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Kátia Najara

Por Kátia Najara

ACERVO DA COLUNA
Publicado quinta-feira, 02 de julho de 2015 às 8:15 h | Autor: Kátia Najara

Psycho Kitchen

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Katia Najara
Katia Najara -

Se tem um lugar onde as pessoas se mostram exatamente como são, este lugar é a cozinha profissional. E é justamente por isso que as relações interpessoais são tão delicadas neste ambiente. É todo mundo nu, sob forte pressão e alta temperatura.

Por tudo isso não é nada fácil liderar uma cozinha, ou melhor, pessoas numa cozinha. E se este ambiente é um dos lugares onde sou mais feliz, por diversas vezes já pensei em sair correndo dali para nunca mais.

Melindre mode on

Tudo lindo, até que um chef peça para o seu subchef para refazer o corte do legume que está fora do padrão esperado; ou que este mesmo subchef chame a atenção do aboyer para a borda do prato suja de molho à caminho da mesa do cliente, e o talher poderá ser lançado à pia com um pouco mais de força, um pequeno músculo de descontentamento se contrairá numa face antes risonha, o tempo se fecha na cozinha, magoou.

É tanto melindre, que o povo até esquece que está cozinhando.

Sempre tive muita dificuldade para lidar com essas variações de humor na cozinha e às vezes sofro um pouco por uma culpa que não deveria sentir ao cumprir a minha obrigação. Me pego avaliando e reavaliando o tom, as circunstâncias e tenho que me conformar com o fato de que, infelizmente, não dá para ser sempre fofinha como eu gostaria o tempo todo, e sigo forte procurando entender melhor estes níveis de relação no meu ambiente de trabalho.

Uma pitada de psicanálise

Até que há alguns dias eu li um artigo interessantíssimo sobre a compreensão dos mecanismos de defesa que todos nós criamos para nos proteger de nossos próprios bichos-papões de infância (quem não?) pela psicanálise, e não pude evitar trazê-las para a cozinha.

Que fique claro, não tenho competência alguma para falar sobre qualquer aspecto da psicanálise, o que seria absolutamente leviano da minha parte, e faltaria com o respeito aos profissionais da área que dedicam especial atenção e cuidado à proteção de certas classificações, sob pena de sucumbirem a interpretações equivocadas que possam vir parar em nossas testas como rótulos incontestáveis.

Imagine a confusão que as pessoas podem fazer ao ouvirem um recorte irresponsável da coisa nos classificando em nossas estratégias de defesa como esquizoides, psicopatas, masoquistas, rígidos ou orais, uma vez que a nossa parca compreensão do significado destes termos nos levam imediatamente a conceitos bem mais graves.

Então podem parar, antes de começarem a enxergar cozinheiros masoquistas cortando o dedo por prazer, ou psicopatas ensanguentados esfaqueando galinhas, que não é nada disso, okay?

No mesmo caldeirão

O fato é que à medida em que eu fui lendo sobre cada uma dessas "classificações", identifiquei imediatamente a minha estratégia de defesa na cozinha, e quase sem querer, comecei a enxergar todas as pessoas com as quais já trabalhei na cozinha, através das suas.

Vi chefs durões que provavelmente foram tão exigidos, que não podem falhar jamais (rígidos); vi cozinheiros centralizadores e controladores contumazes, que por terem sido muito manipulados não confiam em ninguém (psicopatas); vi chefs incapazes de empreenderem os seus próprios negócios apesar de excelentes realizadores, porque só sabem servir aos outros (masoquistas); vi pratos absolutamente incríveis que ninguém jamais experimentará pois aprisionados no isolamento de cabeças tímidas (esquizos); vi colegas que enchem o saco reclamando tanto que queimam o arroz todo santo dia, porque talvez não tenham sido atendidos em suas necessidades básicas (os orais).

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