“Imortal” preta gera projeto pedagógico
Confira a coluna desta terça-feira

Um dos mais atuantes coletivos antirracistas de Salvador, o Instituto Reparação vai propor a Secretaria da Educação do Estado da Bahia a utilização da biografia da escritora Ana Maria Gonçalves nas classes de escolas públicas.
Na avaliação de ativistas do estabelecimento sediado na Praça da Sé, a prática virtuosa de Ana Maria Gonçalves serve de referência, ao romper com o cânone branco patriarcal, tornando-se a primeira preta imortal da Academia Brasileira de Letras.
O projeto é o primeiro de uma série a ser produzida pelas gestões afro diaspóricas baianas, de acordo com o sociólogo Ailton Ferreira, coordenador do Instituto Reparação.
O recurso didático de educação moral segue, ipsis litteris, ipsis verbis, a proposta divulgada no editorial “A preta da academia”, publicado na edição d’A TARDE de ontem, ao alinhar-se o grupo comunicacional mais longevo (112 anos) com o sentimento de “reparação”, como define o nome do instituto.
– O Reparação procura utilizar biografias de pessoas negras que ajudaram a mudar o mundo, em sua pedagogia aplicada em cursos e capacitações voltadas para baianas de acarajé, autônomos e toda gente do mercado informal, a quase totalidade formada por descendentes de escravizados – afirma Ailton Ferreira.
De acordo com as diretrizes pedagógicas do Reparação, “as escolas devem ser apaixonantes”, portanto, “a juventude e a juventude negra precisam de modelos e paradigmas para a educação”.
A primeira “imortal” preta da academia brasileira já se serve de outra biografia, ou melhor, duas outras, a de Luiza Mahin, uma das lideranças da Revolução dos Malês, de 1835, e a de seu filho, Luiz Gama, rábula libertador de 500 escravizados.
Proteção às mulheres
O Instituto Eumelanina representa a Bahia, hoje, no ato de assinatura do pacto nacional “Ninguém se Cala”, às 11h, no auditório do Ministério Público do Trabalho, em São Paulo. A iniciativa é coordenada pela Frente Nacional de Mulheres no Hip Hop (FNMH2), com adesão do MPT. O pacto visa articular mulheres pretas contra a dupla opressão de gênero e raça, denunciando a violência cotidiana e institucional. Criado em 2023, busca fortalecer leis protetivas e acolher vítimas, incluindo presidiárias. A presença baiana reafirma o compromisso com a soberania e a resistência diante das estruturas patriarcais.
POUCAS & BOAS
‘Por que o mundo precisa da sua coragem? Juventudes em ação pela Ambição 2030’ é o tema do ciclo de palestras que começa hoje em Itabuna, envolvendo escolas e comunidades locais. A abertura será às 13h30, na Escola Municipal Heribaldo Dantas, no núcleo do São Pedro da Fundação Marimbeta. Amanhã, a palestrante Mara Rute Hercelin estará na Escola Municipal Flávio Simões, no Bairro de Fátima. A ação é promovida pela Coordenação do Ensino Fundamental Anos Finais – DEB da Secretaria Municipal da Educação, com foco no protagonismo juvenil.
Na região Oeste, repercute a decisão da Associação Brasileira de Arte Rupestre (Abar), que escolheu o Campus da Universidade Federal do Oeste da Bahia (Ufob) como sede da próxima reunião da associação, marcada para 2027. A coordenação ficará com a professora Fernanda Libório, do Centro das Humanidades da UFOB, recém-eleita presidente da Abar para o biênio 2025–2027. Ela desenvolve pesquisas em sítios arqueológicos nos municípios de Barreiras e São Desidério, fortalecendo a ciência regional.
A Escola de Sanfoneiros de Senhor do Bonfim iniciou ontem as aulas presenciais para os primeiros 65 alunos, distribuídos em quatro turmas, com atividades na sede da Guarda Municipal. O projeto valoriza a tradição da cultura nordestina e busca revelar talentos artísticos por meio da educação musical. Conta com docentes experientes e é fruto da parceria entre as secretarias de Educação e Esportes e de Cultura, para fortalecer expressões populares.