Lula recebe vaias e aplausos na marcha da consciência negra

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi vaiado por parte das cerca de cinco mil pessoas que acompanhavam, no final da tarde desta sexta-feira, 20, a 15ª Marcha da Liberdade em comemoração ao Dia da Consciência Negra. Ele conseguiu amenizar a insatisfação quando começou a listar as políticas de afirmação e reparação racial dos seus dois governos.

O trio elétrico que comandava a marcha parou no Largo Nelson Mandela, onde fica a entrada do Plano Inclinado Liberdade-Calçada à espera de Lula e do governador Rui Costa. Eles chegaram uma hora atrasados, por volta das 17h20.

Para acessar a entrada do trio, a comitiva do ex-presidente precisou de um cordão de isolamento de policiais militares. No momento em que Lula começou a falar e estava agradecendo ao governador Rui Costa, uma vaia forte ecoou na praça.

"Generosidade"

Mais rouco que o normal e aparentando cansaço pela agenda puxada da sexta-feira (pela manhã participou do encontro da Juventude do PT em Brasília), Lula estava agradecendo à "generosidade do povo da Bahia" enquanto as vaias continuavam.

Ele passou a falar sobre a opressão do negro ao longo da história brasileira e as políticas de reparação dos governos petistas. Disse que "o povo negro precisa recuperar aquilo que a sociedade brasileira deve ao povo negro" e passou a discursar em favor dos afrodescendentes. "A história do povo negro não é conhecida porque as escolas não ensinam corretamente o que viveu o povo negro, que já fez muito mais que os livros contam".

Acostumado a criticar as "elites" que seriam os opositores dele e do PT, Lula preferiu não tocar na divisão de classes na Liberdade. Citou as revoltas de negros nos séculos passados e pediu que no Dia da Consciência Negra as pessoas levem em conta "os avanços que nós tivemos nesse século 21".

Repetiu saber que ainda falta fazer muito, "mas não há na história desse país um período em que a gente teve tantos meninas e meninos negros na universidade". Nesse momento ele foi aplaudido, para alívio dos organizadores.

Doutor e engenheiro

Lula lembrou que "nunca teve um governo capaz de aprovar as cotas (raciais) para que os negros tivessem a oportunidade de ser doutor, engenheiro e não apenas ajudante de pedreiro ou empregada doméstica nas grandes capitais".

Pediu que as pessoas tenham consciência do que já foi feito. "Vocês do movimento sabem das conquistas que nós tivemos nesses país e uma dessas conquistas foi a aprovação do Estatuto Racial".

Na única vez que citou Dilma Rousseff, disse que a presidente aprovou a quota de 20% para servidores públicos, "abrindo oportunidades para que as pessoas sejam tratadas com igualdade de condições".

Ele chamou o movimento negro para continuar lutando. "A gente não pode se contentar com o que a gente já conquistou. Pensem o que era o negro e a negra neste país antes de o PT chegar ao poder". Logo depois Lula e o governador Rui Costa deixaram o local e a marcha seguiu em direção ao Largo da Lapinha.