Conceito “Power to X” (energia para tudo e todos)

Conflitos armados de Estados poderosos contra povos isolados e impotentes são chamados de pacificações, expedições militares ou explorações. Em tais incidentes, se a resistência for suficientemente forte ou prolongada, elas crescem em magnitude e se transformam numa “guerra”. Quando extrapola os interesses locais e afligem a estabilidade da vida no planeta, podemos dizer que se tornam um conflito mundial. É o que estamos observando atualmente no conflito entre a Rússia e Ucrânia! 

Ao longo da história os conflitos foram causados por divergências filosóficas, políticas, econômicas, tecnológicas e até jurídicas. Neste momento, essa 3ª guerra mundial, tem a questão energética como pano de fundo. Óbvio que a guerra é um fenômeno social extremamente complexo e não pode ser explicado por um único fator ou única abordagem.

O mundo moderno é severamente dependente de energia, e a sua falta desencadeia um “efeito dominó” sobre a economia, o emprego, a produção, a mobilidade, a comunicação e na habitabilidade, dentre outros. São as vantagens e os efeitos da globalidade e da tecnologia na palma da mão, se voltando contra a vida humana.

Para ser claro, a crise energética chegou na Europa e a Rússia é a causa. Os preços do gás natural chegaram a US$ 3,1 por metro cúbico em meados de agosto/22, um aumento de 610% em relação ao mesmo período de 2021. O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitry Medvedev, ameaçou em 28 de agosto que os preços do gás atingiriam US$ 5,0/m3 até o final do ano. A esse preço, as usinas de eletricidade e indústrias não vão operar por muito tempo. Como consequência, os preços da eletricidade na Europa subiram quase 300% em 2022, quebrando recordes. Os preços de energia na Europa estão, em média, 10 vezes superiores à média de cinco anos atrás.

As famílias lutam para pagar a conta e os governos também. Os países europeus colocaram US$ 279 bilhões em subsídios, este ano, para ajudar os pequenos consumidores. A instituição de caridade National Energy Action da Grã-Bretanha projeta que 8,5 milhões de lares enfrentarão graves problemas energéticos no inverno que se aproxima. O continente está longe de estar pronto. Em clima quente, o equipamento de refrigeração consome eletricidade, que pode ser gerada por gás natural, energia eólica ou solar, carvão, geotérmica, biomassa ou nuclear. Por outro lado, em climas frios o “aquecimento” se baseia principalmente em combustíveis fósseis: gás natural e petróleo.

Nesse cenário surge o conceito da “Power to X” com energia total. Uma nova abordagem para acelerar a implantação das energias renováveis tornou-se a discussão do momento para reduzir a dependência dos combustíveis fósseis. Power to X significa a aplicação de métodos para converter energia elétrica em fontes de energia química líquida ou gasosa por meio de eletrólise e outros processos de síntese. Usando corrente elétrica, a água é dividida em oxigênio e hidrogênio – um processo 100% livre de emissões de CO2. Uma tecnologia conhecida, mas ainda muito cara, porém chave para a transição energética. O hidrogênio pode ser facilmente armazenado e usado ou processado de várias maneiras.

O Brasil encontra-se numa posição privilegiada. Além de sol, vento e enorme quantidade de recursos hídricos, pode usar a água para armazenamento de energia nas barragens e para produção do hidrogênio verde. O que nos falta? 

Liderança, pesquisa e desenvolvimento tecnológico. Num momento importante como este, de muitas tensões e incertezas, o brasileiro não pode continuar a ver a questão energética como secundária. É certo que por aqui temos assuntos e questões importantes e graves como a fome, a corrupção, o estado sendo saqueado por oportunistas, além de outras dificuldades estruturais, porém não haverá um futuro melhor sem educação para nosso povo. Não podemos estar alheios ao que acontece na humanidade. O tema do momento é também a energia limpa e renovável, em suas imensas possibilidades e oportunidades. O Brasil é celeiro de biomas naturais, provedor de alimentos para o mundo e por que não o grande celeiro mundial do novo combustível? Vamos ser líderes no Power to X - energia para tudo e todos!

*Engenheiro eletricista, especialista em Gestão e Comercialização de Energia Elétrica

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