Os desafios para a economia baiana em 2026
Kelsor Fernandes comentou o momento de desaceleração econômica

O Brasil vive um momento de desaceleração econômica já esperado pelos analistas. Com a taxa Selic em 15% ao ano, é inviável sustentar crescimentos acima de 3%. O Boletim Focus projeta alta de pouco mais de 2% no PIB em 2025, após 3,4% no ano anterior.
Os juros elevados reduzem o investimento privado, encarecem o crédito e comprimem margens empresariais. Para o consumidor, o impacto é direto: o crédito pessoal passou de 45% para 50% ao ano e o do cartão, de 80% para 90%. Ainda assim, a taxa de desemprego da Bahia, em 9,1%, é a menor já registrada, o que ajuda a manter o crédito ativo, mesmo em condições restritivas.
O endividamento das famílias, porém, preocupa: 73% das famílias soteropolitanas possuem dívidas e 25% estão inadimplentes — o maior nível em 12 anos. O comércio, sensível à renda e ao crédito, mostra crescimento modesto: alta de 1,1% até julho e projeção anual de apenas 0,6%, com faturamento estimado em R$ 230 bilhões.
O setor de Serviços também sente os efeitos da política monetária contracionista, registrando leve retração de -0,2%. O Turismo, em contrapartida, segue como destaque positivo, com crescimento de 10,2% entre janeiro e julho — a segunda maior variação do país.
O cenário exige atenção: os efeitos de uma Selic de 15% são de longo prazo e o “tarifaço” americano traz incertezas ao comércio exterior, afetando exportações baianas. Mesmo que a inflação em queda permita cortes graduais nos juros, a recuperação será lenta e concentrada na segunda metade de 2026.
O ano eleitoral também tende a aquecer o consumo via aumento de gastos públicos, gerando estímulos de curto prazo, mas ampliando o endividamento — hoje em 77% do PIB — e limitando o espaço para reduzir juros de forma sustentável.
Para o Comércio e Serviços, o início de 2026 deve ser contido, mas o segundo semestre promete melhora com inflação controlada, crédito em expansão e mercado de trabalho aquecido. Já o Turismo deve crescer acima da média, sustentado pela preferência nacional pela Bahia como destino de lazer.
A implementação da Reforma Tributária trará desafios, especialmente ao setor de Serviços, pela dificuldade de uso de créditos tributários e pela alta alíquota padrão do novo IVA dual.
O País segue crescendo, mas enfrenta uma armadilha de baixo investimento e juros altos. Superar essa barreira exige coragem política e reformas estruturais. Somente assim o Brasil poderá trocar o “voo de galinha” por um ciclo duradouro de desenvolvimento econômico e social.
*Kelsor Fernandes, presidente do Sistema Comércio BA – Fecomércio, Sesc e Senac
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
