A inteligência artificial e o futuro do trabalho
O impacto mais discutido é como essas tecnologias irão afetar empregos
Desde o início do ano que o debate sobre inteligência artificial (IA) tem se destacado na mídia nacional e internacional. Essa discussão ganhou tais proporções com a popularização do ChatGPT, uma ferramenta criada pela empresa OpenAI que pode dar respostas em poucos segundos sobre os mais diversos temas. Dos mais simples, como “escreva um resumo de uma página sobre o livro Vidas Secas de Graciliano Ramos”, ou mais avançados como “crie um código em linguagem R para simular o modelo de crescimento de solow”.
A inteligência artificial é o futuro e as grandes empresas sabem disso. A OpenAI já recebeu mais de um bilhão de dólares de investimento da Microsoft, que estará integrando o ChatGPT à sua plataforma de buscas, o Bing. Há poucos dias, as ações do Google caíram quase 9% depois que o Bard, plataforma do Google competidora do ChatGPT, respondeu uma pergunta simples de forma errada durante uma transmissão ao vivo. Mas o impacto destas plataformas de inteligência artificial vai além da disputa entre as BigTechs, ela tem impacto na vida das pessoas.
O impacto mais discutido é como essas tecnologias irão afetar empregos. É possível que a inteligência artificial aumente o desemprego e a desigualdade? Em uma brilhante palestra durante a aula magna anual da UNU-WIDER, o famoso economista e professor do MIT Daron Acemoglu discutiu este tema. De início, Acemoglu chamou a atenção de que a preocupação do avanço tecnológico e seus impactos sobre o trabalho não é nova. Ele destacou a visão de Adam Smith, que defendia que “as melhores máquinas poderiam beneficiar, tanto os donos do capital, quanto os trabalhadores”. E também a visão mais preocupante de David Ricardo, “se as máquinas podem fazer todo o trabalho que os trabalhadores fazem, não haverá demanda por trabalho”.
Acemoglu destacou que deveríamos estar focando em como as tecnologias podem ser úteis aos seres humanos e não em como as tecnologias devem ser eficientes per si. Porém, o foco da IA tem sido na automação das atividades, o que pode ter implicações graves para os países subdesenvolvidos. Nas palavras do professor, automatização pode ser uma tecnologia inapropriada para o mundo em desenvolvimento que é intensivo em trabalho, e especialmente trabalho pouco qualificado. Portanto, poderá aumentar a desigualdade entre os países, bem como a desigualdade intra-países, já que os trabalhadores menos qualificados poderão ser os mais prejudicados.
Para terminar, eu fiz a pergunta que muitos devem ter feito quando usaram o ChatGPT pela primeira vez. “O ChatGPT vai substituir os trabalhadores?”. A resposta da IA: “Sim, ChatGPT pode substituir o trabalho em algumas tarefas, especialmente aquelas que envolvem tarefas repetitivas e rotineiras, como responder a perguntas comuns, gerar textos simples ou fornecer informações básicas. No entanto, é importante lembrar que ChatGPT ainda é uma inteligência artificial e tem limitações em sua capacidade de compreender o contexto ou fornecer respostas personalizadas e precisas para questões complexas. Em resumo, enquanto ChatGPT pode ser útil em algumas situações, não pode substituir completamente o trabalho humano em muitos campos e setores.”
*Doutor em Economia, professor, pesquisador na UNU-WIDER - United Nations University World Institute for Development Economics