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Por Vilson Caetano

ACERVO DA COLUNA
Publicado quinta-feira, 21 de maio de 2015 às 8:14 h | Autor: Vilson Caetano

A memória da comida

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Vilson Caetano - Antropólogo
Vilson Caetano - Antropólogo -

Sem querer retomar o velho tema do comfort food, uma das tendências da alimentação moderna, hoje vamos falar sobre algumas lembranças que a comida nos permite vivenciar.

Se é verdade que a comida está cheia de histórias individuais e coletivas, a memória dos indivíduos está repleta de imagens e sensações despertadas por determinadas comidas.

Comidas que nos remetem à infância, à experiências de carinho, amor, afeto, mas também à experiências de nojo e repulsa.

Há bem pouco tempo, tudo iniciava-se na cozinha, quando algumas crianças passavam parte do tempo assistindo aos adultos preparar a comida. Ainda hoje, em cidades do interior da Bahia, algumas família seguem um cardápio particular, que varia conforme a época e o lugar.

Em certa medida, alguns restaurantes tentaram acompanhar algumas sugestões, que já me referi como "criações curiosas das cozinhas do interior". Um estudo cuidadoso sobre estas cozinhas ainda está para ser feito.

Farofa d'água

Sobre esta cozinha, vamos lembrar que, em alguns dias à noite, era comum, por exemplo, a farofa d'água, também conhecida como farofa de bolo. A água morna era despejada cuidadosamente sobre a farinha que era desembolada com as pontas dos dedos e logo em seguida recebia o óleo da carne frita que havia sobrado do almoço. Às vezes se acrescentava um pouco de vinagre para realçar o sabor.

Outra solução era o picadinho de carne. E a roupa velha? Vulgo moqueca de feijão. Era sempre comida do dia seguinte ou das horas seguintes a muita comilança.

Feijão com verduras, como se costuma chamar, já foi coisa que se utilizou muito. Uma vez pronto, o prato predileto dos brasileiros recebia pedaços de abóbora, quiabo, maxixe, jiló e outras hortaliças.

Tinha ainda o dia do cozido, geralmente às quartas feiras, independente do tamanho da família. Havia também o dia da quiabada, do omelete de carne, da macarronada e assim por diante.

Malassado

Enquanto as crianças brincavam de fazer cozinhado, cortando algumas folhas e imitando o cozinhar em algumas panelas, os adultos no dia de sábado estavam atentos mais do que nunca ao ponto do "malassado", prato que ainda hoje é uma ciência para se fazer.

Às vezes algumas crianças se ofereciam para ajudar a cortar as verduras, ou mesmo ir lavando os utensílios apenas para ficarem próximas à cozinha. E quando menos se esperava, lá estavam suas primeiras preparações. A farofa de manteiga era uma delas.

No café, o ovo frito e a fatia de parida, pão passado no ovo e frito é um bom exemplo. Do interior, me acostumei a acordar com o cheiro de café ou mesmo do leite derramado caído sobre o fogão.

Eu mesmo cresci em meio a vários tipos de cuscuz, dentre eles o de quisare, raiz amarelinha que era ralada e temperada com coco e açúcar.

E o dia de fazer galinha ao molho pardo? Tudo era feito com a maior rapidez por causa da criançada, que mesmo proibida ficava espreitando a galinha sangrar até a morte. O sangue era conservado com a ajuda de um pouco de vinagre e colocado sobre a ave cozida para finalizar a preparação.

Comida de forno

Não tinha dia igual ao domingo. Nele se faziam as "comidas de forno", porque tudo que se preparava neste dia podia ir ao forno, do macarrão depois de pronto ao arroz. Era dia de galinha assada, farofa de manteiga, maionese e de sobremesa, de manjar branco, chamado também de creme mármore.

Esperamos que o leitor, ao ter contato com algumas destas comidas aqui elencadas, seja capaz de fazer um passeio por suas lembranças e possa também rememorar outras preparações.

Afinal, para além de um passeio pela história, a comida nos coloca diante de visões de mundo que permanecem vivas, porque são verdadeiras memórias que persistem e se renovam no dia a dia no ato de comer.

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