Na Fenagro, Jaiminho fez história. E da boa
Confira a coluna de Levi Vasconcelos
Jaime Fernandes Filho, hoje na galeria das boas figuras que a Covid vitimou (em 2021), era por todos chamados de Jaiminho, mas chamava a todos de potência.
– Diga aí, potência!
E daí estrilava simpatia, impondo um doce respeito, com o tempero do trato afável. Ele é o cara que botou a Fenagro como referência internacional do agronegócio.
Capixaba de nascimento, baiano por adoção, herdou do pai, Jaime Maciel Fernandes, o gosto pela pecuária.
Formou-se em técnico agropecuário na Ceplac, especializou-se em nelore, depois também em zebu, e daí adentrou pela entidades empresariais daqui e dalhures, mais ainda depois, em 1991, assumiu a presidência da Associação Baiana de Criadores (Abac), tendo ao lado John Hamilton e Pompílio Viana, que ele chamava ‘meus esteios’.
Grama e sol –Jaiminho já vislumbrava um cenário em que a pecuária ia virar um ‘negoção’ para o Brasil. Faltava se livrar da maldição da febre aftosa, o que finalmente conseguiu este ano.
– Potência, é simples entender. O boi precisa de vitamina C, quem dá é a grama. Precisa de vitamina D, quem dá é o sol. Aqui é grátis, lá na Europa eles têm que injetar e isso encarece muito. Quando nos livrarmos da aftosa, ninguém nos segura.
Já a base dos esperneios dos franceses com a carne brasileira, dizendo que ‘é um lixo’? Eles estão perdendo mercado para nós.
Segredos do boi –E eis que lá um dia na Fenagro de 1994, um criador de Santo Antônio de Jesus botou em leilão um belíssimo exemplar de nelore. Perguntamos: ‘Amigo, por que você quer se desfazer de um boi tão bonito desses?’.
– Eu não quero, preciso. Estou muito apertado. Esse boi já me deu R$ 500 mil, vou botar no leilão por R$ 500 mil, quem comprar, tira mais
R$ 500 mil numa boa.
No pregão, um deputado baiano arrematou o boi por R$ 1,7 milhão, uma fábula na época. Ainda espantado, perguntamos a Jaiminho: ‘O que houve aí, amigo?’ E ele, falando ao pé do ouvido:
– Você vai saber duas lições, uma sobre boi e outra moral. Primeiro, fique sabendo que boi e pasto são o melhor lavatório de dinheiro. Ninguém conta boi no pasto. Peço-lhe que não publique que eu disse isso. Se você publicar, não direi que é mentira, mas você vira traidor da minha confiança.
Abafei o caso, claro. E é em respeito a Jaiminho que não divulgamos o nome do deputado do boizão com dinheirão.
Vinhos chegando –A Fenagro andou parada nos últimos quatro anos por conta da pandemia, podendo voltar agora retomando a força que conquistou.
Agora, A TARDE, em parceria com o governo e lideranças do agro, retoma o protagonismo da Fenagro.
Humberto Miranda, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb) aplaude o fato de Jerônimo Rodrigues ser o primeiro agrônomo na história da Bahia a tornar-se governador.
Ou seja, o cenário é todo positivo. E se assim o é, que se cuidem os franceses. A Chapada e o Vale do São Francisco estão produzindo bons vinhos, viu?
*Colaborou: Marcos Vinicius
POLÍTICA COM VATAPÁ
Cachimbo da paz
Anos 1970. José Lourenço, português de oratória bombástica, líder do governador ACM na Alba. Élquisson Soares, o líder do MDB, o partido da oposição, 'oratória metralhatória', como se dizia. Os dois brigaram tanto em plenário que acabaram inimigos.
Dailton Mascarenhas, jornalista e amigo dos dois, sacou o cachimbo da paz. Organizou um almoço em casa, na Ribeira, convidou a ambos, que aceitaram.
Ia tudo bem. Na mesa, nem um pio. Só o anfitrião falava. Fim de almoço, hora da sobremesa, uma manga cai do pé, no fundo do quintal, Élquisson levantou-se, pegou a fruta, lavou e com as mãos mesmo descascou e começou a chupar. Lourenço olhou, olhou, comentou:
– Dailton, eu não sei como você convida para sua casa gente tão mal-educada! O sujeito não tem modos nem para comer uma fruta!
Élquisson crispou os olhos, boca melada, disparou:
– Dailton, eu não sei como é que você convida para sua casa um corrupto!
Acabou tudo bem. Apenas meia dúzia de pratos e copos quebrados.