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A energia da guerra

Publicado sexta-feira, 11 de março de 2022 às 06:02 h | Autor: Luiz Carlos Lima* | [email protected]
Especula-se que o barril de petróleo pode chegar em breve a US$ 150,00
Especula-se que o barril de petróleo pode chegar em breve a US$ 150,00 -

O ser humano, quando não domina a si mesmo, busca na subjugação do outro a demonstração de seu poder. Assim começam as guerras! Justificadas por violação de direitos, invasão de territórios, divergências doutrinárias e outras desculpas medíocres, para encobrir as duas causas primordiais: a ganância e a supremacia do ego.

Pela primeira vez neste século, uma nação ocidental, civilizada e importante economia do planeta, é invadida numa guerra insana transmitida ao vivo pelos canais de internet e TV. Promovida por um homem com 22 anos no comando de um país continental, munido de um aparato imenso para se perpetuar no poder, conduz o povo russo à condição de vergonha e submete o povo ucraniano a um sofrimento descabido e sem piedade. O que deseja o Sr. Putin afinal?

A máquina de guerra russa consome cerca de 30% do orçamento do estado, mais ou menos a receita das exportações de energia do país (petróleo e gás). Em outras palavras a sustentação financeira da guerra provém das receitas de uma energia tóxica que faz mal ao planeta, mas que alimenta uma indústria poderosa e ainda fundamental.

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA), em seu relatório World Energy Outlook 2021, o mundo consome atualmente cerca de 100 milhões de barris de petróleo/dia e com tendência de alta. Dez por cento (10%) desse petróleo é produzido na Rússia, além de 40% do gás consumido na Europa, em média.

A retomada econômica, pós-covid somada à invasão da Ucrânia estão fazendo os preços do gás e do petróleo explodir. Ontem o barril de petróleo ultrapassou US$110,00 com especulações de que possa chegar, em breve, a US$150,00. O preço do gás no continente europeu subiu 665% nos últimos 12 meses. Ou seja, quanto maior o caos, mais dinheiro para o Putin manter sua guerra insana.

Numa iniciativa sem precedentes, o Presidente dos Estados Unidos Joe Biden anunciou terça-feira, 08/março a interrupção da compra do petróleo russo. Um golpe importante, mas de pouco alcance. Os EUA compram muito pouco da Rússia e possuem reservas estratégicas que começam a ser utilizadas. O mesmo não funciona para a Europa. Pressionada a seguir o mesmo caminho, os líderes de governo sabem que é um movimento arriscado, pois compram em quantidade, não possuem reservas estratégicas e, se suspendem a compra de petróleo, como garantir que o Putin não interrompa o suprimento de gás, essencial à indústria, o comercio e as residências, justo agora que o inverno se aproxima? Além disso, o que as empresas européias irão fazer com seus ativos, que exploram petróleo na Sibéria e em outros campos no território russo?

A situação é complexa, delicada e preocupante. Fez ressurgir a agenda de descarbonização do planeta. Ontem e hoje, os 27 chefes de estado da União Européia estão em Versailles reunidos para tratar da dependência energética, da crise econômica que se anuncia e das ações conjuntas para fazer frente ao cenário atual.

As energias renováveis constituem uma pauta importante dessa reunião. A guerra declarada em pleno território europeu deixou evidente a necessidade de uma pauta forte e prioritária voltada à substituição dos combustíveis fósseis em curto espaço de tempo. O desafio é gigantesco. É preciso investir nas tecnologias, na capacidade de exploração e, sobretudo, na transição dos equipamentos de uso final em todos os setores econômicos. Do automóvel ao avião, do gás de cozinha às caldeiras das indústrias, passando por tudo que hoje nos rodeia.

É a energia negativa da guerra impulsionando a energia limpa e sustentável para um futuro melhor.

Essa consciência precisa estar em todos nós. Faça sua parte. A guerra hoje está na Ucrânia, aparentemente distante, mas os efeitos já estão por aqui. Hoje a Petrobras reajustou a gasolina em 18,8% e o óleo diesel em 24,9%. Em breve teremos efeitos em toda economia. Reduzindo o consumo de combustíveis fósseis, estamos cortando recursos que alimentam o conflito e semeando boas energias.

*Luiz Carlos Lima é engenheiro eletricista, especialista em Gestão e Comercialização de Energia Elétrica

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