Itapuã, onde a baleia saiu da morte matada para virar festa de amor
Confira a coluna de Levi Vasconcelos

Aos 76 anos, a jornalista Heloísa Gerbasi Sampaio, a Helô, vai virar majestade. Ela será a rainha da Baleia Rosa do Amor, que vai desfilar na próxima quinta pelo 38º ano consecutivo na Lavagem de Itapuã.
– É uma honra. Sinto-me maravilhosamente feliz.
E é para sentir-se honrada mesmo. A Baleia Rosa do Amor celebra a virada do tempo em que a caça às baleias foi proibida e por ela, em nome da mesma causa, já desfilaram arautos da cultura baiana, como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Luiz Caldas e por aí.
Cristiano Loureiro, o piloto da festa, conta que em 1986 a Comissão Baleeira Internacional decretou a moratória internacional. Estava proibida a caça às baleias. Em 1987 José Sarney, o presidente do Brasil, carimbou. Festa para os ambientalistas.
origem –A alegria reverberou em Itapuã, histórico palco de muitas matanças de baleias. Wally Salomão, o poeta, e João Loureiro, auditor fiscal e agitador cultural, idealizaram a festa, que teve como coordenadora Gessy Gesse, esposa do poeta Vinicius de Moraes, ambos moradores do bairro.
O design da primeira baleia veio de Rogério Duarte, que era designer do tropicalismo, com capas dos discos de Gil, Caetano e do filme Deus e o Diabo na Terra do Sol, de Glauber, segundo Cristiano, um start de primeira.
Cristiano, que herdou do pai João Loureiro o DNA cultural e em nome disso toca a festa, conta que em 1988 Itapuã realizou o maior Carnaval de todos os tempos lá, com Gilberto Gil e Antonio Risério, o poeta.
– Tivemos um grande momento em 2020, quando integramos a Viradouro, campeã do Carnaval Carioca. Todos os anos mais de 20 mil baleias visitam Itapuã. Chegam e saem em paz. É bem melhor assim.
Colaborou: Marcos Vinicius
POLÍTICA COM VATAPÁ
Tiro quase certo
Prefeito de Maragogipe, uma das pérolas do Recôncavo baiano, entre 1983 a 1987, Bartolomeu de Atayde Teixeira voltou ao mandato entre 1997 e 2000, mas dessa vez não ia bem na administração. Além do povo não ver resultados, era bombardeado por uma série de denúncias (que no final resultou em 23 processos).
Foi nesse clima que Otoniel Saraiva, deputado estadual do PSDB de Fernando Henrique Cardoso, o presidente da República, desembarcou lá e instigado por aliados, todos opositores de Bartolomeu, baixou o porrete firme e forte:
– Esse prefeito é um moleque. Trata o dinheiro público como se fosse dele!
Repercussão intensa, meses depois anunciou-se uma nova visita de Otoniel. O filho de Bartolomeu resolveu recepcioná-lo com pompas, para dar um tapa sem mão, encomendou fogos de artifício para soltar.
Otoniel desembarcou, estava abraçando amigos, os fogos pipocaram no ar, alguém gritou:
– Corre deputado, que é tiro!
Foi um corre geral, até esclarecer, um baita susto.