No aniversário de Salvador, as palmas vão para Clarindo Silva
Hoje, quando Salvador completa 473 anos da ocupação portuguesa, no Centro Histórico, palco e cenário dos fatos mais importantes nos primórdios da Bahia, ostenta como emblema deste início de século a figura de Clarindo Silva, o homem da Cantina da Lua, 80 anos completados dia 16, quatro filhos e sete netos..
— Vamos em frente. Meu amanhã é hoje. Meu daqui a pouco é agora.
E vai tudo bem no Centro Histórico de Salvador.
— Sim, mas nem tanto. A recuperação prevista em dez etapas, parou na sétima e ninguém mais ligou.
Decadência — Clarindo, um arauto da cultura negra, tem 68 anos de Pelô, 50 de Cantina da Lua, conhece tudo nas redondezas e diz que na periferia do Pelourinho a coisa está esquecida. Alguns pontos, como Ladeira da Preguiça e Ladeira da Praça.
Diz ele que a degeneração começou a partir de 1971, quando a Faculdade de Medicina saiu de lá, o Instituto Médico Legal também, a Academia de Letras da Bajia seguiu e o Cine Santo Antonio fechou as portas
No ataque — A reação contra a quebradeira veio dos próprios comerciantes, especialmente pelo Projeto Cultural Cantina da Lua, também pai da Festa da Benção.
— Fizemos 800 shows de 1983 a 1991, Recebemos quatro ministros da Cultura.
O Projeto Cultural Cantina da Lua chegou a fazer um Manifesto à Nação também enviado para o Papa João Paulo II denunciando o abandono da Basílica.
Abordagem — A luta conquistou avanços mas ainda há muito a caminhar. Segundo Clarindo, o grande problema do Pelô e cercanias é a abordagem, ou seja o assédio de ‘moradores’a turistas, problema incurável.
O moradores aí foi aspeado de propósito. Na real, são moradores de rua. Uma legião deles habitam a área entre as as marquises da Baixa dos Sapateiros e as ruínas do conjunto, que inclui o bairro da Saúde.
Novo livro — Clarindo diz esperar que agora, na onda das comemorações do bicentenário da Independência do Brasil o Centro Histórico seja lembrado:
— É o mínimo que poderiam fazer pela cidade. O Centro Histórico não só precisa. Merece muito.
Mas Clarindo vai tocando a vida numa boa. Após lançar a 6ª edição de Memórias da Cantina da Lua, vai lançar (18h) na Livraria Clarin do Shopping Barra um novo livro, o Conversas de Buzú.
Enfim, Clarindo que viveu a vida no palco de muitas histórias resolveu também contá-las. Um show de bom humor.
O Pelô é o grande coração (do Centro Histórico de Salvador, mas o coração só funciona se as artérias estiverem bem oxigenadas
A boa torcida dos amigos, o lado bom do perrengue
Foi pelo bom astral do dito cujo que Clarindo Silva marca a minha retomada. Passei um bom perrengue. E agora posso dizer que já vi a morte de perto. Nada de anjos e arcanjos. Apenas uma intensa dor no peito, uma noite sem dormir. Lá em Valença, Dr. Ronald Fonseca Filho, o primeiro a atender, acertou: infarto.
Saí de UTI Ambulância buscando o Tereza de Lisieux, o hospital do meu plano, o Hap Vida. Fui muitíssimo bem tratado por todos, a começar pelos médicos André Durães, também diretor do Tereza e Antonio Nery, o cardiologista que me colocou dois stents em duas de quatro artérias com problemas.
E veio também uma enxurrada de boas energias de colegas, amigos e afins. Foi o lado bom.
Ressalva: como jornalista não posso omitir a minha irresponsabilidade no caso. Perdi o primeiro tempo para m eu único inimigo, o cigarro. Quero ganhar o segundo.