Maragogipinho, capital da cerâmica, pede passagem para a Rota do Barro
Confira a coluna de Levi Vasconcelos
E já que estamos no mês da Consciência Negra, em que o papo principal é ancestralidade, convém a ressalva: quando os portugueses aqui chegaram os povos originários não sabiam processar metais e fazia suas panelas e adornos com barro.
Os negros, para cá trazidos como bichos, foram na mesma pegada. O espelho maior dessa cultura está em Maragogipinho, em Aratuípe, a Capital da Cerâmica na América Latina, que prepara-se para seu momento maior no ano: de quinta a domingo desta semana realiza o Festival da Cerâmica.
Sandra Sá estará por lá, e vai fazer show. São peças de barro puro, produzidas por 200 olarias no entorno das quais, incluindo o pessoal das lojas do artesanato de barro, são a razão do viver dos pouco mais de três mil habitantes que lá residem. Aratuípe tem 8.500 habitantes, segundo o IBGE.
Três mulheres –A inclusão da Rota do Barro no roteiro turístico baiano virou ponto de honra para três mulheres, Patrícia Araújo, dona da Pousada Maragogipinho, a única do lugar, Naiara Araújo, dona de uma casa de artesanatos, e Milena Figueiredo, as duas primeiras filhas da terra, ela nazarena casada com um filho da terra.
Fala Patrícia:
– Aqui 80% da população economicamente ativa vive diretamente do barro. Os outros 20%, como eu, vivem das benesses que isso traz.
Ela conta que recebe muitos visitantes, inclusive estrangeiros. Na pousada, sempre tem no mínimo dois hóspedes por dia, o pessoal que chega para comprar artesanato. Mas num detalhe as três batem carimbo: podia ser bem melhor.
– Nunca um ônibus de passeio turístico parou aqui.
Para quem gosta de um ponto com todos esses atrativos, tem mais. Naiara bota uma pitada poética.
– Eu todo dia agradeço a Deus por ter nos dado esse cantinho de céu. Aqui é uma delícia.
Depois, a Flita –E ela tem razão. A beleza da natureza pura num ponto rodeado de manguezais fica estampada no show que as garças dão às 5 da manhã e no final das tardes bem em frente ao povoado. Elas sobem e descem em revoadas, vezes param no manguezal em frente.
Até parece mesmo um cantinho de céu, mas Naiara diz que tem mais, a Festa dos Sabores Afetivos, que promove a culinária local. E dá uma dica do tempero:
– Cozinhar para alguém é fazer cafuné na alma.
Milena sintetiza o sentimento que move o grupo.
– Depois do Festival da Cerâmica temos a Flita, Festa Literária de Aratuípe. É por isso que dizemos, aqui é bom, mas pode ficar bem melhor, se as autoridades nos olharem mais.
Colaborou: Marcos Vinicius