Inovação não é ter um prédio
Confira a coluna Made In Bahia
Grandes prédios e coworkings surgem em várias regiões, passando a impressão de que o futuro está sendo construído ali. Mas será que ter um prédio, por si só, significa inovação? Eu acredito que não.
Peter Wohlleben, no livro A Vida Secreta das Árvores, faz uma analogia poderosa: uma árvore sozinha não forma uma floresta. Sem outras árvores para apoiar e compartilhar nutrientes, ela se torna vulnerável. Da mesma forma, inovação não surge apenas de espaços físicos ou tecnologias.
A inovação não pode ser imposta de fora para dentro. Esse pensamento colonizador desconsidera as singularidades locais. Salvador tem uma vocação própria, baseada na cultura afro-brasileira e no nosso jeito único de fazer negócios. Aqui, inovação não se limita a avanços tecnológicos, mas se conecta profundamente com tecnologias ancestrais, sociais e digitais.
As tecnologias ancestrais, transmitidas por gerações, são saberes que englobam formas de organização comunitária. Além disso, temos as tecnologias sociais, tão inovadoras quanto qualquer algoritmo digital. Elas surgem em favelas, quilombos e terreiros, sendo baseadas em resiliência, solidariedade e cooperação.
Hoje, o Hub Salvador, o maior ecossistema de empreendedorismo do Nordeste, sob nova gestão liderada pelo Cepedi, exemplifica como a inovação nasce da pluralidade de ideias e da conexão com o território. A Inventivos fortalece as redes de pessoas e tecnologias plurais através do empreendedorismo. Iniciativas como Os Mais Novos Baianos, Vale do Dendê, Afrosaúde, Solos, Dr Mep, SDW entre tantas outras, continuam a impulsionar o ecossistema de inovação de Salvador, reforçando a força coletiva e criativa da região.
As tecnologias digitais também são fundamentais, mas precisam respeitar as particularidades locais. Soluções criadas para outros contextos não podem ser aplicadas sem adaptações. A inovação em Salvador deve dialogar com as realidades sociais e culturais da cidade, criando avanços sem desconectar as pessoas de suas origens.
Inovação não é sobre construir prédios, mas sim sobre construir relações e fortalecer comunidades. É sobre criar ambientes onde a pluralidade de vozes e ideias possa crescer, onde as pessoas possam se apoiar e nutrir umas às outras.
Espaços como o Hub Salvador e empresas como o Inventivos são exemplos de como a inovação pode ser impulsionada por redes colaborativas, respeitando as vocações locais e construindo soluções que transformam a realidade do território e impacta o Brasil e o mundo.
A inovação não está nos prédios, mas nas pessoas, nas conexões e nas relações que criamos. E isso a gente aprende com tecnologias ancestrais, sociais e implementa as digitais.