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Domingo do voto

Publicado domingo, 26 de outubro de 2014 às 13:49 h | Autor: .

O final desta campanha presidencial é idêntico ao que aconteceu no primeiro turno: eletrizante. Não dá para comparar com a primeira eleição presidencial direta pós-ditadura, travada entre Collor e Lula, em 1989, que também primou pela disputa.

Afinal, era o primeiro confronto registrado em sequência à Constituição democrática de 1988. A que se finda hoje foi marcada por uma tragédia que abalou e comoveu o País. Foi ainda determinada por mudanças de candidatos; pelo fenômeno repentino da ascensão e queda de Marina Silva, e pelo retorno de Aécio Neves à campanha no último dia do primeiro turno, para estabelecer com Dilma Rousseff a definição do futuro presidente da República.

Neste segundo turno presenciou-se uma queda de braço a partir das pesquisas entre Rousseff em busca da reeleição e Aécio Neves. Assim permaneceram até esta última semana quando Dilma tomou a dianteira ultrapassando Neves, ameaçando uma definitiva mudança do cenário até então indefinido. Os brasileiros vão hoje ás urnas diante de uma vantagem razoável da presidente, mas ouvindo o zumbido. Numa campanha de muitas mudanças a expectativa mantém-se até o resultado final, na medida em que a incógnita foi a marca desta eleição, desde o início, ou a partir do começo da propaganda eleitoral na mídia eletrônica.

É difícil, a princípio, uma oscilação, mais uma, para marcar o ponto final da campanha, embora não se possa afastar a hipótese diante da dramaticidade que acompanhou todo o percurso do jogo político-eleitoral. Trata-se de uma característica da democracia que ocorre poucas vezes, sobretudo nos países com o sistema já sedimentado e basicamente bipartidário. Pela primeira vez verifica-se no Brasil, onde há muitos partidos políticos, consequentemente, candidatos representantes de diversas legendas. Só para relembrar, na primeira eleição presidencial direta, a de 1989, Collor e Lula surpreenderam, mas de forma diferente. O primeiro na condição de um aventureiro oriundo de Alagoas e, o segundo, um líder metalúrgico que ainda não estava pronto para dirigir o País. Observou-se, no entanto, que diante de inúmeros políticos renomados, como Ulysses Guimarães, Leonel Brizola, Mário Covas, dentre outros, Collor e Lula foram exatamente os dois que saltaram à frente e foram para a disputa do segundo turno.

Já naquela época o País procurava o novo, afastando-se dos políticos oriundos do período pré-ditadura. Collor sequer tinha um partido. Pouco antes de lançar sua candidatura ele mesmo construiu o seu, o Prona. Depois de apeado do poder, supostamente por corrupção, a legenda desapareceu, assim como surgiu no cenário político brasileiro. Com o passar do tempo, formou-se o embate entre dois novos partidos, posteriores à ditadura, o PT e o PSDB, ficando um terceiro, o PMDB, como linha auxiliar do poder, não importando qual fosse a legenda.

Funciona como uma sombra republicana, até como um poder moderador, embora ávida em relação aos favores do governo que apoia. O PT e o PSDB, seja qual for o resultado das urnas de hoje, estão fadados a ficar no comando da República por 24 anos consecutivos. Provavelmente esta linha de dois irá continuar, a não ser que haja uma reviravolta em relação ao PMDB numa futura eleição, pelo menos até que haja um cansaço envolvendo uma e outra legenda.

Esta eleição que hoje terá ponto final, marcada por debates muitas vezes de nível melancólico e baixo, também se expressa na mentira oriunda da propaganda feita pelos dois lados, com promessas que dificilmente serão cumpridas na sua totalidade.

Ademais, marcou um confronto inusitado em razão de as candidaturas serem orientadas pelo peso dos marqueteiros no processo de desconstrução de competidores. Esta forma de campanha não pode ser o alicerce do poder num estado democrático que, espera-se, venha a emoldurar o retrato do País.

As propostas dos candidatos foram todas expressas. Daí não merecer repeti-las nem lembradas porque muitas, como já dito, serão esquecidas por quem estiver no poder, seja lá quem for o futuro presidente. Dilma com maior expectativa de continuar no cargo e Aécio Neves que, provavelmente, se for derrotado nestas eleições, deverá se apresentar em 2018 para nova tentativa, tal como aconteceu com José Serra, duas vezes, e Lula, três vezes.

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