Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > colunistas > KÁTIA NAJARA
COLUNA

Kátia Najara

Por Kátia Najara

ACERVO DA COLUNA
Publicado quinta-feira, 02 de julho de 2015 às 8:15 h | Autor: Kátia Najara

Psycho Kitchen

Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email
Katia Najara
Katia Najara -

Se tem um lugar onde as pessoas se mostram exatamente como são, este lugar é a cozinha profissional. E é justamente por isso que as relações interpessoais são tão delicadas neste ambiente. É todo mundo nu, sob forte pressão e alta temperatura.

Por tudo isso não é nada fácil liderar uma cozinha, ou melhor, pessoas numa cozinha. E se este ambiente é um dos lugares onde sou mais feliz, por diversas vezes já pensei em sair correndo dali para nunca mais.

Tudo sobre Kátia Najara em primeira mão!
Entre no canal do WhatsApp.

Melindre mode on

Tudo lindo, até que um chef peça para o seu subchef para refazer o corte do legume que está fora do padrão esperado; ou que este mesmo subchef chame a atenção do aboyer para a borda do prato suja de molho à caminho da mesa do cliente, e o talher poderá ser lançado à pia com um pouco mais de força, um pequeno músculo de descontentamento se contrairá numa face antes risonha, o tempo se fecha na cozinha, magoou.

É tanto melindre, que o povo até esquece que está cozinhando.

Sempre tive muita dificuldade para lidar com essas variações de humor na cozinha e às vezes sofro um pouco por uma culpa que não deveria sentir ao cumprir a minha obrigação. Me pego avaliando e reavaliando o tom, as circunstâncias e tenho que me conformar com o fato de que, infelizmente, não dá para ser sempre fofinha como eu gostaria o tempo todo, e sigo forte procurando entender melhor estes níveis de relação no meu ambiente de trabalho.

Uma pitada de psicanálise

Até que há alguns dias eu li um artigo interessantíssimo sobre a compreensão dos mecanismos de defesa que todos nós criamos para nos proteger de nossos próprios bichos-papões de infância (quem não?) pela psicanálise, e não pude evitar trazê-las para a cozinha.

Que fique claro, não tenho competência alguma para falar sobre qualquer aspecto da psicanálise, o que seria absolutamente leviano da minha parte, e faltaria com o respeito aos profissionais da área que dedicam especial atenção e cuidado à proteção de certas classificações, sob pena de sucumbirem a interpretações equivocadas que possam vir parar em nossas testas como rótulos incontestáveis.

Imagine a confusão que as pessoas podem fazer ao ouvirem um recorte irresponsável da coisa nos classificando em nossas estratégias de defesa como esquizoides, psicopatas, masoquistas, rígidos ou orais, uma vez que a nossa parca compreensão do significado destes termos nos levam imediatamente a conceitos bem mais graves.

Então podem parar, antes de começarem a enxergar cozinheiros masoquistas cortando o dedo por prazer, ou psicopatas ensanguentados esfaqueando galinhas, que não é nada disso, okay?

No mesmo caldeirão

O fato é que à medida em que eu fui lendo sobre cada uma dessas "classificações", identifiquei imediatamente a minha estratégia de defesa na cozinha, e quase sem querer, comecei a enxergar todas as pessoas com as quais já trabalhei na cozinha, através das suas.

Vi chefs durões que provavelmente foram tão exigidos, que não podem falhar jamais (rígidos); vi cozinheiros centralizadores e controladores contumazes, que por terem sido muito manipulados não confiam em ninguém (psicopatas); vi chefs incapazes de empreenderem os seus próprios negócios apesar de excelentes realizadores, porque só sabem servir aos outros (masoquistas); vi pratos absolutamente incríveis que ninguém jamais experimentará pois aprisionados no isolamento de cabeças tímidas (esquizos); vi colegas que enchem o saco reclamando tanto que queimam o arroz todo santo dia, porque talvez não tenham sido atendidos em suas necessidades básicas (os orais).

Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.

Participe também do nosso canal no WhatsApp.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Assine a newsletter e receba conteúdos da coluna O Carrasco