A crise entra em agosto
Em plena crise que se generaliza com as dificuldades econômicas do país, somada à crise política detonada por estranhas movimentações no Congresso Nacional, a começar pelos impulsos do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aproximam-se os dias vindos de agosto que sempre representou um mês aziago, onde as crises tendem a se aprofundar. O que se observa são dificuldades que passaram a acompanhar o segundo governo Dilma Rousseff, uma presidente que se perdeu no contexto por ela mesmo criado, então desconhecido até a sua reeleição em outubro último.
O mito de agosto vem das crises que por muito tempo eclodiram neste mês no país, a maior das quais a morte de Getúlio Vargas no dia 24 do mês, em 1954, que gerou uma comoção popular no país inteiro - a maior para a época - principalmente na classe trabalhadora. Getúlio provavelmente seria derrubado pelo conluio político que se formou contra ele, à frente o udenista Carlos Lacerda que tramava o golpe que fatalmente aconteceria se Vargas não entregasse a vida desferindo um tiro no peito, deixando uma carta-testamento com a qual entraria definitivamente na história, como escreveu.
Sua morte balançou a república e o transformou no principal político do século XX, o que, aliás, ele já era desde a Revolução de 30, que marcou o fim da república velha e viria a transformá-lo em ditador com o Estado Novo de 1937.
Por muito tempo o Brasil temeu os dia idos e vindos do mês que chega, até que, pouco a pouco, o mito desapareceu, mas agora volta a se transformar num fantasma que, diante a crise que coloca, mais uma vez, o Brasil é posto em xeque. Não será a maior. Dificilmente outra haverá como o 24 de agosto de 1954, mas o país não consegue romper as crises circunstanciais - a do momento uma das piores - que não estava no calendário da previsibilidade.
Surgiu a partir da incompetência, dos desacertos, somado a problemas -também crises - que vem de fora e que somente as nações mais importantes as ultrapassaram, principalmente os Estados Unidos, a Alemanha, a Inglaterra, um pouco a França, mas outras como a Espanha, Itália, Portugal e, sobretudo, a Grécia, esta em plena ordem do dia, não conseguem romper.
O governo Dilma espera que um homem só, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, resolva os problemas que atormentam grande parte da população, principalmente a de classe mais baixa, além de devorar as principais empreiteiras, envolvidas na mais abjeta e inesperada corrupção. Acontece que Levy está praticamente solitário e não sabe com quem conta no governo. Tem sido vítima da intransigência do ministério, e das dificuldades que encontra no Congresso Nacional para completar os ajustes fiscais que, sem outra saída, é a única visível até então.
Levy parece falar sozinho. Se ele conseguir ultrapassar e devolver o país a seus eixos, provavelmente se transformará - e isso é uma premonição - no nome mais importante da republica que emergirá pós-crise. Se quiser, poderá ser um nome para a eleição de 2018, porque o Brasil, de certo modo, passou repentinamente a ser carente de homens com respeitabilidade política.
Na próxima segunda-feira, 3, o Congresso retorna do recesso, mas os parlamentares, como sempre, só chegarão a Brasília na terça. Há uma expectativa sobre como começarão a atuar, porque as duas casas - Senado e Câmara - estão de pernas para o ar. Espera-se que retornem com o entendimento de que é necessário ajudar o país a sair da crise, e não ficar em torno da politicalha que é comum entre eles.
Afinal, o Brasil está na iminência de ser o principal país emergente a perder o grau de investimento, e se isto acontecer a crise recrudesce e será impossível predizer o que poderá acontecer mais adiante.
Dentre os emergentes, só a Rússia perdeu o grau de investimento. Mas é diferenciada. Nós não podemos ficar na fila esperando, sem nada fazer, o que ocorrerá na próxima esquina.