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Coluna Ricardo Feltrin

Por [email protected]

ACERVO DA COLUNA
Publicado domingo, 14 de agosto de 2016 às 8:02 h | Autor: [email protected]

Cobertura esportiva da Rio-16 na TV virou um Carnaval

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Equipe da Globo Olimpíadas
Equipe da Globo Olimpíadas -

Há 10 dias o país está tomado pelo chamado "espírito olímpico". A Lava-Jato e nossa valorosa Polícia Federal não dão trégua, mas o noticiário principal agora vem da Rio 2016: seus heróis, seus vilões, suas histórias de superação e, principalmente, seus comentaristas e narradores hiperbólicos e descompensados.

Não, não estou sendo rabugento (de novo). Entendo perfeitamente as reações emocionais que o esporte causa, especialmente numa Olimpíada - tanto ao público presente como ao telespectador diante da TV.

Mas me parece que a chamada cobertura esportiva, especificamente na TV aberta brasileira, está cada vez mais longe do jornalismo e próxima da dramaturgia, quando não da ficção. Num só dia desta semana ouvi a palavra "emoção" nove vezes, em pouco mais de três horas de transmissão da Globo. Quem estava no ar? Galvão Bueno e seus amigos, claro.

As demais reportagens da emissora sobre os Jogos acompanham essa vibe. Tudo que é exibido na Globo tem muita trilha sonora triunfal, muito slow-motion, muitos closes em caras e bocas dos atletas, muito ângulo na festa da torcida, e muito oba-oba com o que se passa na Vila Olímpica.

Tudo de negativo que ocorre, porém, ganha dos repórteres e apresentadores globais um caráter formal, registrado quase que só burocraticamente.

Agressão aos homens da Força Nacional, tiroteio, estupro de camareiras por atletas, casos de violência, bala que atingiu uma instalação olímpica… tudo foi noticiado, claro, mas de uma maneira bem superficial e ligeira.

Há "trocentas" horas de análise sobre a atitude de Neymar, o Playboy, mas zero minuto de discussão sobre o legado de elefantes brancos que os Jogos vão deixar para o Estado e a Federação. Parece que estão dizendo: "Ah, não vamos falar disso, agora é festa".

Devo confessar aos leitores queridos de A TARDE que sempre me perguntei se a gente pode realmente chamar a cobertura esportiva na TV como jornalismo de fato.

Também me pergunto isso sobre a cobertura de televisão, a qual considero "entretenimento". Afinal, assim como os esportes, televisão também não é assunto fundamental da sociedade.

Mas ambos estão tão arraigados à cultura popular que, para vocês saberem, são exatamente essas duas áreas que mais audiência dão: todo mundo quer saber de esporte e de TV.

A origem disso que eu chamo de "jornalismo ficcional" é a TV Globo. Seu jeito de fazer a cobertura esportiva se espalhou para todas as demais emissoras.

Repórteres de outras TVs a copiam e também são cheios dos mesmos maneirismos, entonações exageradas de voz e muito, mas muito texto piegas, onde as palavras "superação", "empenho", "emoção" são repetidas feito ladainha religiosa.

Quase ninguém tinha falado em Rafaela Silva desde o começo dos Jogos, mas quando ela ganhou a medalha de ouro no judô, alguns repórteres vieram a público como se tivessem sido os primeiros a acreditar na menina pobre e ex-favelada, pois sabiam que ela venceria na vida e blablá. Fica um cheiro de canastrice no ar.

Até emissoras fechadas estão caindo nessa arapuca editorial: a ESPN, por exemplo, que já se orgulhou no passado de que seu negócio de verdade era "informação", já mudou até o slogan: agora é "Tudo pelo Esporte". E quando se diz tudo, isso vale inclusive para a mudança de identidade.

Aqui vale um registro de exceção: de todas as emissoras abertas, ao menos, a que mais têm apostado em matérias originais e transmitido informação esportiva relevante é a Band.

Desde a festa de abertura, embasada sobre essa enciclopédia histórico-esportiva que é o jornalista Álvaro José, a emissora tem feito uma transmissão diferenciada, com muitas matérias de comportamento, muita contextualização histórica e até críticas à (falta de) organização dos Jogos.

Curiosamente, a Band é a TV que menos aposta nas chamadas "mesas-redondas" e "bate-bolas" à la Galvão, ESPN e Fox Sports, onde os tons predominantes são: 1) tentativa de "vidência" de resultados antes das disputas 2) "explicacionismo" dos resultados após as disputas.

Penso que, cada vez mais, Globo e demais emissoras estão transformando a cobertura esportiva em um novo Carnaval.

Pré-encerramento

Todas as emissoras abertas, sem exceção, farão cortes volumosos em suas equipes esportivas até o próximo dia 31. A Record deve ser a primeira. É uma pena.

Encerramento

A Band vai amargar um prejuízo multimilionário com a transmissão dos Jogos. Depois de gastar quase US$ 200 milhões em direitos de transmissão de esportes para este e os próximos anos, a emissora viu sua audiência se mexer muito pouco com a Olimpíada. Seu Departamento Comercial também não terá boas lembranças da Rio 2016. É uma pena.

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