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Histórias & Sabores

Por Isabel Oliveira

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 20 de novembro de 2021 às 7:00 h • Atualizada em 23/11/2021 às 16:54 | Autor:

Todo dia é dia de reverenciar as donas da Bahia: as baianas do acarajé

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Imagem ilustrativa da imagem Todo dia é dia de reverenciar as donas da Bahia: as baianas do acarajé
| Foto: Adilton Venegeroles / Ag. A Tarde
O acarajé está na memória culinária dos baianos

Adilton Venegeroles / Ag. A Tarde

Cira, Laura, Regina, Chica, Daria, Lúcia, Elaine, Dami. Guerreiras. Elas estão em toda parte, ocupando praticamente o espaço de cada esquina da Bahia, vendendo uma das iguarias mais cobiçadas no estado. Geralmente vestidas de branco, com suas inúmeras correntes de contas coloridas, sempre mexendo um dos muitos produtos do tabuleiro, que vão muito além do ganha-pão. As baianas de acarajé estão, certamente, na memória culinária de “meio mundo”, como se diz por aqui.

Quem nasce na Bahia cresce com o aroma inconfundível do acarajé fritando no azeite de dendê e exalando o cheiro por quilômetros. O que não falta é ponto de venda para o bolinho mais querido e cobiçado desta terra. E haja tentação por cantos e becos, ruas e avenidas. Atire a primeira pedra quem nunca sentiu a boca “aguar”, seguiu o aroma e não resistiu a um dos quitutes mais gostosos do tabuleiro da baiana.

Esse viver baiano, que geralmente começa por volta das 16h, quando as baianas dão início ao ritual da tentação, faz parte do cotidiano de muita gente. Assim é na vida do arquiteto e historiador Francisco Senna. Ele faz questão de enfatizar como o cheiro corre em suas veias ao lembrar do melhor quitute da Bahia, cuja paixão teve início logo na infância e até hoje é celebrada em vários episódios que ficaram marcados em grandes momentos da vida.

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| Foto: Raphael Müller/ Ag. A Tarde
Quem nasce na Bahia cresce com o aroma inconfundível do acarajé fritando

Raphael Müller/ Ag. A Tarde

“Uma grande memória afetiva que tenho, que perdura dentro de mim, é a memória do acarajé. O cheiro que exala, o perfume que exala do acarajé fritando, o sabor que o acarajé tem. Estudei num colégio que tinha no pátio uma baiana de acarajé. Eu praticamente quase nunca fazia minha merenda na cantina da escola. Minha merenda era no tabuleiro da baiana. Com acarajé, com abará, com bolinho de estudante, mas principalmente o acarajé, a tal ponto que eu fiquei tão amigo da baiana que quando ela fazia o caruru em casa o único aluno da escola que ela convidava para participar com a família era eu, de tal intimidade que tinha com ela”, conta com muito carinho.

Reverenciada em praticamente cada esquina do estado e capital baiana como um dos maiores símbolos da Bahia, a baiana de acarajé dá vida ao bolinho de feijão crocante, descrito em muitas histórias e músicas, projetando a iguaria no mundo todo. Não só ele, mas muitos outros acepipes do tabuleiro, como o abará, a cocada, o bolinho de estudante, a passarinha, que faz jus à música No Tabuleiro da Baiana, de Ary Barroso.

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| Foto: Raphael Müller/ Ag. A Tarde
Damiana Conceição aprendeu o ofício de baiana desde muito pequenina

Raphael Müller/ Ag. A Tarde

Damiana Alves Conceição, 53, é baiana desde que se entende por gente. A mãe, as tias, todas sempre trabalharam com o tabuleiro e ela ajudava desde muito pequenina. A baiana bem que tentou se dedicar a outro ramo, mas a tradição e o amor pelo acarajé falaram mais alto. Ela montou seu próprio ponto em 2000, em Lauro de Freitas, e desde aquela época é só gratidão com a escolha que foi feita com o coração.

“Quando chego aqui, é minha realização. Posso estar cansada, destruída e com problemas, mas quando chego e começo bater minha massa, fritar meu acarajé, chega um cliente, come e diz: ‘Ai, Dami, que delícia!’ Não aguento com este cheiro”. Tudo isso é que tem me ajudado esses anos todos. Vejo minha filha quase formada em direito, aos 25. São minhas realizações, são coisas maravilhosas, coisas que ninguém vai tirar de mim. Para mim é maravilhoso”, conta orgulhosa.

A lendária figura com sua indumentária inconfundível andou pelas ruas do Brasil Colônia com seu tabuleiro na cabeça, mas ao longo da história a venda da iguaria passou a ser feita em pontos fixos de muitas ruas da cidade.

