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Histórias & Sabores

Por Isabel Oliveira

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 29 de janeiro de 2022 às 0:13 h | Autor:

Prato típico, a feijoada tornou-se um símbolo do verão baiano

Com a reconfiguração do Carnaval, nos anos 1990, a iguaria passou a marcar grandes eventos de Salvador

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O verão de Salvador sempre está acompanhado das muitas temporadas criadas pelos soteropolitanos. Um dos mais esperados períodos da estação é o da feijoada. O prato típico atiça o baiano com suas carnes, a couve, a farofa, a laranja, se possível a laranja-bahia, elementos básicos para o feitio do prato.

A feijoada é um dos pratos típicos do brasileiro
A feijoada é um dos pratos típicos do brasileiro | Foto: Divulgação

A feijoada típica se firmou como tradição no país e está na mesa do brasileiro há muito. O professor Vilson Caetano, doutor em Antropologia e professor da Escola de Nutricão da UFBA, nos conta histórias sobre a consolidação da feijoada como um prato típico brasileiro.

“Há várias versões para explicar o processo de formação desta comida. Uma delas diz que a feijoada teria nascido sob a trempe dos tropeiros que durante as suas viagens misturavam o feijão com a carne seca ou toucinho. A carne seca servia para dar o sabor ao feijão”, conta.

Ele também esclarece “que desde cedo esta comida ganhou o privilégio entre as camadas mais populares e como outras comidas comercializadas na rua nos fins do século XIX passaram a ser estigmatizadas. Somente a partir da década de 30, após o movimento regionalista, que ela vai começar a ser pensada como um símbolo de nossa identidade”, diz. E finaliza concluindo que “a feijoada vai se consolidando justamente a partir de um discurso de valorização de nossas identidades contra o chamado estrangeirismo na cozinha. Discurso que começa a se delinear nos anos de 30 a partir de intelectuais que estavam sobretudo na região Sudeste”.

A feijoada é comercializada nos mais diversos pontos da cidade: dos mais sofisticados aos mais simples
A feijoada é comercializada nos mais diversos pontos da cidade: dos mais sofisticados aos mais simples | Foto: Genilson Coutinho/ Divulgação

Foi com a estruturação do Carnaval que conhecemos hoje, voltado para os turistas principalmente, e a partir dos anos 1990, que começaram os eventos de feijoada na cidade. Nas esquinas, nas vielas, nos restaurantes chiques, nos eventos que têm por objetivo angariar donativos, tudo começou a ser motivo para fazer festivais do acepipe.

Não é raro encontrar festas na cidade que ofereçam a feijoada como acepipe
Não é raro encontrar festas na cidade que ofereçam a feijoada como acepipe | Foto: Genilson Coutinho/ Divulgação

No Hotel Wish, a expectativa é grande para o retorno da tradicional feijoada, que sempre esteve na programação do hotel, servida aos sábados. Este ano, o acepipe tão aguardado será resgatado pelo estabelecimento, que tem 70 anos de existência.

De acordo com Eduarda Ketzer, gerente de alimentos e bebidas do local, as pessoas que frequentaram o estabelecimento guardam uma memória afetiva da feijoada servida no hotel e veem o local, e o tradicional prato, como um espaço de entretenimento nos dias de sábado.

“O Hotel da Bahia já vem de um longo período de tradição de sua feijoada. Nossa intenção é resgatar esse serviço, trazendo o baiano de volta ao nosso hotel, e proporcionando essa experiência gastronômica aos nossos hóspedes e clientes”, conta Eduarda.

Não é raro encontrar uma festa que se anuncia nesta cidade de Salvador, festivais ou eventos mais simples, que tenha como acepipe a feijoada. Mas não somente isso: os locais que vendem feijoada parecem ter se multiplicado. Qualquer espaçozinho, a depender das circunstâncias, vão lá vender feijoada!

Tatiana Ferreira, a Tatynha, trabalha com feijoada há cerca de 10 anos
Tatiana Ferreira, a Tatynha, trabalha com feijoada há cerca de 10 anos | Foto: Divulgação

Tatiana Cristina da Silva Oliveira Ferreira, conhecida como Tatynha, trabalha com feijoada há cerca de dez anos. Aos domingos, ela serve a iguaria no cantinho de casa, que faz as vezes de restaurante. É lá que Tatynha recebe os clientes com plaquinhas de frases de efeito para quem deseja tirar uma selfie ao lado do feijão famoso do bairro de Cosme de Farias. Com dizeres otimistas, “as plaquinhas servem, inclusive, para conciliar casal brigado”, conta. Mas para quem quiser encomendar o feijão para grandes eventos, para os festivais, a chef coloca o serviço à disposição.

E o feijão, que tem gosto de festa, como diz a música, coleciona boas histórias e curiosidades em Salvador. Foi na Pituba que a dona de um “restaurante”, que funcionava dentro de uma Kombi, fez a alegria das madrugadas de muita gente - e continua fazendo.

Dona Ana Maria dos Santos trabalhou, durante muitos anos, vendendo feijão em uma  Kombi que funcionava como seu restaurante na Praça Nossa Senhora da Luz, na Pituba
Dona Ana Maria dos Santos trabalhou, durante muitos anos, vendendo feijão em uma Kombi que funcionava como seu restaurante na Praça Nossa Senhora da Luz, na Pituba | Foto: Genilson Coutinho/ Divulgação

Um restaurante que começou numa velha Kombi, no ano de 1986, na Praça Nossa Senhora da Luz, certamente marcou a vida de muitos. O veículo migrou tempos depois para as proximidades do então Clube Português, no mesmo bairro, onde ficou durante 13 anos.

