Centro Histórico de Salvador, ilhas de beleza pura e abandono pleno
Confira a coluna de Levi Vasconcelos
Quem está no Centro Histórico de Salvador agora no fim do ano vê que Natal e Ano Novo formam no trecho uma parceria encantadora. O festival de cores entre o Terreiro de Jesus, o Largo de São Francisco e a Praça da Sé é tão exuberante quanto encantador. Mas a banda bela integra algumas ‘ilhas’ no conjunto que pede socorro.
Quem traça a moldura do cenário é Clarindo Silva, 82 anos de idade ‘e pouco mais de 200 dias’, ressalva do próprio. Ele lembra que dia 3 último fez 39 anos que o Centro Histórico de Salvador foi reconhecido como Patrimônio Histórico da Humanidade, pela Unesco. Mas ainda não foi olhado como merece.
– As ilhas de beleza são importantes para manter a nossa estampa viva. Mas há vários espaços abandonados, como a Ladeira da Montanha, a Soledade, e a Baixa dos Sapateiros nem se fala. Do tombamento para cá fizeram alguma coisa, mas muito pouco.
A carta –É nessa pegada que Clarindo elaborou a Carta do Centro Histórico de Salvador e está coletando assinaturas, já tendo no caderno personalidade notáveis da vida baiana, como Paulo Ormindo, arquiteto, professor e escritor, a jornalista Amália Casal, ligada à ABI e apaixonada pela causa, o também arquiteto, escritor e professor Lourenço Mueller, e Joaci Góes, presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.
– Vamos botar todo mundo na causa. Vamos chamar Caetano Veloso, Gilberto Gil, Carlinhos Brown, Ivete Sangalo e outros para soltar o brado, envolvendo os governos federal e estadual e a prefeitura de Salvador. O caso não é de partido. É da humanidade.
Diz Clarindo que no Centro Histórico há mais de mil imóveis abandonados, muitos com plantas no teto como se estivessem fazendo uma mata suspensa, outros só com as fachadas.
– Eles poderiam ser habitados, no térreo casa comercial, em cima moradia.
Diz Clarindo que toda grande empresa gostaria de se associar a um projeto desses.
Ruy Barbosa –Entre os abandonados, ou esquecidos, está a Casa de Ruy Barbosa, onde o famoso jurista viveu bom tempo, hoje também museu, mas fechado.
Segundo Ernesto Marques, presidente da Associação Bahiana de Imprensa (ABI), que fica na Praça da Sé e toma conta do monumento, a casa está abandonada, assim como o Edifício Ranulfo Oliveira, onde fica a entidade.
– Há nove anos temos tentado nos entender com a Prefeitura de Salvador.
Ou seja, que os santos ouçam Clarindo Silva na pretensão de unir todos em favor do Centro Histórico. É um sonho possível, mas na base do um dia talvez, quem sabe?
Colaborou: Marcos Vinicius