Tanquinho, onde um candidato a vice melou todo o jogo
Confira a coluna deste domingo, 22
Tanquinho, pequeno município de 8 mil habitantes, nascido de Feira de Santana, sempre foi notável por agasalhar em museus relíquias da cultura sertaneja e, pelo belo monte em frente à cidade, o Monte da Emancipação, nas disputas eleitorais de 2024, vira palco e cenário de um caso único na Bahia.
Terça passada, a 19 dias das eleições, Jorge Flamarion (PT), ex-prefeito e candidato a vice do prefeito José Luiz Reis (PT), o Zé Luis, chegou no cartório e comunicou a sua renúncia. E estabeleceu a parafernália.
Antigamente era comum candidatos inelegíveis sustentarem as candidaturas até a véspera da eleição. Em 2013 uma nova lei impôs a regra: mudanças só até 20 dias antes do pleito. Fora disso, só em caso de morte. É aí que está o xís da questão: e como fica Zé Luiz, prefeito, candidato a reeleição e líder nas pesquisas? Fora do jogo, dita a lei.
Esquerda e direita —E o que o prefeito Zé Luiz diz?
— Vou lutar. Tô confiante que a justiça não vai contribuir para avacalhar um processo democrático.
Zé Luiz tem como adversários Fabiano Pereira (PP) e Eliel Ferreira (PDT). O primeiro, segundo nas pesquisas, não se envolve. E o outro, Eliel, protagoniza ações para garantir ‘o cumprimento da lei’.
— A lei que é para um é para todos. Por que vale para os outros e ele não?
Eliel tem na causa o advogado Gutemberg Oliveira Boaventura, que diz não ter dúvidas de que ganha.
— De casos similares só há dois precedentes no Brasil, um em 2016, em Goiás, e outro em Montes Claros, Minas, em 2020. Em ambos prevaleceu a lei, vice renunciou, cai toda a chapa.
Em Tanquinho, a coligação de Zé Luiz, ironicamente chamada de Pra seguir em frente, trabalhando por nossa gente, tem, além da federação, PT-PCdoB e PV, o PSB, o MDB, o PSD e o Podemos. A de Fabiano tem além do PP, o Republicanos, o SD e o Avante. E Eliel só tem o PDT, partido dele.
Como a disputa entre Zé Luiz e Fabiano caracteriza, segundo dizem lá, a briga entre esquerda e direita, Eliel tenta tirar proveito na ponga, já que os eleitorados dos dois primeiros não se bicam.
A questão é saber se o nome de Zé Luiz vai para a urna ou não. Ou seja, se a lei será cumprida a rigor ou se ele será exceção.
Itacaré, Nego de Saronga é outro favorito enroscado
Apoiado pelo prefeito Antonio de Anízio (PT), que já é reeleito e bem avaliado, mais um time de partidos que inclui, além do PT, PCdoB e PV o PP, o MDB, o Podemos, o PSD, o SD e o Republicanos, Edson Arante Mendes, o Nêgo de Saronga (PT), é outro que está enroscado na justiça, apesar de estar liderando as pesquisas e despontar no cenário como franco favorito.
Ele foi presidente da Câmara e teve contas rejeitadas. Entre idas e vindas, passa o fim de semana impugnado. Dizem em Itacaré que Saronga está perdendo para ele mesmo, mas os adversários, com Dr. Jarbas (Avante) e Júnior Andrade (PL e Agir), estão vibrando. Até porque, agora, já não dá mais para substituir.
POLÍTICA COM VATAPÁ
Do prefeito
Homem humilde, de poucas letras, funcionário da UFBa, Manoel Sampaio ingressou no MDB, o único possível a não ser a Arena, aliada do governo nos tempos da ditadura militar. Queria fazer a resistência democrática em Jaguaripe, a partir do povoado de Barreiras do Jacuruna. Elegeu-se vereador no pleito em que Ailton Viana (falecido em 2021), rico fazendeiro, virou prefeito. Estreou indignado. Levou lá um grupo de jornalistas.
–Vejam vocês o que é um capitalismo selvagem. Estão vendo as terras que circundam a cidade? São do prefeito. Aquela mansão ali? É do prefeito. Aquele iatão parado no cais? É do prefeito. Aqui tudo é do prefeito. Também o delegado, o juiz, a polícia. Só não eu.
Uma bela morena passou, alguém perguntou:
– Também é do prefeito?
– É uma das. Não é a titular, mas também é. Já lhe disse, aqui tudo é do prefeito.
Em 1988 Sampaio elegeu-se vice-prefeito. Adivinhe quem era o prefeito? Ailton. E alguém perguntou.
– Você também ficou "do prefeito"?
– É. Não resisti à selvageria do capitalismo.