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Pensando Moda

Por Renata Pitombo Cidreira

ACERVO DA COLUNA
Publicado Monday, 25 de June de 2018 às 8:08 h | Autor: Renata Pitombo Cidreira

O mundo da moda na Copa do Mundo: elegância e sobriedade no futebol

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Ricardo Almeida concebeu os looks da delegação brasileira para a Copa da Rússia
Ricardo Almeida concebeu os looks da delegação brasileira para a Copa da Rússia -

O Brasil adora uma novidade. Também sabemos que é um país que ama o futebol. Sendo assim, nada mais oportuno que reunir essas duas paixões e estabelecer uma relação mais próxima entre a Copa do Mundo e o Mundo da Moda. Essa, sem dúvida, foi a visão da CBF quando decidiu reintroduzir a elegância aos looks dos jogadores nesta Copa de 2018, associando duas paixões nacionais. Assim se reforça não só o gosto do brasileiro pelo jogo de futebol, um dos marcos da nossa identidade; como também reafirma o gosto do nosso povo pela inovação e pelas mudanças na aparência.

Uma jogada que, à princípio, pode parecer secundária e até superficial, evidencia, na verdade, uma inteligente estratégia de marketing e mídia. Ao valorizar a imagem dos jogadores de futebol, alguns deles verdadeiros ídolos e celebridades, a CBF potencializa o poder de marca que a seleção brasileira carrega, associando elegância e autoestima às imagens dos atletas; bem como reintroduz um outro valor extremamente importante para esse mundial: seriedade e compromisso com o trabalho e a performance a desempenhar nos gramados.

Já no final da década de 1980, Gilles Lipovetsky chama atenção para a moda e seus destinos nas sociedades modernas e faz, de certa forma, o elogio da aparência. Nas suas reflexões constata que uma cultura da moda se insinua e se dissemina por várias esferas da sociedade, aportando valores como efemeridade, instantaneidade, sedução e descartabilidade, como também examina com agudeza a vida das estrelas e, acrescentaríamos, das celebridades. O autor ressalta a sacralização da individualidade e das aparências dos ídolos, mostrando que a estrela potencializa a personalidade comum assim como a moda potencializa os modos de aparecer. E esse fenômeno está muito presente no mundo do futebol em que nossos jogadores se tornaram verdadeiros pop stars.

E, nesse caso, com a profusão dos meios de comunicação de massa e as plataformas digitais, percebemos que a visualidade de cada jogador não é mais um elemento decorativo, agora é também um aspecto constituinte do posicionamento de cada um deles frente ao esporte, ao mundo e a vida. Por isso mesmo o investimento na imagem da seleção e dos jogadores, em particular, se torna tão essencial no momento atual.

Foi nesse cenário que o designer paulista Ricardo Almeida concebeu os looks da delegação brasileira para a Copa da Rússia. Renomado por seu trabalho de alfaiataria, o estilista elaborou costumes (conjunto de calça e paletó), camisas, gravatas e sapatos que vestem os jogadores e a comissão técnica do Brasil. O resultado foi conferido na chegada oficial a Sochi, na Rússia, e chamou a atenção do público em geral e dos profissionais da moda, sobretudo pela elegância das peças. O corte, a modelagem, o caimento e o acabamento das roupas é de uma precisão técnica impressionante; além disso, os tecidos escolhidos e as tonalidades em azul marinho (novo preto da alfaiataria) e branco, além dos detalhes em verde e amarelo, e o dourado do forro dos paletós dão um aspecto de extremo bom gosto aos corpos vestidos.

Um dos maiores nomes da moda masculina no Brasil, Ricardo Almeida pensou em muitos aspectos quando projetou e criou o uniforme da seleção brasileira. Desde o detalhe do forro do paletó que traz as duas taças já conquistadas pelo Brasil (a Jules Rimet e a Copa da Fifa), em dourado fosco com grafismos inspirados no construtivismo russo; passando pela gravata mais delgada, com largura de 4 cm para os jogadores e 6 cm para os demais; o brasão da CBF no lado esquerdo do peito; até os sapatos marrons que também levam sua assinatura. As criações têm uma silhueta mais ajustada, com uma modelagem que procura valorizar o corpo atlético do jogador.

Imagem ilustrativa da imagem O mundo da moda na Copa do Mundo: elegância e sobriedade no futebol
| Foto: Lucas Figueiredos | Divulgação | CBF
Ao valorizar a imagem dos jogadores, a CBF potencializa o poder de marca que a seleção carrega | Foto: Lucas Figueiredos | Divulgação | CBF

Além de Ricardo Almeida, atuando especificamente para a seleção brasileira, não podemos deixar de falar que a Nike também apostou consciente na elaboração das peças para os jogos dessa Copa. As camisas são ecologicamente corretas e visam uma alta performance do atleta. As peças são produzidas a partir de garrafas PET recicladas. Para cada time, a empresa derreteu de 12 a 18 embalagens plásticas, que foram transformadas em flocos e depois em pastilhas. As pastilhas, por sua vez, foram também derretidas até virarem fios. A tecnologia, utilizada nas camisas (vestidas pelo Brasil, Portugal, Croácia, Austrália, Arábia Saudita e Coréia do Sul, entre outros), leva em consideração tanta a performance esportiva quanto a sustentabilidade.

São a moda e a tecnologia trazendo novidades e a possibilidade de uma efetiva renovação do futebol. Expertise técnica e sensibilidade cultural elevando nosso principal esporte e valor nacional para o restante do mundo. Além disso, a promessa de uma mudança de atitude e postura, incorporando elegância e sobriedade. Na aparência, no futebol e, quem sabe, no país. Agora, é só continuar na torcida!

Imagem ilustrativa da imagem O mundo da moda na Copa do Mundo: elegância e sobriedade no futebol
| Foto: Ricardo Almeida | Divulgação
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Renata Pitombo Cidreira é professora da UFRB, jornalista e pesquisadora de moda. Autora de Os sentidos da moda (2005), A sagração da aparência (2011) e As formas da moda (2013), entre outros.

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