Falar com ‘voz de bebê’ fortalece vínculos com pets
Entonação e gestual reforçam mensagem de afeto
Levanta a mão quem nunca falou com vozinha de criança com o seu animal de estimação. Se este não é um hábito, sinto dizer, você está perdendo uma ótima oportunidade de fazer uma conexão ainda maior com o seu pet. É que estudos realizados em universidades americanas e europeias nos últimos anos demonstram que a entonação da voz e o gesto afetuoso são capazes de fortalecer os laços entre humanos e animais.
A pesquisa mais recente foi a realizada pelo Centro de Pesquisas em Ciências Naturais da Hungria (Research Centre for Natural Sciences). Os pesquisadores descobriram que cães reagem positivamente à "voz de bebê".
“Os cães diferenciam muito a forma que nos comunicamos com eles, desde quando estamos bravos, até em momentos afetuosos, pois não é somente a nossa voz que muda, a nossa postura corporal e a forma que nos aproximamos mudam”, explica o médico veterinário comportamentalista Luís Carlos Sousa. Segundo ele, humanos dependem muito da fala para a comunicação, mas os cães leem uma série de posturas ligadas ao nosso comportamento e aos contextos em que aparecem.
Inusitado
Talvez esteja aí a explicação para a reação inusitada do daschshund Muxima, 12 anos, a esta entonação “itmalia”. Diferentemente da maioria dos animais de estimação, Muxima simplesmente detesta que se dirijam a ele desta forma. Por conta disto, a família nunca usa a falinha de bebê com o cachorro.“N ão costumamos falar assim, ele não gosta. A reação dele normalmente é negativa, costuma rosnar e ficar incomodado”, explica Pedro Eduardo Magalhães, 22 anos, estudante de publicidade.
A família acredita que isso ocorra porque, quando ele era filhote, moravam em um condomínio de casas e as crianças ficavam correndo e pirraçando o cachorro no portão. Por conta disso, explica Pedro, ele não gosta de crianças e não gosta que falem com voz de criança. No caso de Muxima, ao que parece, houve uma associação negativa a uma experiência que costuma ser positiva para a maioria dos pets.
Bem estar
Segundo o médico veterinário comportamentalista Rafael Ramos, a forma como nos comunicamos com nossos pets impacta diretamente a maneira como eles percebem o ambiente e se relacionam conosco. “A comunicação eficaz é essencial para o bem-estar deles, ajudando a construir uma convivência mais harmoniosa e respeitosa”, afirma. É que os cães interpretam comando de voz a partir de repetições e associações com gestos ou recompensas.
Coisa boa
O Cavalier Lucky, 7 anos, gosta quando os tutores usam a vozinha com ele. “Ele sabe que é coisa boa, então dá toda atenção do mundo”, conta Bernardo Coelho. Segundo ele, Lucky ficou acostumado a sempre receber um carinho ou um petisco no momento em que os tutores dirigem-se a ele com entonação mais afetuosa da voz. “Cachorros não falam nossa língua, então acho que eles vão se habituando à entonação das palavras e coisas do tipo”, disse.
Ele tem razão. A vozinha de criança pode soar amigável e tranquilizadora. Os veterinários explicam que os cães, em especial, são sensíveis ao tom e à energia na voz dos tutores. “Uma voz mais leve e aguda, como a “voz de bebê”, pode transmitir afeto e segurança, o que facilita a criação de uma relação de confiança e conexão emocional. Esse tom pode deixar o animal mais à vontade e menos estressado, promovendo uma interação mais positiva”, explica Rafael Ramos. Mas cabe um alerta. Animais que sofrem com ansiedade de separação podem interpretar sons específicos, como o tom usado na despedida, como um gatilho. Palavras e gestos que antecedem uma separação podem gerar reações ansiosas. Nesses casos, o caminho é buscar a orientação de um comportamentalista. Fora esses casos, fique à vontade para abusar no “itmalia”.
DR. PET
Efeitos variam conforme a entonação da voz humana
A entonação de voz interfere na relação com o pet?
Sim, a entonação de voz exerce uma grande influência na forma como os pets nos percebem e respondem a nós.
Como isto funciona?
Os cães respondem com entusiasmo e afeto a uma voz mais infantilizada. Isso acontece porque a “voz de bebê” pode soar amigável e tranquilizadora, ajudando o cão a associar o momento a algo seguro e confortável.
Qual a entonação mais adequada para repreendê-lo?
Se o objetivo é corrigir um comportamento, uma entonação firme e mais baixa é mais apropriada. O tom precisa sinalizar, de forma clara, que a atitude não foi apropriada, mas sem exageros para não gerar medo ou insegurança.
Fonte: Rafael Ramos, médico veterinário comportamentalista