Com cautela e coragem
Confira a coluna do jornalista Angelo Paz
Quando saiu a escalação para o confronto com o Bragantino muita gente estranhou. Um receio proporcional a surpresa pela titularidade de Jean Mota, que sequer tem entrado nos jogos neste segundo turno. O que se passou pela cabeça de Carpini, que não tem lá um perfil previsível, mas que procura sempre seguir uma linha, digamos coerente, de raciocínio? Entendemos apenas na entrevista pós-jogo, quando o treinador explicou a intenção de iniciar o jogo com mais equilíbrio.
Sem ritmo e longe de justificar o investimento na sua contratação (o Vitória pagou 350 mil dólares só para antecipar a sua saída do Inter Miami), Mota é hoje o único meia com perfil de controle de bola do elenco. Foi justamente essa característica que fez Carpini apostar no canhoto, que sim, se esforçou, mas não conseguiu entregar em campo o que se esperava da sua presença. Em muitos momentos faltou uma coordenação melhor com Matheuzinho, com quem dividiu o mesmo espaço por vezes.
Mas essa novidade na escalação teve, no fundo, uma justificativa largamente expressa por Carpini em outras oportunidades: a busca por resguardar o time, técnicamente inferior a grande parte dos adversários. Buscar a trocação, nestes casos, pode ser fatal. Principalmente pela dificuldade de correr atrás do perjuízo após um eventual primeiro golpe. Esse papo alinhado a análise de uma luta de boxe tem total relação ao atual momento do Vitória, com mais oito rounds decisivos para buscar manter-se de pé na Série A.
Com Jean Mota ou não, o que será muito mais provável, Carpini vai buscar nessa reta final sempre uma proposta de jogo equilibrada, para evitar dar grandes chances aos adversários. Entrar 100% focado na Vitória sim. Mas não dá para vencer de peito aberto em um campeonato como rivais mais qualificados. Imagine você que, só pela necessidade de vencer, Carpini resolve colocar um time muito ofensivo para encarar o Fluminense de Ganso, Arias e Cano amanhã? A probabilidade do pior ocorrer seria muito grande.
Portanto, o Vitória vai tentar se superar mais uma vez na base da cautela. Pelo menos no período inicial da partida, quando o jogo se mostra mais estudado. Ai sim, aos poucos, ir se soltando, como fez contra o próprio Bragantino, com as cinco modificações possíveis antes dos 20 minutos do segundo tempo. Se erra em certos momentos, o que é absolutamente normal para todos nós, Carpini acerta em muitos outros, muito pela sua capacidade de enxergar bem a partida, caracteristica evidente nesta campanha de recuperação rubro-negra.
Clara também é a melhora gradual da equipe, que tem a oitava melhor campanha do returno. A competência rubro-negra nas últimas 11 partidas é tamanha que, restando oito partidas para o fim do campeonato, o time já superou a pontuação que fez no primeiro turno: são 17 pontos somados em 11 jogos, sendo cinco vitórias, dois empates e quatro derrotas, o que siginifica um aproveitamento de 51%.
Uma recuperação que tem feito o Vitória se manter sempre muito vivo na luta contra a degola. Os três pontos contra o Fluminense podem até colocar o rubro-negro na 14º colocação, algo nada habitual ao longo dessas 30 rodadas até então. É com cautela e coragem que o Vitória de Carpini pisará no Barradão pulsante para conseguir mais este passo pela sobrevivência.