O Brasil dos iguais
Se a suposição do juiz Sérgio Moro, que detonou a partir da Operação Lava Jato o grande esquema de corrupção na Petrobras, estivar correta - e certamente está - a situação do país é muito pior do que se imaginava. O magistrado vê fortes indícios de que o assalto das empreiteiras superfaturando contratos e distribuindo propinas transcende a estatal do petróleo.
Muitos destes indícios foram encontrados nos documentos do doleiro Alberto Youssef. A partir deles, Moro chegou à conclusão de que o País fora minado pela corrupção e as propinas estão enraizadas em muitas obras públicas. Não só. Diversos partidos receberam dinheiro para as campanhas políticas, embora não na dimensão que chegara "como doação" ao PT, PMDB e PR.
Se, mais adiante, ficar comprovado que este descaminho está generalizado, o ano de 2015 será muito pior do que 2014, que caminha para o seu final, com a inflação estourando o limite da meta estabelecida pela política econômica posta em prática pela presidente Dilma Rousseff, a partir das inverdades sustentadas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Para o ministro, o ciclo também se encerra e, espera-se, seja para sempre, pelo menos no setor público. Espera-se, ainda, que com o novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que imprimirá uma política econômica ortodoxa, a situação melhore e não haja a engabelação corriqueira presente nas palavras de Mantega, que permearam a campanha eleitoral de Rousseff.
Em todos os setores o país atravessa um ciclo de dificuldades, perdendo posições para nações emergentes, ficando para trás a esperança de que, afinal, o Brasil teria encontrado seu caminho. Na medida em que a corrupção não está localizada (sempre esteve presente no País inteiro), pelo menos a partir do escândalo da petroleira chega-se à óbvia conclusão de que são necessárias mudanças rígidas com reformas profundas. Basicamente, no segmento político onde, em boa parte, os problemas têm origem.
Observa-se, com nitidez, o que aconteceu nesta tumultuada semana que passou. O Congresso foi envolvido numa turbulência para aprovar o projeto de lei da nova meta fiscal, única forma de a presidente fechar as suas contas no azul. Ela, supostamente, somente percebeu que a situação era grave depois das eleições e da sua reeleição para o segundo mandato.
O que se constatou foi uma pressão sobre a Câmara dos Deputados e o Senado para que aprovassem uma nova legislação, condicionando-a à liberação das emendas parlamentares, num total de pouco mais de R$ 10 bilhões. Os parlamentares baixaram a cabeça. Melhor receber o dinheiro em troca da concessão a partir da pressão realizada pelo Palácio do Planalto. Como agiram então os parlamentares? Realizaram uma última sessão que chegou à 5h da madrugada, depois de quase 19 horas de debate. Todo o campo governista votou pensando em receber a grana das suas emendas parlamentares, e a oposição ficou no jogo de não dar quorum.
Dilma foi vitoriosa quando, após a sua reeleição, ela experimentara surras no Congresso, sofrendo uma série de derrotas. Mas, quando à frente estava o dinheiro, os parlamentares se prostraram. No dia subseqüente à sua vitória, afastado o perigo de as contas da República fecharem no vermelho, a presidente Dilma Rousseff agradeceu usando apenas duas palavras: "Estou satisfeita".
Tudo, enfim, foi um jogo entre o Executivo e o Legislativo. Os dois poderes certamente estão felizes. Um com o dinheiro das emendas garantido; o outro pela pressão bem sucedida dobrando os políticos para mudar a legislação fiscal. Assim é o Brasil. O juiz Sérgio Moro parece ser o único que, no momento, está na trilha certa. O seu trabalho para punir os corruptos merece todos os elogios.
Resta o Supremo Tribunal Federal se manifestar após ter-se conhecimento das três (ou mais) dezenas de parlamentares envolvidos na corrupção, que transcende, segundo o magistrado, o que se passa na Petrobras. Enfim, se tudo o que está a ocorrer resultar numa nova realidade mais adiante, aplaude-se