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A guerra no Congresso

Publicado quinta-feira, 20 de novembro de 2014 às 09:40 h | Autor: .

Não é novidade, mas nada mais foi do que uma indecência. O Congresso Nacional se reuniu na noite da terça-feira para decidir uma saída para a presidente Dilma Rousseff e suas contas que fechariam, ou fecharão, o ano no vermelho.

Foi uma noite de cão. A sessão chegou ao início da madrugada de ontem, decidindo-se, a princípio, favoravelmente à presidente. Na manhã de ontem, o líder do governo no Senado, Romero Jucá, reconheceu que não houve a discussão da matéria, num recuo que a remeteu de volta para a Comissão Mista de Orçamento da Câmara.

O que a presidente quer, e provavelmente vai conseguir, porque a Comissão da Câmara é majoritariamente constituída de governistas, é fechar as contas de 2014 com déficit fiscal. Foi um jogo no qual o governo a princípio ganhou, deixando, no entanto, um rastro que deformaria a legislação se o retrocesso não acontecesse.

Nada mais foi do que um forte indício de que não se poderá, mesmo em 2015, esperar avanços políticos deste Congresso, cuja renovação nas eleições de outubro foi pequena. Mesmo o governo enfrentando uma crise sem registro, na economia e diante do escândalo de corrupção que balança a Petrobras, as dificuldades que envolverão o segundo mandato de Dilma tenderão a se alastrar.

Não se deve esperar muito do Congresso, embora exista um clima que facilitará as ações da oposição, na medida em que emergiu com mais força, diante da diferença pequena de votos entre Dilma e Aécio Neves.

Ainda há, para turvar o cenário, as dificuldades que o Poder Legislativo terá que enfrentar, quando for dada à luz a relação dos parlamentares (deputados e senadores) envolvidos no escândalo da petroleira. No caso da brigalhada no Congresso na noite de terça-feira, é possível que o recuo governista tenha havido diante da ameaça oposicionista de entrar com um processo judicial no Supremo Tribunal Federal para anular a sessão, porque não houve, como de fato o líder governista no Senado, Romero Jucá, se apressou em reconhecer, a discussão da matéria.

O fato é que Dilma precisa sair da complicada situação em que se encontra, na medida em que ficará difícil aceitar fechar as contas da união com déficit, quando ela não reconheceu em toda a campanha eleitoral que a crise econômica instalara-se no país. Se aceitasse tal realidade, poderia perder a eleição, o que por pouco não aconteceu. Ademais, a presidente tem pressa para sair da situação em que está. O tempo é curto e o Congresso entrará em recesso. Desta forma não poderia ficar refém de uma decisão do STF. Politicamente fez o melhor, reconhecer que diante da guerra instalada entre deputados e senadores a matéria não foi discutida no plenário. Com os ânimos alterados, a sessão foi encerrada sem que houvesse sequência no rito regimental.

Amigo urso

Na longa reunião com Dilma - nada menos de 10 horas -, Lula teria a ela sugerido o nome do governador Jaques Wagner para presidir a Petrobras. Discutia-se a formação do ministério, dentre outras coisas. Não há informações consistentes sobre a sugestão, mas, se aconteceu, creio que pode ser considerada uma lembrança de um amigo urso. Na situação que a petroleira se encontra, ao cair da condição de mais importante empresa brasileira para o terceiro lugar, imersa numa crise marcada pela corrupção mais abjeta, decididamente a presidência não é cargo para se almejar. Pelo contrário, é cargo para endoidar qualquer mortal, e talvez Wagner também pense desta maneira.

A Petrobras ficará por muito tempo nas manchetes; também por muito tempo se descobrirá corrupção em diversos setores da empresa, enfim, será um inferno presidi-la. Quem ficará tranquilo sabendo que, a qualquer momento, podem surgir novos escândalos até então desconhecidos?

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