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Pensando Moda

Por Renata Pitombo Cidreira*

ACERVO DA COLUNA
Publicado sábado, 12 de maio de 2018 às 13:40 h • Atualizada em 18/05/2018 às 13:43 | Autor: Renata Pitombo Cidreira*

A magia artesanal de Villaventura: texturas e volumetrias na SPFW

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Desfile da estilista Lino Villaventura
Desfile da estilista Lino Villaventura -

Um verdadeiro espetáculo de linhas, curvas, texturas, cores e volumes marcou a presença do estilista Lino Villaventura na 45ª edição da São Paulo Fashion Week (SPFW). Comemorando 40 anos de carreira, o autodidata paranaense, radicado no Ceará, mais uma vez encantou a plateia atenta do Pavilhão das Culturas Brasileiras, no Parque do Ibirapuera, durante o desfile da sua mais nova coleção outono-inverno, no último dia 25 de abril. Uma celebração de profissionalismo, aliada a uma inventividade extraordinária, reafirmando os laços entre a moda e a arte. Assim é a roupa de Lino Villaventura: atemporal e personalíssima, sempre levando em conta o corpo que a habita e o deleite da apreciação.

A cena imaginada e exibida por Villaventura apostou num clima de dramaticidade, expresso não só em cada uma das peças, mas também pelo trabalho de beleza artsy assinado por Marcos Costa, e pela trilha sonora de Felipe Venâncio, que atua com o estilista há mais de 10 anos. A beleza estabeleceu um diálogo intenso com a coleção, dando continuidade aos pespontos das peças, nos rostos dos modelos. A trilha, do mesmo modo, entrou em sintonia com as texturas de Villaventura, ao escolher a música Red Horse, do produtor e músico Colin Stetson, num andamento um pouco mais alto, provocando momentos de impacto.

No total, foram apresentados cerca de 22 looks, 13 em preto e branco (com alguns toques de cores primárias como amarelo e vermelho) e os demais em lilás, azul, terrosos, vermelho e roxo, entre outras tonalidades. Destaque para o uso das listras e aplicação de pavão em algumas peças. Nos pés, prevaleceram os tênis tanto para o feminino, quando para o masculino e algumas sandálias. Roupas surpreendentes exibiram visualidades instigantes, conformadas por cortes, volumetrias e nervuras, reafirmando o estilo Villaventura, que prima em plasmar aparições inusitadas.

Vale destacar que o trabalho de Lino Villaventura sempre foi marcado pela presença da artesania. Como comenta o próprio estilista, “a mesma pegada artesanal das minhas coleções se mantém. Não conseguiria fazer nada muito simples. Desde a primeira peça que criei (...), é o trabalho artesanal que faz com que as pessoas reconheçam minha assinatura”. E, sem dúvida, a moda e a roupa Villaventura estão carregados de um fazer que elege o feito à mão e o feito sob medida como um estilo; além de valorizar as técnicas manuais da renda, por exemplo, em muitas das suas coleções, privilegiando sempre um artesanato têxtil de luxo. Nesta coleção, em especial, a presença do bordado atesta o primado artesanal que imprime uma circunscrição regional. O bordado, por sua vez, vai dialogar com maestria com outros aspectos relativos a modelagem, as texturas e as formas criadas pelo estilista, fazendo com que as peças ganhem um acento universal.

Amante das artes e do universo da criação, o estilista tem uma trajetória fortemente alimentada por influências do teatro, cinema, arquitetura e artes plásticas. Não por acaso, Villaventura traz consigo uma concepção de cena que o ajuda a exibir de forma envolvente as suas coleções de moda. Seus desfiles tem uma vocação cênica. A performatividade dos corpos vestidos do estilista é arrebatadora. Como performance entendemos toda atividade que se realiza na presença de um indivíduo face a um público. Como assinala Erving Goffman, é preciso que haja uma execução, uma ação por parte de alguém que visa assumir uma persona que não lhe pertence.

Imagem ilustrativa da imagem A magia artesanal de Villaventura: texturas e volumetrias na SPFW
| Foto: Divulgação
Desfile da estilista Lino Villaventura

E neste caso, em especial, nos referimos a um tipo de performance que podemos designar, como o faz André Helbo, de transportativas, ou seja, aquelas que realizam transformações provisórias. No instante do desfile de Lino Villaventura, certamente, não apenas os modelos em ato são atingidos por algumas interferências na sua visualidade e encarnam personagens, como também nós, enquanto público, nos transportamos para um outro regime espaço-temporal vivenciando no movimento do desfile sensações diversas, capazes de nos fazerem sentir o outro que reside em nós.

No Parque do Ibirapuera, a cena do estilista nos apresenta uma coleção e um desfile com uma unidade plástica inquestionável, cujo êxito da criação nos faz transcender, aguçando cada um dos nossos sentidos. Um verdadeiro espetáculo que nos convida a experimentar a magia da roupa e da moda, inscritas no dia-a-dia... e no corpo de cada um de nós!

* Renata Pitombo Cidreira é professora da UFRB, jornalista e pesquisadora de moda. Autora de Os sentidos da moda (2005), A sagração da aparência (2011) e As formas da moda (2013), entre outros.

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