À frente dos Brics, Cardeal da Silva cria sua moeda própria, a Mineral
Confira a coluna de Levi Vasconcelos deste domingo, 13

Vendo que os parcos recursos gerados em Cardeal da Silva, pequeno município com 8,3 mil habitantes do norte litorâneo baiano, Branco Sales (PP), prefeito lá, já no segundo mandato, inspirou-se num exemplo de Indiaroba, Sergipe, e criou uma moeda municipal, a Mineral, homenagem à água mineral, relíquia do lugar.
Um Mineral vale um Real. E é tudo digital, gerido pelo Banco Social, que é municipal, cobrando 2% do dinheiro circulante, 1% para a manutenção do banco, 1% para investimentos em ações sociais.
Ele agregou no projeto todos os programas sociais do governo e se o servidor municipal quiser antecipar até 30% do salário pode, desde que seja em Mineral, que é viabilizado por meio de um cartão digital.
TRUMP – O conjunto possibilita que o povo vá à manicure, compre remédio, comida e até mesmo deguste um cachorro quente, tudo na própria cidade.
Tem pouco mais de 30 dias que Branco inaugurou a moeda. A pergunta: colou?
– De início as pessoas olharam com certa desconfiança, mas está embalando. Já temos 78 comerciantes cadastrados.
Ele agora está disponibilizando R$ 150 mil de linha de crédito para produtores da agricultura familiar e quem paga em dia, vai gastar o mesmo dinheiro que pegou.
E se Trump, o presidente dos EUA que não quer concorrência para o dólar, vir isso?
– Somos pequenos demais para ele enxergar.
Pode ser, mas é bom não descuidar. Quem sabe, Trump resolve cortar o mal pela raiz?
O cacau vai bem
Ano passado o Brasil exportou US$ 434 milhões de cacau, ou de R$ 2,6 bilhões, mais que o dobro de 2023. A alta não foi na produção e sim no preço, com o ataque de pragas em Costa do Marfim, na África, o maior produtor mundial. Este ano, quando tudo fluía bem, entrou em cena cá a ameaça de uma nova praga, a política, chamada Donald Trump.
Pergunta a Vanuza Barroso, presidente da Associação Nacional dos Produtores de Cacau (ANPC): até que ponto vale a ameaça de Trump de taxar produtos brasileiros em 50% se os EUA é um dos grandes mercados para a exportação?
– Nem sabemos se essa loucura vai valer mesmo. Se sim, logicamente teremos uma retração no consumo.
MONILÍASE – Diz Vanuza que o bom preço do cacau está acompanhado de outra grande preocupação, a monilíase, uma praga que já entrou no Brasil, na região norte, mas na Bahia, não.
– Se essa praga chegar à Bahia, onde se planta cacau no modelo cabruca, será um horror, acaba. E o pior é que não temos segurança. A Ceplac está abandonada. É uma burrice, mas está aí.
Justo agora, em que o cacau entra em nova fase, com o plantio irrigado, no oeste.
Política com Vatapá
Zé Garapa
Otto Alencar (PSD), o senador, conhecedor profundo da alma sertaneja, ainda mais da região de Rui Barbosa, sua terra, é quem nos conta essa.
Antigamente, casar com mulher não virgem era suprema ofensa. Anos 80, José Menezes Fagundes, de Lajedinho, região de Itaberaba, viveu dias amargos por conta disso.
"Já casou melado", diziam, arranjaram-lhe o apelido de Zé Garapa, e ele virava uma arara.
Morador da roça, andava com um facão na cintura e ai de quem falasse em Garapa. Pirou quando se elegeu vereador. Os adversários caíam matando, quase sai morte.
Contam em Lajedinho que lá um dia ele chegou à cidade montando a cavalo. Vinha para a sessão da Câmara, alguém gritou:
— Água!
Outro emendou:
— Açúcar!
Zé pulou do cavalo e brandiu o facão:
— Misturem, seus filhos da puta! Se vocês são homens, misturem! Misturem para ver se eu não mando um para o inferno hoje!