COMPORTAMENTO
Trabalhar menos é tendência? Entenda a demissão silenciosa
Prática afeta produtividade, engajamento e saúde mental no ambiente corporativo
Por Isabela Cardoso

A demissão silenciosa, ou quiet quitting, é quando o colaborador decide cumprir apenas o que está no contrato, sem se envolver além do necessário. O termo ganhou força nas redes sociais após a pandemia e reflete uma mudança de comportamento no ambiente de trabalho, com foco em bem-estar, saúde mental e limites mais claros entre vida pessoal e profissional.
A prática se tornou viral após um vídeo do engenheiro Zaid Khan circular nas redes sociais. Nele, o profissional defende o direito de trabalhar sem ultrapassar os limites contratuais, priorizando a saúde mental e o bem-estar.
A demissão silenciosa, portanto, é um reflexo direto de uma nova visão sobre o trabalho. Em vez de se dedicarem além do exigido, muitos profissionais passaram a adotar limites mais claros entre o que é vida pessoal e o que é obrigação profissional.
O que está por trás do quiet quitting?
Embora o termo seja recente, o comportamento não é novo. A Gallup, empresa global de pesquisa em gestão, aponta que apenas 31% dos trabalhadores brasileiros estão engajados em suas funções. Outros 59% cumprem apenas o necessário e 10% estão ativamente desengajados. O impacto disso na economia global é estimado em US$ 8,9 trilhões, cerca de 9% do PIB mundial.
Entre as principais causas da demissão silenciosa estão:
- Falta de propósito e reconhecimento
- Cultura organizacional negativa
- Rigidez nos horários e ausência de flexibilidade
- Sobrecarga de tarefas e escopo mal definido
- Falta de benefícios voltados ao bem-estar
- Ausência de feedbacks estruturados e construtivos
Ambientes que não valorizam o equilíbrio emocional tendem a perder a motivação de seus colaboradores e, com isso, a inovação, a criatividade e o comprometimento.
Como identificar uma demissão silenciosa?
O desengajamento pode ser sutil, mas é perceptível. Líderes atentos conseguem notar os indícios antes que o problema se agrave. Veja os principais sinais:
- Queda na produtividade e entrega mecânica de tarefas
- Indiferença em relação a promoções e novos desafios
- Diminuição na participação em reuniões e debates
- Falta de comunicação e isolamento
- Recusa em executar tarefas fora do escopo
- Desinteresse em responder mensagens fora do expediente
- Aumento do absenteísmo
Esses comportamentos indicam que o colaborador não está emocionalmente conectado com o propósito da empresa — o que, a longo prazo, afeta todo o time.

O papel da liderança
Enfrentar o fenômeno da demissão silenciosa exige uma mudança de mentalidade por parte da liderança. O líder de hoje precisa ir além de metas e entregas: deve se tornar um maestro da motivação, capaz de escutar, inspirar e promover um ambiente emocionalmente seguro.
Entre as competências essenciais estão:
- Construir vínculos autênticos: conhecer a história e os objetivos de cada colaborador
- Promover crescimento: oferecer cursos, mentorias e novos desafios
- Celebrar conquistas: reconhecer publicamente as pequenas e grandes vitórias
- Criar confiança: garantir liberdade de expressão, sem medo de retaliação
- Defender o equilíbrio: apoiar pausas, tempo com a família e cuidados com a saúde
Além do papel do líder, as organizações como um todo precisam repensar suas práticas. A seguir, algumas estratégias para reduzir o impacto da demissão silenciosa:
1. Estabelecer uma cultura flexível
O modelo híbrido e horários flexíveis oferecem maior liberdade para o colaborador organizar sua rotina, sem comprometer os resultados. Essa flexibilidade melhora a qualidade de vida e, consequentemente, o desempenho.
2. Oferecer benefícios reais de bem-estar
Benefícios como auxílio academia, programas de saúde mental e acesso à cultura ajudam o colaborador a se sentir valorizado e cuidado.
3. Criar uma rotina de feedbacks
Conversas periódicas entre líderes e equipes são fundamentais para alinhamento, escuta ativa e direcionamento de metas. O feedback deve ser construtivo, humano e contínuo.
4. Identificar perfis e necessidades
A gestão personalizada é um diferencial. Compreender as gerações, valores e prioridades de cada colaborador torna a liderança mais efetiva e participativa.
5. Reconhecer e recompensar
Reconhecimento público, bonificações e oportunidades de crescimento são estratégias poderosas para manter os colaboradores engajados e comprometidos.
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