Diabetes altera a rotina de animais de estimação e tutores
Dieta rica em carboidratos expõe cães e gatos a risco da doença que exige aplicação de insulina
Se uma dieta rica em açúcares e carboidratos é um risco de diabetes mellitus para humanos, ela é ainda pior para animais de estimação. E, sim, cães e gatos podem desenvolver a doença a partir do estilo de vida que os próprios tutores lhes impõem. A dor de cabeça para os humanos inclui uma rotina de medição diária de glicemia e aplicação de insulina, pelo próprio tutor, além da necessidade de exames e internações.
Agora, imagine o que é o seu animalzinho passar por isso por ter sido privado de passeios diários ou ter ingerido alimentos inadequados à dieta da sua espécie. Imaginou? Pronto. Então fique atento aos hábitos alimentares do seu cachorro ou gato, mantenha em dia as idas ao veterinário e só use remédios sob prescrição.
“O diabetes é uma doença multifatorial, pode ter envolvimento genético, ser provocado por outras doenças que causam resistência à ação da insulina, pode ser influenciada por uso de medicamentos, por condições do metabolismo ou no período gestacional, mas, principalmente, está relacionada a questões alimentares”, explica a médica veterinária endocrinologista Alice da Silva Lordêlo, 43 anos. Como acontece com os humanos, a obesidade também é fator de risco. Uma vez diagnosticada a enfermidade, o tratamento prevê aplicação de insulina, manejo alimentar e atividade física.
É desta forma, com uma alimentação equilibrada e a aplicação de insulina a cada 12 horas, que a advogada Perpétua Figueiredo, 65 anos, controla a glicemia do seu cãozinho Rhajy, de 13 anos, diagnosticado com a doença aos 10. Além disso, ela tem que fazer as medições da glicemia duas vezes ao dia.
Sintomas
Mas como identificar que o animal já tem a doença? “Notei ele apático, com um olhar triste, não brincava mais, não tinha interesse nos brinquedos e nem queria sair para passear, andava na rua aparentando estar cansado, bem devagar”, conta Perpétua, sobre o quadro apresentado por Rhajy, um Westie Terrier que a fez abrir mão de viagens para cuidar dele. Ela recorreu à endocrinologia veterinária, faz medições de glicemia e aplicações de insulina diárias.
Já a pinscher Carulina, 10 anos, foi diagnosticada há pouco tempo. “Alguns meses atrás notei que ela estava bebendo muita água, desanimada e fazendo muito xixi,” conta a agente portuária Zenaleda de Souza, que, desde abril deste ano, passou a incluir na rotina de Carulina o controle glicêmico e a aplicação de insulina. Para isso, ela teve que adquirir o glicosímetro semelhante ao humano e faz uso de insulina, que é administrada sempre após a alimentação.
Os sintomas incluem os chamados 4 Ps. “Poliúria, onde o animal cursa com aumento da produção de urina; polidpsia, o aumento da ingestão de água; polifagia, aumento pela procura de alimento e perda de peso, que ocorre de maneira rápida,” explica a endocrinologista veterinária Maiara Lima, 31 anos, que recomenda o acompanhamento de um nutrólogo em caso de uso de alimentação natural.
Nutrição
Segundo a nutróloga veterinária Andrea Bispo, 40 anos, no caso de cães e gatos, a forma de prevenir a doença é reduzir a ingestão de carboidratos. “A alimentação faz muita diferença, o que vai fazer o indivíduo ter diabetes é o excesso de carboidrato (na ração), petiscos, cuscuz, pão, biscoito, muita fruta....,” afirma.
Por conhecer a lógica da doença em humanos, a nutricionista Lais Eloy Machado da Silva, 34 anos, suspeitou que o gatinho dela, Tião, tinha diabetes assim que percebeu uma rápida perda de peso. “Depois o apetite aumentando, urinando bastante e bebendo muita água...,” descreve. Há um ano, ela faz o acompanhamento e gasta em torno de R$ 700 por mês.
Já a geógrafa Nilda Oliveira, 62 anos, teve dificuldades para lidar com os cuidados com a gatinha Mimi, 13 anos, que recentemente apresentou diabetes. Desde maio, ela e o marido se revezam na aplicação de insulina e medição da glicemia. “Foi difícil nas primeiras semanas, pois não tínhamos experiência em furar a orelha dela para pegar a gota de sangue e medir a glicemia,” conta ela, que revela ter enfrentado o receio de uma hipoglicemia.
Além disso, o custo com a medicação é de R$ 120 e a ração específica custa R$ 170 o pacote de 2kg.
DR. PET [TIRA DÚVIDAS]
Veja como prevenir o diabetes mellitus
Qual a melhor forma de prevenir o diabetes em animais?
Além da dieta pobre em carboidratos e rica em proteínas e fibras, a melhor forma de prevenir é realizar o check-up anual ou semestral, a depender da idade do animal. Esse acompanhamento é crucial para o diagnóstico precoce.
Qual a principal consequência do diabetes não controlado?
O paciente pode entrar num quadro complicado e grave chamado cetoacidose diabética, que tem grande risco de óbito se não tratado logo e de forma devida. O tratamento dessa condição deve ser realizado em internação, seguindo um protocolo específico para tentar reverter o quadro grave. O diabetes não tratado ou mal controlado pode favorecer alterações importantes de colesterol, triglicérides, o surgimento de pancreatite, infecção urinária recorrente e cegueira.
O que leva o paciente a chegar a este ponto?
Em alguns casos, há desconhecimento do clínico veterinário que o acompanhava ou do próprio tutor. Em outros poucos casos, há negligência por não tratar/controlar doenças concomitantes.