Dior e Almodóvar: parceria de sucesso entre moda e cinema
Julieta, de Almodóvar -
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Em cartaz, no circuito de cinema sala de arte, Julieta, mais novo filme do diretor espanhol Pedro Almodóvar, traz uma parceria com a Maison Dior no figurino. Ao explorar o universo feminino, sobretudo na sua relação com a maternidade, o diretor consegue envolver o espectador numa narrativa comovente e retrata essas mulheres de forma espetacular. E, sem dúvida, o modo como cada uma delas aparece na película, sobretudo através da composição da aparência, é essencial para conferir potência aos personagens.
Fotos: Divulgação Inspirado em contos da ganhadora do Nobel de Literatura Alice Munro, o vigésimo filme de Almodóvar investiga o lado sombrio da maternidade. Tanto Almodóvar quanto Munro exibem o raro talento de investigar a psicologia feminina sem cair no estereótipo ou no lugar-comum. O resultado deste encontro é surpreendente! E parte do êxito da película deve-se à presença sempre forte do figurino, nos filmes do diretor espanhol. Pela primeira vez, temos a presença da Dior numa narrativa de Almodóvar, que já contou com a parceria de grandes ícones do mundo fashion, como Chanel, Versace, Jean Paul Gaultier e Giorgio Armani. Tantos nomes de peso em seus filmes já revela a importância que o diretor dá as vestimentas das suas personagens, ao modo como elas se apresentam ao espectador. Em Julieta, a Dior veste a atriz Michelle Jenner que faz o papel de Beatriz.
O figurino da personagem traduz com adequação seu estilo, seu modo de ser. Através do paletó de abotoamento duplo com calça "pantacourt" (tipo de pantalona na altura da panturrilha), em tons de vermelho, um dos prediletos da paleta de Almodóvar, a jornalista Beatriz se revela ao espectador com força, elegância e certo glamour, características da Maison, que se coadunam perfeitamente ao papel interpretado por Michelle Jenner, que adota peças de destaque da Maison como os brincos Tribale e a queridinha bolsa Diorever.
A presença da Dior em Julieta só reforça uma parceria com excelentes resultados entre a moda e o cinema. Reafirma, assim, a potência do figurino na constituição mesma dos personagens. O ator só se sente investido do seu personagem no momento em que se encontra re-vestido de uma peça de roupa ou mesmo de um adereço. Como ressalta a pesquisadora Antonella Giannone, o vestuário é uma unidade entre o gênero e o estilo, seja do ponto de vista estético-visual, seja do ponto de vista dos sentidos que expressa, e é um fator fundamental para assegurar a credibilidade do mundo representado na película. Ele se encarrega de imprimir uma marca visual nos personagens, o que os torna inconfundíveis uns em relação aos outros. O cinema e a moda são, na atualidade, duas grandes indústrias que se reforçam, pois existe entre elas complementaridade, competição e contaminação. Alicerçadas numa cultura de massa, em que há uma reprodução massiva de produtos e obras, constituídas sobre uma comunicação global, em que o que efetivamente se consome são signos, como já alertava Jean Baudrillard, a moda e o cinema realizam de modo exemplar essa circulação de sentidos. Além disso, são capazes de problematizar a relação entre imagem e identidade. Criam e recriam mitos e estrelas que marcam épocas e invadem o imaginário e o desejo de cada um de nós, provocando, muitas vezes, uma reflexão sobre o modo como nos representamos a nós mesmos, através da imagem. Renata Pitombo Cidreira é professora da UFRB, jornalista e pesquisadora de moda. Autora de Os sentidos da moda (2005), A sagração da aparência (2011) e As formas da moda (2013), entre outros.