Bichos ajudam tutor a lidar com questões de saúde mental
Animais de suporte emocional servem de auxílio no tratamento psiquiátrico de humanos
Um dia você é aquele adulto que acha um animalzinho de estimação fofo e quer cuidar. No outro, descobre que, na verdade, é ele que cuida de você. Sim, animais de estimação de quase todas as espécies são porto seguro para muita gente. E podem funcionar como suporte emocional. É assim com a biotecnologista Daniela Méria Ramos Rodrigues, 25 anos, que tem na gatinha Marie todo o suporte que precisa para lidar com o transtorno de personalidade borderline.
“A Marie tem um papel essencial na minha vida. Quando a adotei, morava sozinha, então ela era minha companhia. Ela passeia todos os dias, então me forçava a sair de casa. Além disso, o fato de ter uma vida que depende de você faz você se forçar a viver, a alimentar, limpar a areinha...”, detalha Daniela, que tem um documento do psiquiatra que a acompanha atestando que ela precisa de Marie como pet de suporte emocional.
No Brasil, o Rio de Janeiro é pioneiro na criação de uma lei, sancionada em 2021, que regulamenta a emissão do certificado de suporte emocional. Para isso, a pessoa deve enviar a documentação do tutor - que inclui laudo médico especificando a CID (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde)- e dos animais por email.
O animal precisa de foto atual, carteira de vacinação atualizada, foto do colete na cor vermelha com a identificação do cão de suporte emocional, certificado de adestramento assinado por escola de adestramento ou profissional autônomo, com CPF e RG do mesmo e número do microchip caso o animal possua. Tudo isso, claro, só vale no Rio de Janeiro. Companhias aéreas adotam procedimentos específicos para atestar a necessidade do animal viajar com o tutor na cabine.
Laudo médico
Segundo a médica veterinária Simone Freitas, um pet passa a ser considerado um animal de suporte emocional quando um profissional de saúde mental indica os benefícios desse pet na promoção do bem estar emocional ao seu tutor. No caso de Daniela, ela possui um laudo médico que atesta o transtorno borderline e a necessidade do animal de suporte.
Foi graças à gatinha, adotada em junho de 2022, com 40 dias, que ela conseguiu mudar a rotina e enfrentar as crises depressivas. “Minha rotina talvez tenha ficado mais fixa: acordar, colocar comida pra ela, limpar a areia, tomar café enquanto brinco com ela, me arrumar pra sair e dar um petisco... Quando chego do trabalho, tenho meus 15 minutinhos de dengo, depois desço pra passear com ela por 1 hora”, conta.
Calopsitas e ratos
Mas será que existem espécies mais indicadas? “Qualquer espécie é indicada desde que promova bem estar, module as emoções, reduzindo estresse ou estimule o desejo de seu tutor cuidar dele”, afirma Simone Freitas. As mais comuns são cães e gatos, mas porquinhos da índia, miniporcos, calopsitas, coelhos, hamsters, cavalos, cabras, ovelhas e até ratos são capazes de acalentar os tutores mais aflitos.
Para a analista de recrutamento e seleção Beatriz Campos de Almeida, 25 anos, emocionalmente, tanto ela quanto o marido se sentem mais estáveis na companhia de um pet. E a mudança de rotina com a adoção da gatinha Francine é um exemplo de que o melhor atestado do benefício do pet na saúde mental do tutor é a melhora dos sintomas.
Beatriz não tem certificado nem laudo médico. Mas viu tudo mudar desde que adotou a gatinha, hoje com 2 anos. “Desde que Fran chegou não tive nenhum episódio depressivo ou crise de ansiedade, que eram constantes anteriormente”, conta. Ela e o marido sentiam-se sozinhos após terem mudado para São Paulo. Para ela, um animal de estimação tem sempre um certo papel de apoio emocional.
A visão é compartilhada pela jornalista Lídice Oliveira, 57 anos, que nunca pensou nos seus gatinhos Tim e Liz por essa ótica de suporte emocional. Sem nenhum transtorno de saúde mental, mas apaixonada por gatos, ela adotou os dois na pandemia. “É inegável o bem enorme que ambos me fazem desde que entraram na minha vida”, afirma Lídice. Companheiros, inteligentes e carinhosos, eles trouxeram leveza à rotina da família.
Veja como obter a certificação de pet de suporte emocional
O que faz de um pet um animal de suporte emocional? Existem espécie mais adequadas a este papel?
Um pet passa a ser considerado um animal de suporte emocional quando um profissional de saúde mental indica os benefícios desse pet na promoção de bem estar emocional ao seu tutor. Para isso, é necessário ter um relatório do profissional de saúde mental.
Existem espécies mais adequadas a este papel?
Nenhuma específica. Mas os mais comuns são os cães, gatos e coelhos.
No caso do tutor que precisa de um certificado, que caminho ele deve percorrer para obter o documento?
Deve procurar um profissional de saúde mental (psicólogo, psiquiatra) que certifique a relevância do pet no tratamento do transtorno emocional. Além disso, precisa também de um atestado de saúde do pet que deve ser certificado por um médico veterinário.
Como é feita a avaliação para a emissão do certificado? Onde ele é retirado?
A avaliação deve ser feita pelo profissional capacitado na área de saúde mental e o certificado será emitido por ele.