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Levi Vasconcelos

Por Levi Vasconcelos

ACERVO DA COLUNA
Publicado domingo, 19 de março de 2023 às 7:00 h | Autor:

Maracangalha, uma história de poesia e dor no Recôncavo

Quem foi para Maracangalha? A pergunta aí é o título do livro de Tatiane Florentino Santana

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Na entrada de Maracangalha, as ruínas da Usina Cinco Rios, a ponta da história
Na entrada de Maracangalha, as ruínas da Usina Cinco Rios, a ponta da história -

Quem foi para Maracangalha? A pergunta aí é o título do livro de Tatiane Florentino Santana, ligada à Universidade da Lusofonia, integrante do Grupo de Pesquisa Recôncavo no Mundo Atlântico. Ela mergulha nos primórdios da história do lugar, e ficaria feliz se ouvisse a resposta de Vanessa Fontes, presidente da Associação dos Moradores e Amigos de Maracangalha.

— Muita gente vem aqui. Os últimos visitantes distintos que tivemos foi o pessoal do Casseta & Planeta, no fim do ano passado. Mas só temos mesmo as boas lembranças da poesia. Aqui só moram idosos, mulheres e crianças. Os jovens não têm onde trabalhar, se mandam.

Dorival —Mas quem mora lá e não arreda o pé é a mística que Dorival Caymmi, hoje nome da praça principal, com o formato de um violão, botou no lugar ao compor a música Maracangalha, que diz: Eu vou pra Maracangalha, eu vou/ Eu vou convidar Anália, eu vou...

Diz Vanessa que um dos bons frutos do embalo dessa pegada é a Filarmônica Lira de Maracangalha, obra do Maestro Fred Dantas que até hoje rende frutos, como o jovem Claylton Gabriel 24 anos, que toca flauta, pandeiro e saxofone:

— A música alegra a vida, e alegra também a minha vida.

Maldição —Na história de Maracangalha três episódios são marcantes, a Usina Cinco Rios, que oferecia aos trabalhadores moradia gratuita, sem pagar água e nem luz, o que deu origem ao lugar, a música de Dorival, que botou a poesia, e o avião que caiu lá em 2007, trazendo o inferno.

Terça passada completou-se 16 anos da queda do avião, que transportava R$ 5,6 milhões de bancos. O paraíso virou um inferno. Bandidos, e até policiais de todos os cantos invadiam casas, cortavam colchões, quebravam fogões, atiraram no joelho de um, mataram outro, todos atrás de dinheiro.

Vanessa diz que hoje já não se fala tanto nisso, mas Antonio Bôsco, que herdou do pai o Armazém Brasileiro, uma tradição dos velhos tempos, diz que foi gerado lá, nasceu em Salvador e voltou para lá.

— É para esquecer.

Acha bem melhor os paredões que se formam no povoado aos domingos.

— Paredão aqui é alegria. Terror é o medo de avião.

De avião cair lá. Ressalte-se.

POLÍTICA COM VATAPÁ

Toque zero

Hamilton Celestino, o Tito, bom e amigo, integrante do velho Partido Comunista Brasileiro, o Partidão, nos tempos da Guerra Fria, contava que em dezembro de 1968, quando a ditadura baixou o AI-5, esquerdistas de modo geral não viram muita saída a não ser o exílio. No time dos baianos que seguiu para a Rússia, Gregório, um velho comunista de Simões Filho, idoso, mais de 60 anos.

Chegada em Moscou, a ordem: todos teriam que fazer um tratamento contra doenças venéreas, mesmo quem nunca teve. Entre os procedimentos, o exame de toque, na próstata. O velho Gregório pinotou:

— Comigo, não! Aqui é só saída, entrada zero!

Os médicos pediram que ele entendesse, era um procedimento científico:

— Também espero que vocês entendam. Já sou avô e não vou me prestar a isso. Prefiro os porões da ditadura!

O caso foi ao Politiburo, o alto comando dos soviéticos. Solução: ele assinar um documento se comprometendo a não transar enquanto estivesse na Rússia. Gregório topou:

— É ruim, mas é melhor do que tortura na cadeia.

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