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COLUNA

Kátia Najara

Por .

ACERVO DA COLUNA
Publicado quinta-feira, 24 de setembro de 2015 às 16:16 h | Autor: .

Cozinhar é um ato revolucionário

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Em seu fundamental Em Defesa da Comida - Um Manifesto (2008), o jornalista americano Michael Pollan aconselha logo na contracapa:

"1. Não coma nada que sua avó não reconheceria como comida.
2. Evite comidas contendo ingredientes cujos nomes você não possa pronunciar.
3. Não coma nada que não possa um dia apodrecer.
4. Evite produtos alimentícios que aleguem vantagens para a sua saúde.
5. Dispense os corredores centrais dos supermercados e prefira comprar nas prateleiras periféricas.
6. Melhor ainda, compre comida em outros lugares, como feiras livres ou mercados hortifrútis.
7. Pague mais, coma menos.
8. Coma uma variedade maior de alimentos.
9. Prefira produtos provenientes de animais que pastam.
10. Cozinhe e, se puder, plante alguns ítens de seu cardápio.
11. Prepare suas refeições e coma somente à mesa.
12. Coma com ponderação, acompanhado, se possível, e sempre com prazer."

E sintetiza de forma simples quanta força política e revolucionária há no ato de cozinhar e comer. Pena que a humanidade ainda não sacou. E é justamente por isso que o Poder deu logo um jeito de nos controlar pelas bocas num monumental conluio entre o Estado, manipulado pela indústria e marketing da alimentação, balizado por uma ciência falha e contraditória, oportunamente criada, chamada Nutrição, e por que não também, a indústria farmacêutica. A liberdade de escolhermos comer sem orientação profissional de especialistas não é nada lucrativo para nenhum deles.

"A maneira de comer é um dos meios mais poderosos que um povo tem de expressar e preservar a sua identidade cultural... tornar as opções alimentares mais científicas é esvaziá-las de seu conteúdo étnico e de sua história", berra Pollan.

Minha gordurinha de porco

Com o advento da Era da Nutrição, deixamos de comer comida para comermos nutrientes e produtos alimentícios sob o pretexto de uma vida mais saudável e equilibrada. Curiosamente, algumas das principais causas de morte na atualidade são doenças ligadas à dieta, como as coronarianas, diabetes, AVC e câncer.

E foi assim que desde os anos 1980, nas prateleiras centrais dos supermercados, passaram a surgir termos científicos como colesterol, gordura trans, fibra, ácidos graxos e ômega-3 nos rótulos de imitações de alimentos. Hipóteses lipídicas (substituindo gorduras moderadamente prejudiciais por letais); lipofobia (estimulando o consumo de carbo e criando populações de obesos); dietas "prudentes" e guerra entre proteínas, carboidratos e gorduras, foram nos distanciando cada vez mais da comida. A ciência criou modas e fobias diárias, um bando de obsessivos por alimentação saudável (chamados, sem saber, de ortoréxicos), e ei-nos aqui na era da engenharia genética, tacando ômega-3 de peixinho em carne de boi, e comendo transgênicos, burros e manipuláveis que somos. Depois vimos, cheios de chorumelas, reclamar do leite (Zero) derramado.

Faça hoje mesmo

Por tudo isso, coleguinha, e por estar com a faca e o queijo (Canastra) na mão, por que não começar agora mesmo a sua pequena revolução, seguindo os conselhos de Pollan, hã?

Uma dica: comece seu grito de independência pelos supermercados, templos dessas ações maniqueístas que ganham dinheiro às custas da nossa saúde e ignorância. Eles querem mais é que a gente morra do coração, contanto que enchamos os buchos de "nutrientes" a preços promocionais. E ainda assim, lá estamos todos os dias, sob goteiras, enfiando os dedos em tomates podres e cheios de agrotóxicos a R$ 6 o quilo, deixando as nossas vidas passarem em filas intermináveis, enquanto os pequenos agricultores nos esperam cheios de amor para dar nas feiras livres e meios de ruas com seus lindos e sinceros tomates italianos a R$ 2 o quilo.

É muita coisa envolvida, tanta que não cabe nos meus 3.837 caracteres de hoje, portanto, vamos encerrar com a dancinha do manifesto: uma mãozinha na cintura e outra na consciência.

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