Um desses pontos está localizado, hoje, no festejado bairro do Rio Vermelho há exatos 77 anos: o ponto do Acarajé da Dinha, que pertenceu à avó dela, passou para a mãe, e agora pertence aos filhos, tios e sobrinhos.

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| Foto: Foto: acervo da família
Lindinalva Assis, Dinha do acarajé

Foto: acervo da família

A voz meiga, semblante tímido e um largo sorriso no rosto foram a marca registrada da baiana Lindinalva Assis, ou Dinha do Acarajé. Mas há uma característica muito mais lembrada pela filha Elaine Assis, 40, baiana que sucedeu a mãe no tabuleiro: guerreira determinada.

“Minha mãe sempre foi muito à frente do tempo dela. Procuro ter ela como exemplo de garra e profissionalismo porque, mesmo diante das adversidades, dos obstáculos, problemas de saúde, ela nunca deixou de estar com um sorriso no rosto à frente do tabuleiro. Um exemplo de garra, força e perseverança”, lembra, saudosa.

Filha caçula de Dinha, Elaine viu a avó e a mãe trabalhando como vendedoras de acarajé desde muito pequena. E, como os outros integrantes da família, também começou a trabalhar muito cedo, aos 12, aprendendo todo o processo de fazer o bolinho famoso, até que um dia teve que suceder a irmã mais velha, Cláudia, depois que ela faleceu.

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| Foto: Uendel Galter
Filha caçula de Dinha, Elaine Assis comemora o Dia da Baiana do Acarajé

Uendel Galter/ Ag. A Tarde

Nascida nos anos 1980, quando havia toda uma política estadual para que a baiana de acarajé e seus símbolos se tornassem referências para o fomento turístico, Elaine comemora muitas conquistas: a regulamentação da profissão, o reconhecimento como Patrimônio Imaterial da Bahia e, principalmente, a criação do Dia da Baiana do Acarajé. Ela sente-se honrada em pertencer ao seguimento, posto conquistado ao longo da vida.

À frente do reconhecido empreendimento que ajuda a manter, a jovem baiana tem muitas lembranças e histórias para contar. Desde artistas camuflados para não serem reconhecidos quando vão comprar a iguaria até turistas que chegam sem entender como é o famoso bolinho e a quem ela faz questão de explicar.

Um dos episódios mais engraçados, dentre tantos, deu-se com um gaúcho, que acreditava ser o acarajé um hambúrguer, cujo recheio era de carne.

“Ele chegou pedindo um hambúrguer baiano, que sabia ser bem conhecido, que era diferente. Então pediu ketchup, maionese e perguntou como seria frita a carne, se seria bovina. Era um dia em que o ponto de acarajé, no Rio Vermelho, estava bem cheio e teve plateia para muita gargalhada. Tive que explicar que era bolinho de feijão fradinho e quais eram os acompanhamentos, que tinha vatapá, salada, camarão e pimenta. Ele ficou muito sem graça, mas comeu e repetiu”, conta.

Produto referência nos tabuleiros, o bolinho de acarajé sofreu algumas modificações ao longo da história. Antes servido sem qualquer recheio, passou a ser aberto e servido com pimenta. Longos anos depois, foi servido com vatapá e salada. Conta Elaine que em certo momento Salvador passou por uma crise de camarão e as baianas incrementaram com outro ingrediente. “Houve uma crise de camarão no mercado e as baianas resolveram colocar caruru para dar uma incrementada”, explica. “Mas no meu tabuleiro o acarajé é servido de forma mais tradicional, com vatapá, salada, pimenta e camarão, assim como me ensinaram minha avó e minha mãe”, conta.

Para homenagear essas mulheres guerreiras, donas da Bahia, e comemorar o Dia da Baiana do Acarajé, neste 25/11, Elaine vai nos ensinar a receita do bolinho mais querido e vendido em todo o estado.

QUANTIDADE PARA QUEM VAI FAZER 30 BOLINHOS DE 50GR, CADA

1/2 kg de feijão fradinho

3 cebolas grandes

Sal a gosto

2l de azeite

Em uma bacia grande, coloque o feijão e lave várias vezes até sair toda a casca. Deixe de molho por 3h e bata tudo no liquidificador até formar uma pasta.

Na hora de fritar, bater novamente com uma colher de pau. Deixa esquentar o dendê e com a colher de pau modele os bolinhos e frite-os no dendê.

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| Foto: Uendel Galter/ Ag. A Tarde
Referência nos tabuleiros, o acarajé sofreu algumas modificações ao longo da história

Uendel Galter/ Ag. A Tarde

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