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Olhar Econômico

Por Luiz Carlos Lima

ACERVO DA COLUNA
Publicado sexta-feira, 17 de março de 2023 às 6:00 h | Autor:

Quando o bem faz mal

Menos linhas de transmissão, mais baterias nas subestações, isso tornará mais barata a energia

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Quando pensamos nas produtoras de energia lembramos as grandes usinas como Furnas, Paulo Afonso, Itaipu e outras obras grandiosas
Quando pensamos nas produtoras de energia lembramos as grandes usinas como Furnas, Paulo Afonso, Itaipu e outras obras grandiosas -

Nos cursos de formação de engenharia elétrica, em qualquer parte do mundo, o aprendizado sobre produção e distribuição de energia fala de um processo radial (uma fonte de produção ramificando-se e entregando energia a todos como uma “raiz” e ainda, num fluxo sempre unidirecional, ou seja, da fonte para os usuários).

Quando pensamos nas produtoras de energia lembramos as grandes usinas como Furnas, Paulo Afonso, Itaipu e outras obras grandiosas. Cada uma destinada a cobrir uma extensa área, potências enormes para atender as necessidades de centenas de milhares de consumidores. Grandes usinas sempre se caracterizam por estarem longe dos centros de consumo e investimentos de bilhões de reais. Precisam estar interconectadas através de linhas transmissão quilométricas, obras de valores expressivos necessárias para levar a energia onde se necessita e assegurar a continuidade do sistema, mesmo numa falha eventual de trecho ou subestação. É determinístico o raciocínio de atendimento da fonte distante à carga (usuário). Nessa lógica o modelo do setor elétrico atual foi concebido, construído, é operado e assim são definidas as tarifas de energia elétrica.

Após o choque do petróleo, das reações contra o uso da geração nuclear, dos apelos à descarbonização do planeta, da luta pela preservação do meio ambiente e do crescimento sustentável, antigas soluções de geração de energia, ressurgiram na pauta dos investimentos para atender às necessidades. Com tecnologias modernas, ecologicamente corretas, economicamente viáveis e fáceis de adequar nas escalas de tamanho, potência e recursos financeiros, esses empreendimentos estabeleceram um novo paradigma para suprimento e distribuição de energia. As fontes de geração se aproximaram dos centros de utilização e colocaram um ponto final ao tradicional sistema radial – unidirecional. A produção e uso de energia ocorre hoje numa grande matriz, uma rede em que grandes e pequenos consumidores convivem lado a lado com grandes e pequenos geradores. Há menos de 10 anos eram algumas dezenas de usinas geradoras de energia. Atualmente são mais de 1,73 milhões de sistemas de geração conectados na rede (dados boletim informativo 53 de 03/03/23, ABSOLAR-absolar.org.br). Esse gigantesco parque de fontes de energia, atende cerca de 80 milhões de consumidores em todo Brasil. Uma verdadeira REVOLUÇÃO na logística de distribuição de energia.

Estamos diante de algo complexo e delicado, mas é uma realidade! Grandes desafios se colocam para os operadores desse mercado com relação à proteção, segurança, qualidade de energia, operação, controle dos níveis de tensão e frequência, gerenciamento dos fluxos em diversas direções e ainda manter a estabilidade operacional de tudo, para que não falte energia em nossas casas ou no nosso trabalho.

A geração distribuída (GD) veio para o bem de todos. Permite uma redução expressiva de custos, reduz investimentos na expansão do sistema elétrico, reduz perdas nas redes. Imagine trazer energia de Sobradinho ao Polo Petroquímico de Camaçari (por exemplo)! Além disso utiliza tecnologias ecologicamente corretas, fáceis de instalar, gera empregos e novos negócios num segmento em que apenas grandes grupos econômicos atuavam.

E por que todo esse bem “faz mal”? Porque os atores que fazem as regras e exploram o mercado de distribuição de energia ainda funcionam com métodos e estratégias baseadas nos modelos radiais-unidirecionais, já ultrapassados. Mais de 40% (quarenta por cento) dos pedidos de conexão para novos sistemas de GD estão sendo recusados pelas distribuidoras, porque os sistemas não estão aptos a operar na forma matricial. Os pedidos são recusados por “inversão de fluxo de energia”, quando não são exigidos orçamentos exorbitantes, para realização de reforços nos sistemas existentes.

Cabe à Aneel - Agência Nacional de Energia, ao ONS - Operador Nacional e à EPE - Empresa de Planejamento Energético repensarem regras e estratégias de investimentos para expansão do sistema. Menos linhas de transmissão, mais baterias nas subestações, isso tornará mais barata a energia para todos nós!

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