Diversão que encanta: inverno surpreendente da Empório Armani
Um inverno alegre e divertido. É o que nos sugere a nova coleção outono-inverno 2017/2018, da Empório Armani, apresentada na quarta-feira, dia 24 de fevereiro, na Semana de Moda de Milão. Famosa por seu preciosismo na alfaiataria, a grife não descuidou em nenhum momento desse item, associando-o a uma poética lúdica, recheada de elementos que nos remetem à década de 1980, conservando, ao mesmo tempo, a elegância clássica.
Fotos: Divulgação | Empório Armani
A marca italiana, fundada em 1975 pelo designer Giorgio Armani, apostou, mais uma vez, numa linha feminina repleta de trajes associados, comumente, ao universo masculino. No entanto, desenvolveu acabamentos, tecidos e cortes que privilegiam as formas femininas. Dessa maneira, trouxe para a passarela a possibilidade de combinatórias cheias de irreverência, divertimento e muita alegria, sugerindo um inverno descontraído e repleto de cor, demonstrando que é possível manter a elegância com muito humor.
Marcadamente múltipla, a década de 1980, inspiração da coleção da Empório Armani, aciona uma explosão de tendências, conduzindo à liberação individual, garantindo a todos ocasião de modular e combinar suas vestes e acessórios em diversas composições da aparência. Tal espírito encontra ressonância na própria sociedade multifacetada. Sedução, espírito esportivo, dissonâncias, exageros, praticidade, entre outros aspectos, passam a proliferar nos corpos vestidos. Assim, como observa Françoise Vincent-Ricard, a moda se torna fonte de dinamismo, expressando, de forma contemporânea, as raízes das culturas dos três continentes planetários: a cultura europeia e seu refinamento, a cultura americana e sua praticidade e a cultura oriental e sua sobriedade.
Investida de elegância e divertimento, a coleção nos devolve ao tema da brincadeira, do jogo que mobiliza nossas ações e da ludicidade que permeia a criação humana
Nas peças da Empório Armani verificamos o uso de matérias primas como o verniz, o plástico, o veludo, a malha, a lã e a seda, bem como paetês. Na paleta de cores, aparecem o rosa, azul, vermelho, verde em tons vibrantes e fluorescentes, nos reportando aos globos de luz coloridos das discotecas. Os quadriculados texturizados, as maxiflores e os motivos cintilantes também se fazem presentes, ao lado de muitas lantejoulas e cristais multicoloridos adotados em vestidos de noite, bastante sensuais.
Na modelagem, destaque para as golas desestruturadas dos casacos, com ares masculinos; grandes casacos alternam com pequenas jaquetas usadas com calças soltas; saia-calça, blazer trespassado, smoking, saias plissadas longas e saias maxi, realçadas por leggings super slim. Para garantir a feminilidade da linha, a grife traz vestidos e saias-shorts que ganham uma injeção de mood esportivo com os detalhes listrados. Entre os acessórios, selecionamos as botas e as luvas de couro com babados. Percebemos, assim, que na variação das peças, a coleção atualiza os elementos que compuseram a aparência da década de 1980: refinamento, praticidade e sobriedade, aliados a sensualidade, esportividade e um toque de moderação frente ao suposto exagero da década.
Tal perspectiva poética, aliando de modo exitoso forma e conteúdo, nos convida a pensar que a marca encontrou uma saída interessante para refletir os anseios das pessoas que vivenciam um momento de desesperança e, talvez aí, encontremos a resposta para a aceitação tão positiva da mais recente criação de Giorgio Armani. Investida de elegância e divertimento, a coleção nos devolve ao tema da brincadeira, do jogo que mobiliza nossas ações e da ludicidade que permeia a criação humana. Lembramos aqui as palavras de Johan Huizinga quando afirma que a poiesis é uma função lúdica; ela se exerce num mundo no qual as coisas adquirem novas feições, diferenciadas daquelas da ‘vida comum’, nos reportando a um plano mais primitivo e originário em que se inserem a criança, o selvagem e o visionário. Instalamo-nos, assim, na região do sonho, do encantamento, do êxtase, do riso. E, sem dúvida, é para lá que a Empório Armani nos transporta com sua irreverência e bom humor. Um excelente recurso para nos lembrar do papel do lúdico na vida contemporânea...!
Renata Pitombo Cidreira é professora da UFRB, jornalista e pesquisadora de moda. Autora de Os sentidos da moda (2005), A sagração da aparência (2011) e As formas da moda (2013), entre outros.