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Por Tereza Paim | Chef de cozinha [email protected]

ACERVO DA COLUNA
Publicado quarta-feira, 30 de setembro de 2015 às 7:52 h • Atualizada em 30/09/2015 às 19:47 | Autor: Tereza Paim | Chef de cozinha [email protected]

Comida de rua: difusor de cultura

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Tereza Paim -

A comida de rua é mundialmente reconhecida como toda comida ou bebida vendida em ruas ou outros locais públicos, como mercados ou feiras, por um vendedor ou ambulante, seja em barracas, tabuleiros ou carrinhos.

Alguns alimentos de rua são regionais, outros não são, tendo se espalhado para além de sua região de origem, como é o exemplo do bem-sucedido hambúrguer e o cachorro-quente.

No ano de 2007, a ONU publicou que 2,5 bilhões de pessoas comem comida de rua todos os dias, e que nos grandes centros urbanos da América Latina, de 25% a 30% do orçamento familiar são gastos com comida de rua.

Claro, a limitada oferta de trabalho formal e a baixa escolaridade levam a população a buscar alternativas econômicas como o comércio informal de venda de alimentos, o que comprova que a venda nas ruas é uma característica do estilo de vida de países com alto índice de desempregados, baixos salários, limitadas oportunidades de emprego e que muito sofrem com rápidos processos de urbanização ou, melhor dizendo, de ocupação desordenada das cidades.

Mas qual o nascedouro dessa comida de rua? Em meados do século 18, estávamos com um acelerado crescimento da população e da economia; foi quando surgiram os escravos de ganho - empregados ou alugados por seus senhores para produzir, vender ou prestar serviços a terceiros.

Para complementar o orçamento doméstico de seus senhores, escravas - principalmente aquelas que moravam em Salvador e Rio de Janeiro - saíam da cozinha para as ruas, levando comidas feitas em casa: eram vendedoras ambulantes, que percorriam as cidades com tabuleiros, vendendo beijus, cuscuzes, bolinhos e outras iguarias.

Em Salvador, cabe destacar a comercialização do acarajé, iniciada no período escravagista com as escravas de ganho. A prática é herança trazida pelos negros da costa ocidental da África, onde as mulheres realizavam um tipo de comércio ambulante de produtos comestíveis. Essa atividade permitiu às escravas, muitas vezes, além da prestação de serviços a seus senhores, a garantia do sustento de suas famílias.

Vale ressaltar que depois do idioma falado, a comida típica é a segunda linguagem de um povo. Ela conta a maneira como ele vive, fala dos costumes, do clima, dos recursos naturais e, sobretudo, da condição socioeconomica desse povo. A arte culinária é também a única arte que somos obrigados a consumir para sobreviver.

Já no candomblé, a comida faz parte da liturgia, é uma forma de se comunicar com o orixás. Na Bahia, os católicos também se utilizam do alimento para se comunicar com as divindades, como é o exemplo dos carurus que se espalham pela cidade em agradecimento a alguma graça alcançada por intervenção dos santos Cosme e Damião.

Exuberância

Há quem diga que uma das capacidades que diferenciam o homem dos animais irracionais é a capacidade de produzir cultura. Há quem defenda que a gastronomia é a expressão da cultura de um povo através de um prato de comida.

Aí vem a pergunta que não quer calar: Onde estamos e pra onde vamos? Que queremos ser? Brasileiros, baianos? Como queremos ser reconhecidos no mundo?
Minha sugestão é que sejamos enérgicos na valorização da nossa cultura, capacitando nossos ambulantes nas boas práticas, para que eles continuem levando para nossas ruas coisas que só se vê na Bahia: exuberante tabuleiro de baiana de acarajé, carrinho de café, carrinho de mingau, carrinho de milho e amendoim cozido, queijinho coalho na brasa, amendoim torrado quentinho, taboca na taboqueira, picolé capelinha, carrinho do quebra-queixo, carrinho do cuscuz de tapioca, carrinho de mingau e mungunzá, baleiros que vendem pirulito de mel e alfeles, rapaz do pão delícia, beiju recheado, rolete de cana, carimã e pamonha.

Rendo aqui minha homenagens aos ambulantes criativos e competentes que circulam diariamente no Pelourinho, que junto comigo fizeram um coquetel e três sessões de coffee-break na semana ACM de Ação, Cidadania e Memória, dentro da escola de Medicina do Terreiro de Jesus: Angélica, baiana de acarajé; Isabel da pipoca; Laercio e Junior do café; Maira do milho; Diogo do mingau; Alaide do feijão com seu caldinho maravilhoso; Sheila e José Vanildo do pão delicia; Milton do amendoim; Marlene do cuscuz; Lázaro do quebra-queixo; Luiz, sua esposa e sua filhinha da Taboca; e Alexandre do queijinho mega-sucesso no evento.

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