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Humanização dos animais traz danos comportamentais

Excesso de perfumes e banhos, falta de contato com a natureza e escassez de passeios prejudicam cães

Publicado domingo, 10 de setembro de 2023 às 10:00 h | Autor: HIlcélia Falcão
Veterinário Luiz Carlos com o cão Mab
Veterinário Luiz Carlos com o cão Mab -

Seja qual for o motivo pelo qual você decidiu ter um animal de estimação, jamais esqueça: um filhote de bicho não é um bebê. O utra coisa: um cachorrinho não é um mini-humano e um gato jamais será um cão. Com isso em mente, saiba também que certas concessões com aparência de cuidados podem afetar, quase irremediavelmente, a saúde mental do seu animal. Será então que não pode colocar um lacinho, deixar dormir na cama, nem por neles uma roupinha de frio quando a temperatura cair?

Pode, sim. “Antropomorfizar um animal não tem nada a ver com dormir na sua cama, colocar uma roupa ou chamar de filho. Isso passa a ser prejudicial quando não respeitamos comportamentos naturais da espécie, como farejar, roer, rasgar e explorar”,  explica o  médico veterinário comportamentalista Luis Carlos Souza, 36 anos.  O problema atual é que muita gente se atrapalha no manejo, com excesso de banhos e perfumes, escassez de passeios, falta de rotina, alimentos inadequados e atitudes que retiram do bicho a oportunidade de ser o que é.


“O carinho, o cuidado, a preocupação não é algo que prejudique os animais, muito pelo contrário”, afirma Souza. A questão é entender a linguagem do animal e adotar um manejo adequado à espécie. Ele explica que a comunicação incorreta gera uma série de transtornos de convivência, como a reatividade do animal dirigida ao tutor. Os erros mais comuns são, na hora de cuidar, fazer determinadas concessões ou usar a linguagem verbal dirigindo-se ao animal como se ele fosse um ser humano. “Parece óbvio mas existe um abismo muito grande entre essa compreensão e as atitudes do tutor, pois precisamos lembrar  que o cão não compreende frases longas como “mamãe não gosta que você faça isso” ou “quantas vezes já falei que aqui é o lugar de você fazer xixi?””, ilustra o comportamentalista.

Outros casos
Acontece que, por inexperiência, marinheiros de primeira viagem costumam cair em situações desconfortáveis ao acolher um bichinho abandonado. Este foi o caso da professora Marluce Alves dos Santos, 54 anos, que adotou o SRD Zeus, abandonado numa rua em Brotas. “Eu vi o momento em que ele foi jogado na rua com menos de um mês”, conta ela. Zeus teve parvovirose e hoje tem uma série de doenças que exigem investimento financeiro e dedicação.
Talvez por conta das fragilidades da saúde do bichinho, ela tenha feito concessões que expliquem o atual cenário. Ele apresenta certa agressividade, não permite colocar a coleira e até morde a tutora. “Ele está com quatro problemas de saúde, para fazer qualquer coisa, preciso chamar  veterinários em casa e acredito que o comportamento agressivo dele tem relação com algo que eu não tinha e passei a ter que é medo; ele exerce um comportamento de dominação, embora castrado”, conta ela que segue na busca de solução.


Para a médica veterinária Andrea Bispo, 39 anos, especialista em medicina integrativa, há várias causas para o comportamento agressivo de um animal. Segundo ela,  a castração não é determinante na melhoria do comportamento. “É preciso avaliar vários fatores; existe uma coisa chamada eixo cérebro-intestino e esse animal teve parvovirose no início, tem alterações de células intestinais e a microbiota interfere no comportamento”, analisa Andrea que recomenda a orientação de um comportamentalista. Outro ponto que deve ser levado em consideração é se as doenças que ele tem não provocam dor, fato que também pode desencadear agressividade.

Segundo ela, há animais que precisam ser medicados para controle da agressividade. “É provavelmente um animal que está com o cortisol lá em cima, extremamente estressado, com esteriotipia comportamental; essa tutora precisa de ajuda”, orienta. O problema é que todo tra tamento envolve custo elevado, especialmente na área comportamental. No caso de Zeus, Marluce já investiu elevada soma entre remédios, adestramento e medicina veterinária comportamental. Por conta de problemas assim, o melhor é, antes de ter um animal, conhecer a espécie e se cercar de orientação profissional.

DR. PET

Veja algumas dicas para manter a saúde mental do bicho

O que o tutor deve fazer para evitar surpresas indesejadas quanto ao comportamento do animal?
É indicado que o tutor tenha acesso ao menos a um momento de consultoria com um veterinário que trabalhe com comportamento, antes ou no momento da adoção, para prevenir alguns comportamentos indesejados no futuro. Sempre alertamos que tão importante quando cuidar das primeiras vacinas, é cuidar do bem estar emocional dos animais.

Quando costuma ocorrer problemas comportamentais?

Quando não respeitamos comportamentos naturais da espécie, como farejar durante um passeio, ou deixamos de adicionar enriquecimento ambiental e brinquedos que atendam às necessidades do animal, além da não interação com outros membros da espécie (caso esse animal não tenha nenhum problema de comportamento). 

Que sintomas podem indicar que o tutor está humanizado e agindo errado no manejo?

Quadros de ansiedade, com lambedura excessiva de patas e outras desordens na saúde física do animal são indícios de necessidade de ajustes no manejo. 

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