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Pensando Moda

Por Renata Pitombo Cidreira

ACERVO DA COLUNA
Publicado domingo, 26 de novembro de 2017 às 14:22 h | Autor: Renata Pitombo Cidreira

A moda para a vida: sustentabilidade e êxito na produção de Su Martins

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Estilista baiana Su Martins com um vestido feito com tecidos de guarda-chuvas descartados
Estilista baiana Su Martins com um vestido feito com tecidos de guarda-chuvas descartados -

Pautados por uma dinâmica de consumo exacerbada, vivemos numa sociedade em que cada um de nós tem se tornado objeto de desejo. Como argumenta Bauman, as pessoas se tornaram mercadorias. Para tanto, é necessário se autofabricar incessantemente, o que culmina com a constante preocupação em obter novas versões de roupas, reconstruir estilos e reformar versões defasadas de si.

Mesmo que tal atitude seja confirmada a cada instante, também é possível observar uma demanda, talvez de consumo também, quem sabe?, mais preocupada com o entorno e com essa imbricação homem-mundo, ser humano e natureza, indivíduo e cultura. É nesse cenário que observamos um momento que preconiza um consumo mais consciente e um estilo de vida mais sustentável que, sem dúvida, reverbera também no universo da moda e da composição de si.

Há algum tempo temos ouvido um discurso e mesmo algumas iniciativas em direção a uma atitude mais consciente no universo fashion. Várias marcas têm se preocupado em produzir produtos que respeitem o meio ambiente, que provoquem um pouco menos de impacto ao nosso entorno.

Não por acaso, em recente encontro do moda, o VII ENPmoda (Encontro Nacional de Pesquisa em Moda), realizado entre os dias 07 e 10 de novembro, na Faculdade de Artes Visuais, da Universidade de Goiás (UFG), entre os vários temas debatidos, este, sem dúvida, foi o que gerou maior discussão e adesão do público. Professores, alunos, designers, empresários, publicitários, todos, enfim, consumidores, foram unânimes em reconhecer que é preciso pensar num novo modo de produção, gestão e consumo dos artefactos do campo da moda.

Como se sabe, as questões ambientais passaram a ser tratadas com mais seriedade nos últimos anos implicando num novo modelo de desenvolvimento industrial, associando desenvolvimento econômico com preservação da natureza. Preocupações com o bem-estar da sociedade em que vivemos estão na pauta das indústrias e, consequentemente, o setor do vestuário também vem enfrentando novos desafios no sentido de implementar políticas de produção que impactem cada vez menos o meio ambiente, preconizando o desenvolvimento sustentável através de uma produção limpa, certificação ambiental, redução de resíduos, reciclagem e reuso de recursos consumidos, entre outras estratégias.

Imagem ilustrativa da imagem A moda para a vida: sustentabilidade e êxito na produção de Su Martins
| Foto: Renata Pitombo | Divulgação

Bolsas da marca Salamandra de Fogo (Foto: Renata Pitombo | Divulgação)

A estilista baiana Su Martins, que reside em Goiânia, é um desses exemplos. Presente no VII ENPmoda, a designer falou sobre seu trabalho que conjuga preocupação com a sustentabilidade e a busca por formas instigantes. A marca Salamandra de Fogo começou num festival de música eletrônica na Bahia, em 2007, fruto de algo dançante. “Ganhei o apelido de salamandra dançando”, explica a estilista, e daí o nome da marca surgiu, logo, ritmo e movimento fazem parte da história da marca, que flerta com essa intensidade. “Aprendi a costurar aos 15 anos com minha mãe e nunca mais parei”. Essa aprendizagem familiar faz com que a estilista reflita e produza moda com flexibilidade, explorando várias modelagens, e como algo que possa nos engrandecer como seres humanos. “Sabemos que há um impacto muito grande no ambiente e na sociedade e se pudermos fazer algo para reduzir esse impacto, melhor!”.

Segundo Martins, a ideia é criar peças que conversem sozinhas, que sejam atemporais. Entre os materiais utilizados, a estilista destaca a pele de peixe de pirarucu e tecidos de guarda-chuvas descartados. Com essa matéria-prima, em especial, Martins desenvolve acessórios como bolsas e carteiras, mas vestidos, blusas e quimonos também fazem parte do repertório da designer que reaproveita tecidos os mais diversos.

Como num jogo, Su Martins recolhe os materiais e a partir deles vai descobrindo que formas podem ser delineadas e costuradas, num verdadeiro diálogo entre artista e matéria-prima. Nessa descoberta, trabalho e inventividade se associam, plasmando peças belas ou, como preferiria Pareyson, exitosas, funcionais e sustentáveis. Assim, se descortina o estilo Su Martins com seu modo de formar lúdico e responsável a um só tempo, criando uma moda para a vida!

Renata Pitombo Cidreira é professora da UFRB, jornalista e pesquisadora de moda. Autora de "Os sentidos da moda" (2005), "A sagração da aparência" (2011) e "As formas da moda" (2013), entre outros títulos.

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