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Tereza Paim

Por Chef de cozinha [email protected]

ACERVO DA COLUNA
Publicado quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016 às 8:01 h | Autor: Chef de cozinha [email protected]

Vim do sertão - buscando minha origem

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Tereza Paim
Tereza Paim -

Lá fomos nós, eu, mais três amigas (Reila, Luna e Clarinha), Gisele e China meus sub-chefs e Rena nosso eterno motorista, em caravana para conhecer a minha trajetória na cozinha.

Onde foi mesmo que começou? Tive dúvida se o primeiro alimento que trabalhei foi, ainda lá em Tanquinho, a garapa de limão que eu vendia na porta de minha casa na Rua de Baixo, s/n, ou o sanduiche de kitute com leite que fazia pra vender na merenda do Colégio Monsenhor Trabuco. E assim percorremos a Estrada Salvador -Tanquinho, agora o meu olhar de reflexão sobre minha comida estava ocupando toda a minha alma. Não tenho respostas para essas perguntas, mesmo depois dessa imersão.

Em Tanquinho, acompanhados de D. Zé minha mãe e Bau meu irmão, fomos direto para a Fazendo de Sr. Ranulfo, que guarda um fabrico de requeijão ainda genuíno, com uma produção totalmente artesanal.

Lá, Paulo e Chireta trabalham totalmente alinhados com a estação do ano, que diz a eles que na época do umbu o leite fica mais ácido, pois a vaca come bastante umbu verde e por isso corta mais rápido e sai mais soro. Esse fato muda a produção deles na quantidade de leite usado para cozinhar o requeijão e na quantidade de manteiga para finalizar.

Pois bem, fazer o requeijão, desde o início até o final, para então jogar açúcar no tacho e comer as raspas pretinhas, me tomou de emoções infantis, uma doce lembrança de minha avó Dolores, minha Bisa Nati e toda a minha família que cresceu em volta do tacho de requeijão. Um doce remédio para minha alma e para meu coração.

Seguimos então para a Casa de Gabriela, doceira de família, já está na quarta geração de doceiras. O cheiro da casa de Gabriela me transportou para a cozinha da casa de meu avô Samuel, para a casa de minha Tia Terezinha e mais ainda, para a lembrança da casa de D. Otília e de Miúda, sua cozinheira, uma negra sisuda, doceira de mão cheia.

Incluo aqui que Miúda fazia as balas de doce de leite mais gostosas do mundo e que eu, passando pelo quintal da casa de meu avô, acessava facilmente a janela da cozinha dela e sempre roubava balas quentinhas. Cá pra nós, ele fingia que não via, mas entre nós havia uma cumplicidade grande.

Quando eu tinha uns sete anos de idade, Miúda, não aguentando meus pedidos incessantes, se arriscou a me ensinar a fazer doce de figo, ou seria doce de figudo, como dizia Jupira, a cozinheira de minha mãe? Pois bem, deu-me uma faca de madeira para raspar a casca dos figos que havia ficado de molho de um dia para o outro.

Eram duas latas grandes de figo e eu fiz tudo certinho, mas ganhei manchas de queimadura nas mãos que me fizeram lembrar desse dia por muito tempo. Nunca me incomodei com as manchas e queimaduras que obtive na cozinha, elas me fazem lembrar belos momentos, como tatuagens que contam minha história vivida.

Ainda na Casa de Gabriela, meu coração se enternece olhando três moças modelando biscoitinhos de nata, coisa que eu adorava fazer ajudando Edite na cozinha do Posto União, do Sr. Cristovam Pereira, homem sério, de grande valia para o povo daquela terra castigada pelo sol e pela água salobra, que eu tive a oportunidade e honra de ser filha e ter aprendido com ele os valores morais e fraternos que me sustentam como ser humano.

Não resisti e demos uma subida no morro da Emancipação, a pedra mais linda e que um dia eu, além de achar que era a maior do mundo, sonhava que tinha uma mina de ouro, que havia sido o fundo do mar e outros tantos devaneios infantis de uma Tanquinhense que sempre subia lá na Páscoa para cumprir penitência.

De volta pra casa, trouxe no isopor (cozinheiro não anda sem um) um mininico de carneiro, todo arrumadinho pra entrar na panela e uma banda do carneiro, que em Salvador virou guisado a parte do corpo, e assados com a paleta e o pernil. Se quiserem provar, vem no restaurante.

Tchau, meu povo glorioso de Tanquinho, vamos Reila, Luna, Clarinha, China, Gisele e Rena, que a viagem continua pelo Recôncavo, próxima coluna eu conto…..

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