Do Hidrogênio ao Hélio
Avalanche de mudanças ocorrerá sob o planeta a cada ano e em diversas dimensões das nossas vidas
A história já mostrou que a humanidade evolui durante os períodos de guerra! A evolução ocorre através da tecnologia, que é a materialização da criatividade humana. As ideias transformadas em elementos reais, tangíveis e postas a serviço do homem e do meio ambiente elevam a capacidade de superação dos problemas da vida. Uma guerra põe toda existência em risco e serve como estímulo avassalador para buscar soluções de sobrevivência. O risco de morrer ativa a máxima capacidades de criar soluções e assim o ciclo evolutivo se manifesta.
Nos últimos 100 anos evoluímos mais que nos 1.000 anos anteriores, de maneira múltipla e exponencial! Mantendo a tendência, o que é inevitável, uma avalanche de mudanças ocorrerá sob o planeta a cada ano e em diversas dimensões das nossas vidas. Na comunicação, no relacionamento social, na qualidade de viver com saúde e autonomia, na integração com o mundo além das fronteiras, na relação com a família, na forma de ensinar e aprender.
Na economia vivenciamos o mundo digital substituir ou fazer dobrar de joelhos as grandes corporações financeiras. O advento das fintechs, criptomoedas, tokenização e outras possibilidades de girar o mundo dos negócios sem um papel no bolso, nos faz ir ao supermercado apenas com o celular e voltar com as compras de casa.
E, para entrarmos em nosso tema, estamos evoluindo de forma assustadora no setor de energia. A 1ª crise do petróleo na década de 70, fruto da Guerra do Yom Kippur, deu um recado importante. Os países árabes retaliaram os Estados Unidos e com reflexo em todo ocidente, por conta de seu apoio às ambições de Israel. O barril de petróleo saltou de US$3,00 para US$12,00 (doze dólares) em poucos dias. O mundo inteiro se deu conta de sua dependência e fragilidade. Apesar da 1ª crise em 1973 e do segundo choque do petróleo em 1979, é a guerra Rússia-Ucrânia o estopim do despertar do mundo atual frente à sua dependência do gás natural e dos derivados de petróleo.
Num ambiente desafiador com forte pressão para redução das emissões de carbono e com repúdio aos riscos da energia nuclear, após os acidentes de Chernobil (1986) e Fukushima (2011), as nações desenvolvidas iniciaram uma corrida em busca de soluções energéticas, sobretudo diante do forte crescimento do uso da energia elétrica para atender a nova frota de EV´s (veículos elétricos) e a era digital em si. O mundo moderno não existe sem eletricidade!
Desses confrontos e conflitos bilhões de dólares estão sendo aplicados em pesquisas no aprimoramento das baterias eletroquímicas para que tenham valores acessíveis e uma longa duração. Em paralelo, num movimento sem precedentes, as pesquisas para produção e uso do hidrogênio verde (H2V) crescem para substituição do gás natural nos ambientes industriais e até na vida cotidiana. Tornou-se alvo estratégico em diversos países, inclusive o Brasil.
No topo da fronteira tecnológica surge agora uma nova frente de pesquisa. Em 16-nov-22 a NASA retomou o as missões tripuladas a Lua com o projeto Artêmis 1. Em 31-out-22 a China lançou o último módulo de sua estação espacial Tiangong, com intenção de explorar o solo lunar em breve. Desde 2019 a Índia trabalha para atingir a Lua através do seu programa espacial Gaganyaan.
O que há de comum nesses movimentos é a busca de uma energia limpa e sustentável através do He-3 (Hélio 3): um átomo de hélio (o segundo elemento da tabela periódica) que possui em seu núcleo 2 prótons e apenas 1 nêutron. Conhecido desde 1934 e testado em um processo de fusão nuclear em 1939, seu uso foi descartado pela quase indisponibilidade desse elemento na Terra. No entanto, missões à Lua feitas pelos Estados Unidos e Rússia na década de 60-70, identificaram reservas colossais dessa preciosa fonte de energia por lá. Para se ter noção de seu potencial, apenas 100 toneladas de He-3 seriam suficientes para suprir a energia necessária do planeta durante 1 ano, através de um processo de fusão nuclear, sem risco e sem emissão de radioatividade. Uma solução ambientalmente correta e sustentável. Ficção hoje, talvez realidade em breve. Quanto vai custar ou quando o Hélio-3 estará entre nós, não sabemos dizer, mas com certeza um pedacinho da Lua vai aquecer nossos invernos ou esfriar nossos verões no futuro. E o Brasil, ainda pensa em retomar sua base de Alcântara? Pelo nosso futuro, esperamos que sim!
*Engenheiro eletricista, especialista em Gestão e Comercialização de Energia Elétrica