A onda de TVs “on demand” no Brasil: para que serve e a quem interessa?
Meses atrás escrevi uma coluna dedicada apenas ao serviço de streaming Netflix, pesando prós e contras dessa ferramenta, que vem a ser uma forma de ver conteúdo on demand (sob demanda, ou simplesmente “quando você quiser”).
Muitos especialistas acham que ver conteúdo on demand será o futuro da TV. Eu não posso negar, mas acho que isso ainda vai demorar muuuuuitos e muuuuitos anos.
Conforme expliquei lá atrás, para quem gosta de noticiário e esportes, por exemplo, o Netflix é absolutamente inútil.
Já os consumidores que estão se lixando para telejornais e esportes, e gostam só de filmes e seriados, ter Netflix é uma excelente alternativa de economia, pois você pode cancelar seu pacote de TV por assinatura, pagar só internet e passar o resto da vida se deliciando nas centenas ou milhares de filmes e séries de seu catálogo.
Só que vocês, leitores queridos de A TARDE, bem como todo o Brasil, já devem ter notado que quase todas as TVs por assinatura ultimamente têm anunciado seus serviços de TV on demand também. Esse serviço é mais ou menos como um “netflix”: ou seja, uma forma de assistir conteúdo também na internet.
Globo, Band, Record e SBT já dispõem sua programação na internet (em alguns casos, como a Record play, é preciso pagar).
Já outros canais fechados, como SporTV, Globonews, Multishow, GNT, Comedy Central, MTV etc. etc. abrem gratuitamente sua programação ao internauta – mas, claro, desde que ele assine o mesmo canal da TV paga. É uma espécie de “bônus”.
Então a pergunta que fazemos é: para quê e para quem servem as TVs on demand?
Bom, segundo dados apurados por esta coluna, a resposta é: para quase ninguém.
Isso mesmo. O universo de pessoas e ou assinantes que acessam canais de TV no computador ou celular ainda é tão residual no Brasil que nenhuma emissora divulga seus números. Aliás, parece ser semelhante ao número de pessoas que acessam a internet por meio de sua smartv no Brasil. Beira o zero também.
É fácil perceber o porquê: nenhuma TV – aberta ou fechada – está interessada de verdade em investir ou atrair telespectadores para suas plataformas on demand – não no curto prazo.
Basta notar, antes de mais nada, que o “design” e a ferramenta da maioria desses canais “Play” na internet são uma verdadeira joça.
Mal feitos, feios, mal desenhados, alguns têm uma navegação que beira o imbecil (ou talvez o muito esperto, porque ninguém de sã consciência quer ficar ali).
Experimente tentar assistir a seriados no Globosat Play, por exemplo, que deveria ser o mais avançado no país: certamente o usuário mais impaciente poderá desenvolver uma úlcera raivosa, tal a falta de praticidade: o sistema de busca é pobre; os seriados entram e saem do inventário sem qualquer aviso; as legendas são toscas e, muitas vezes, tão minúsculas que mal podem ser vistas (e essa crítica vale também para a dona Netflix)
Há outras iniciativas mais ousadas (ou melhor chamar de tolas?), como o serviço R7 Play, da Record, que ousa querer cobrar do usuário que quiser ver capítulos de uma novela bíblica gratuita só porque está sendo acessado no computador.
É muita empáfia, para dizer o mínimo. Ou muita falta de visão de mercado, para dizer o pior.
Por isso, toda vez que vocês ouvirem falar nessa ou aquela emissora que agora também chama “play” e está abrindo seu conteúdo na internet, podem bocejar à vontade.
A impressão que dá é que nenhuma TV quer você ali diante do computador.
Elas fingem que entraram na onda on demand, que são moderninhas, mas o que querem mesmo é que você continue ainda por muitos e muitos anos sentado com a família no sofá da sala, diante de um aparelho de TV pra lá de convencional.