Dona Ana Maria dos Santos, proprietária do estabelecimento, colocava algumas mesinhas no entorno e servia a feijoada para os famintos que saíam das festas de madrugada e iam “recarregar as baterias”. Havia também os curiosos que sabiam que ali a feijoada dava sempre um bom caldo. Lá, Dona Ana colecionou histórias engraçadas. É às gargalhadas que ela relembra alguns episódios no então restaurante movido a gasolina.

Ela conta que os namorados adoravam pregar peça nas parceiras. Mandavam as namoradas se arrumarem e diziam que era “porque iriam comer aquela feijoada no Quatro Rodas! Aí as meninas pensavam que eles estavam se referindo ao restaurante, localizado no Hotel Quatro Rodas, que ficava no bairro de Itapuã. Elas se arrumavam, iam para o salão e tudo. E quando os namorados chegavam, que paravam o carro lá, surpresas, reclamavam: ‘Poxa, fulano, é aqui, é?’ Eles então diziam: ‘Moça, como é nome daqui?’ ‘Kombi Quatro Rodas’, eu falava”. Dona Ana conta, rindo muito, enquanto relembra a história.

Atualmente, o restaurante Kombi 4 Rodas funciona em um espaço no bairro de Amaralina
Atualmente, o restaurante Kombi 4 Rodas funciona em um espaço no bairro de Amaralina | Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE

O Restaurante Kombi 4 Rodas atualmente funciona em um espaço, num estabelecimento no bairro de Amaralina, onde o feijão continua muito cobiçado. Dona Ana diz que preza pela qualidade dos ingredientes.

“O jeito da minha feijoada não é diferente das demais. Compro tudo de qualidade, pois eu gosto das minhas coisas tudo de qualidade. Agora, o toque do tempero eu não vou botar para que todo o mundo saiba o meu segredo. Cada qual com sua mão cheia”, conta com seu jeito de falar e ao mesmo tempo de rir.

É com a receita de Tatynha que vamos ensinar como se faz uma boa feijoada!

  • A feijoada "desde cedo ganhou o privilégio entre as camadas mais populares" , diz Vilson Caetano
    A feijoada "desde cedo ganhou o privilégio entre as camadas mais populares" , diz Vilson Caetano |
  • O feijão é uma das iguarias mais apreciadas pelos brasileiros
    O feijão é uma das iguarias mais apreciadas pelos brasileiros |

Feijoada da Tatynha

INGREDIENTES

2kg de feijão

500g de carne de sertão

500g de salpresa

300g de toucinho branco

200g de osso salgado

200g de osso defumado

200g de bacon

200g de orelha de porco

3 linguiças calabrezas

200g de pé de porco defumado

1kg de fato misto

1kg de carne de boi (capote ou músculo)

Osso de panela

MODO DE PREPARO

]Ponha as carnes salgadas na água e vá trocando em duas e duas horas. Quando estiverem vermelhas estão prontas.

Enquanto isso deixe as outras carnes no tempero, pilado. Num pilão, junte cheiro-verde à vontade, duas cebolas, dois tomates, um pomentão e uma cabeça de alho e moa até formar uma pasta.

Ponha primeiro no fogo as carnes frescas com o tempero. Em seguida, acrescente os ossos e por fim as demais carnes salgadas. Deixe cozinhar sempre acrescentando um pouco de água. Quando as carnes estiverem pré-cozidas, coloque o feijão e deixe cozinhar até chegar no ponto.

NOTAS HISTÓRIAS & SABORES

CARTÃO POSTAL DE SALVADOR RECEBE O CAFÉ E BISTRÔ MIRANTE FAROL DA BARRA

Inaugurado essa semana, o café e bar bistrô Mirante Farol da Barra funciona no interior de um dos mais belos cartões postais de Salvador: No Forte Santo Antônio da Barra. O local funciona como um ponto de encontro para baianos e turistas e apresenta pratos autorais da culinária contemporânea e criativa assinados pelo Chef Léo Grimaldi, além de carta de drinks pelo mixologista Júnior Queiroz. Aos sábados e domingos o café promete realizar os Momentos Acústicos. O Café do Mirante Farol da Barra funciona de segunda à segunda, das 9 às 17h30, com atendimento voltado para turistas, e visitantes do Museu.

COMIDA SABOROSA E SAUDÁVEL COM SERVIÇO DELIVERY NO PRATELEIRA SHOP

O chef Dan Spinelli, criador do Prateleira Shop desde 2020, acaba de chegar em Salvador com o serviço de delivery das suas refeições congeladas para quem não abre mão de comer bem e de forma saudável. No menu estão disponíveis opções como as Lasanhas de Abobrinha, Frango e Tomate com Manjericão, Moquecas e Ensopados de Peixe, dentre outros itens saudáveis. A entrega é delivery e para fazer o pedido o cliente deve acessar www.parteirashop.com.br, onde pode conferir o menu completo. Os pedidos devem ser feitos semanalmente até quarta-feira e a entrega é feita toda sexta-feira.

UMBU: DA BAHIA PARA O ESTRANGEIRO ULTRAPASSANDO FRONTEIRAS

Neste mês de janeiro e de verão na Bahia a safra do umbu promete espalhar os produtos deste fruto originário da Caatinga pelas mesas de baianos, de outros estados e também para a Alemanha. Na Bahia, a produção é resultado de um extrativismo sustentável, que proporciona renda para milhares de famílias. Um dos casos de sucesso relacionados à ‘Árvore Sagrada do Sertão’, como é conhecida, é o da Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá (Coopercuc). A cooperativa está levando o produto até para a Alemanha. Em 2021 a entidade fatourou R$1,5 milhão. Através dos investimentos do Governo da Bahia foi possível, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), o beneficiamento de frutas para as cooperativas e associações da agricultura familiar.

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