seja olhando, ouvindo e fazendo”.

“Os saberes que estão por trás da comida que eu defendo são os saberes que eu adquiri nos terreiros de candomblé, que eu adquiri com mainha cozinhando. Então, são os saberes que você traz da sua árvore genealógica, que você traz da sua história de vida. Essa comida que eu trabalho hoje, é a comida que eu aprendi nos terreiros de candomblé, que eu frequento, que eu visito, que eu posso ir para a cozinha, que eu posso cozinhar. Então, é essa comida que vem com toda essa carga ancestral dos povos que foram escravizados, que trouxeram aqui para o Brasil”, explica.

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A kilede quer nesse projeto é que a comida seja aceita, que as pessoas saibam que a religiosidade afro-brasileira é parte essencial da identidade da Bahia, que as pessoas participem da vivência para aproximar o visitante das raízes ancestrais. Comida é também celebração, diz Solange.

“Comida é celebração. Tudo que você imaginar, você celebra com comida. Quando você nasce, tem celebração com comida. Quando você se despede também. Vai casar, tem aniversário, tem comida. Tudo tem comida. Então, a comida é algo que une, que celebra. Ou celebra dor, ou celebra alegria, mas ela está ali para celebrar. Então, a comida está envolvida em todos esses espaços, né?”.

Para celegrar o Novembro Negro Solange nos apresenta uma deliciosa comida. Vamos aprender e fazer, pois é muito fácil.

Moqueca com mamão verde e ovos

Ingredientes:

2 xícaras de mamão verde ferventado

500ml de leite de coco grosso

8 ovos

1cebola picada

2 tomates

1 pimentão

Pimenta doce

Coentro

1 pitada de sal

Camarão seco defumado à gosto

Azeite de dendê à gosto

Em uma frigideira aqueça o óleo coloca cebola deixe puxar deixa ficar translúcida

Acrescente demais temperos deixe cozinhar um pouco coloque o leite de coco e espere ferver logo em seguida coloque temperos em rodelas, adicione o camarão e finalize colocando os ovos se precisar coloque mais um pouco de leite de coco

Obs.: Após colocar os ovos é bom tampar e deixar em fogo brando.

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@isabel _qoliveira

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Isabel Oliveira ( facebook)

NOTA COM HISTÓRIAS & SABORES

Nova edição do Bahia Vinho Show celebra a sofisticação e sensualidade do mundo dos vinhos

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Em sua 13ª edição, o Bahia Vinho Show vai celebrar a sofisticação e sensualidade do mundo dos vinhos, trazendo novidades voltadas tanto para o público final quanto para o trade de negócios do setor. Consolidado como o mais tradicional e aguardado evento do segmento no Norte e Nordeste, o encontro reúne apreciadores, expositores e profissionais do setor em uma experiência única focada na degustação, apresentação e venda de rótulos nacionais e internacionais exclusivos. O encontro ocorrerá nos dias 21 e 22 de novembro de 2025, no Hotel Vila Galé, localizado no bairro de Ondina, em Salvador. Realizado pelo Clube Gourmet Bahia, a feira traz uma programação repleta de degustações e oportunidades de negócios. Serão mais de 200 rótulos nacionais e internacionais, comercializados por 22 empresas parceiras que estarão presentes ao evento.

Pasta em Casa lança novo Menu Executivo nas unidades do Rio Vermelho e Alphaville

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O Pasta em Casa, referência em gastronomia na Bahia, a partir desta segunda-feira (17), lança o seu novo Menu Executivo, disponível nas unidades do Rio Vermelho e de Alphaville. Servido de segunda a sexta-feira, durante o almoço, o cardápio apresenta quatro experiências completas, com entrada, prato principal e sobremesa, pensadas para agradar diferentes paladares. O Menu Executivo 1 (R$ 79,90) apresenta a tradicional Ilha de Massas — um clássico do Pasta em Casa. É a escolha ideal para quem busca leveza e frescor: massas artesanais do dia, molhos preparados na hora, sem proteína e sem repetição. Mas há outras opções deliciosas!

Unidade Rio Vermelho - Rua Professora Almerinda Dultra, 67 - Rio Vermelho, Salvador e unidade Alphaville - Edf. Alpha Fitness Business - Av. Alphaville, 0522 - Alphaville I

Mais informações: https://pastaemcasa.com.br/ | www.instagram.com/pastaemcasa

Fundação Cargill abre 40 bolsas para curso de gastronomia em Barreiras (BA)

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Criado pela Fundação Cargill para promover a transformação de comunidades por meio da capacitação profissional, empreendedorismo e combate ao desperdício de alimentos, o Programa Raízes da Transformação vai oferecer 40 (quarenta) bolsas integrais para o curso de Gastronomia e Alimentação em parceria com o SENAI de Barreiras (BA). O prazo para inscrições vai até 18 de novembro. Edital e formulário para inscrições estão disponíveis neste link. O curso é totalmente gratuito e voltado para moradores de Barreiras interessados em atuar na área gastronômica ou para quem deseja iniciar carreira no setor de alimentação. Serão priorizadas pessoas de comunidades negras, indígenas, quilombolas, LGBTQIA+, mulheres em situação de vulnerabilidade, pessoas com deficiência, maiores de 50 anos e moradores das redondezas da Fundação. A situação socioeconômica dos candidatos também será considerada na avaliação. Todas as pessoas interessadas devem ter idade mínima de 18 anos e ensino fundamental completo. Os concluintes, que receberão certificados reconhecidos pelo SENAI, terão seus perfis cadastrados no banco de currículos da instituição.

Di Liana é reconhecido no POPAI Brasil e disputa medalha no “Oscar do Varejo”

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Com mais de 40 anos de tradição na gastronomia baiana, o Di Liana foi reconhecido no POPAI Brasil, principal premiação nacional dedicada ao Retail Design, considerado o “Oscar do Varejo”. O projeto da Loja Conceito Di Liana Cucina, no Salvador Shopping, garantiu ao grupo um lugar no pódio na categoria Projetos para Design e Arquitetura de Loja. A definição entre Ouro, Prata ou Bronze será anunciada no dia 25 de novembro, em São Paulo. O POPAI destaca, anualmente, projetos que se sobressaem na experiência do cliente dentro de lojas, avaliando arquitetura, ambientação e comunicação visual. Estar entre os finalistas coloca o Di Liana entre os projetos mais bem avaliados do país em 2025.

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