A carta combinada | A TARDE
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A carta combinada

Publicado quinta-feira, 13 de novembro de 2014 às 09:49 h | Autor: .

Foi dura a carta enviada pela ministra demissionária da Cultura, Marta Suplicy, a Dilma Rousseff. A presidente disse, no entanto, que "tudo estava acertado entre as duas".
A decisão de sair do governo teria sido tomada pela senadora há um mês e "combinada com ela". Talvez não tenha sido bem assim.

A presidente acabou por se contradizer ao afirmar que a ex-ministra "apenas externou a sua posição".

Ora, se é a posição dela, de Marta, não significa que foi uma opinião casada, e, se assim foi, não estava nada acertado entre as duas, nem Dilma Rousseff conhecia o teor do documento, porque o que Marta disse foi exatamente o que segmentos inteiros, principalmente daqueles descontentes com a política econômica deste primeiro mandato, queriam dizer.

O temperamento da presidente é marcado pela centralização do poder. Assim posto, "ela não iria acertar com a senadora o teor do documento". A carta foi forte.

Afirmava que desejava que Dilma estivesse "iluminada" na escolha do novo ministério e aconselhava que a presidente desse "independência" para agir ao futuro ministro da Fazenda e a sua equipe. Seria muito difícil que Dilma aceitasse conselhos e termos como estes num documento que seria levado ao conhecimento público.

Dilma se apressou a esclarecer o fato enviando a sua declaração de Qatar, onde fez uma parada técnica na sua viagem à Austrália para a reunião do G-20. De mais a mais, ela estrilou dizendo que não marcou tempo para decidir sobre a escolha do seu futuro ministério, diante da expectativa em torno da questão.

Ela havia dito, e foi publicado, que escolheria o ministro da Fazenda logo após o seu retorno da Austrália e é esta a expectativa que há por estas bandas.

Com as dificuldades em diversas áreas que o Brasil ora atravessa, em consequência do mandato torto que é exercido neste primeiro quatriênio, é natural que haja apreensão de segmentos da área econômica sobre o novo ministro que ocupará o posto de Guido Mantega.

A indústria brasileira atravessa uma fase dificílima, em consequência da política cambial, dos impostos cobrados e, ainda, o problema do aumento das importações e a queda das exportações, principalmente de produtos oriundos da China que abarrotam o mercado brasileiro por serem, sobretudo em relação ao setor têxtil.

Ou o país resolve este desequilíbrio, protegendo o setor industrial brasileiro, ou ele vai à breca. Esta é uma das questões que estão na ordem do dia, mas é bom que não haja esquecimento do social, que passou a perder as vantagens que a nova classe média havia adquirido, e hoje está endividada. Nem, muito menos, deixar de se voltar para a pobreza absoluta, a miserabilidade, que passou a crescer no país, principalmente no Nordeste, que presenteou Dilma com a reeleição. Vem daí a pressa para que a presidente acelere, mas, com cuidado, a formação do futuro ministério, principalmente o da Fazenda. Aliás, há sinais de que ela poderá tornar ministro o suplente de senador que ocupou a cadeira de Marta Suplicy, que, por sinal, é presidente do PR.

Trata-se do vereador Antônio Carlos Rodrigues. Não são sinais favoráveis, porque, sendo presidente de um partido, poderá ser um jogo de simples troca. O PR tende a formar com a oposição ao governo, assim como outros partidos, como o PTB.

Já para o Ministério da Cultura o nome mais cotado para o lugar de Marta é o cantor paraibano Chico César. De mais a mais, a presidente viajou para o G-20 com parada técnica no Qatar a convite do emir do pequeno país produtor de petróleo do Oriente Médio. Viajou acompanhada da filha. Ficou hospedada num hotel cuja diária é de R$ 30 mil. Dinheiro que não saiu dos cofres brasileiros e, sim, foi uma cortesia do emir. Pelo menos.

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