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MÚSICA

Ana Paula Albuquerque regrava todo o primeiro álbum d’Os Tincoãs em um tributo

Cinco décadas depois, o legado do disco continua vivo Brasil afora

Por Maria Raquel Brito*

04/03/2025 - 5:00 h
Ana Paula Albuquerque
Ana Paula Albuquerque -

Em 1973, o grupo cachoeirano Os Tincoãs lançou seu álbum homônimo. Foi o segundo lançamento do conjunto formado por Mateus Aleluia, Dadinho e Heraldo, e o primeiro em que incorporaram as cantigas do candomblé ao seu repertório, antes voltado majoritariamente para o bolero. Dele, saíram clássicos baianos como Deixa a Gira Girar e Obaluaê.

Cinco décadas depois, o legado do disco continua vivo Brasil afora. Agora, ganha uma homenagem em forma de releitura na voz da cantora, compositora e pesquisadora cultural Ana Paula Albuquerque, no álbum Tributo aos Tincoãs, lançado em janeiro.

O projeto, com regravações das 12 faixas de Os Tincoãs, teve início no dia 15 de novembro do ano passado, com o lançamento do vídeo de Capela D'Ajuda, canção escolhida como single.

“Capela D'Ajuda fala de Cachoeira, fala de toda a tradição e da música do recôncavo, de Nossa Senhora D'Ajuda. Em novembro eu vivi a Festa D'Ajuda, que é a festa mais importante da cidade. Coincidiu com o momento em que eu ia lançar o samba, então falei: 'eu quero lançar Capela D'Ajuda'. Essa música é um agradecimento pela colheita. A Virgem D'Ajuda, Nossa Senhora D'Ajuda, eles estão ali agradecendo exatamente à colheita”, conta.

A história de Ana Paula com os Tincoãs é antiga. Em 2007, criou a Escola Baiana de Canto Popular e trabalhava principalmente na parte de pesquisas sobre artistas locais, processo que a fez se encantar ainda mais pelo grupo. Foi assim que surgiu a inspiração para homenageá-los, o que vem fazendo desde 2008 através de shows e, agora, com o lançamento do álbum.

Desde o primeiro tributo, há 17 anos, uma presença em meio ao público foi marcante para a cantora: Seu Mateus Aleluia. “Ele esteve sempre ali presente, como um grande mestre, uma pessoa muito generosa. Eu costumo dizer que é uma escola viva, prestar uma homenagem e ao mesmo tempo ter essa chance de ter a pessoa ali com você e aprender com ela. Foi uma grande inspiração na minha vida a presença de Seu Mateus”, conta. Quando a escola completou dez anos, a comemoração também contou com um show especial, em que Ana Paula cantou Tincoãs.

Mas a ideia do disco só viria alguns anos depois, quando Ana cantou ao lado de Seu Mateus durante uma gravação para seu projeto de doutorado – “Imagine, um grande sonho da vida sendo realizado”, diz, enquanto relembra a ocasião. Conversa vai, conversa vem, depois de muitos conselhos e orientações do veterano, a cantora se sentiu ainda mais motivada a concretizar o tributo num disco.

Ana conta que não conseguiu ainda se encontrar com Seu Mateus depois do lançamento do álbum. Por conta da idade avançada do artista, hoje com 81 anos, e por ele estar absorto em seus próprios lançamentos, ela espera a hora certa de ouvir a opinião dele. “Ele vai dizer alguma coisa, eu espero que ele goste. Mas ele é um pai, que também fala assim: ‘ó, esse arranjo aqui, não sei’. Nós fazemos com esse intuito de agradar mesmo, de querer que ele se sinta homenageado, porque é isso: homenagear alguém que está vivo e produzindo muito mais para a gente”.

Muito além da música

O impacto dos Tincoãs vai além das canções: é espiritual, de cura. Ana Paula que o diga. Nascida no Maranhão, vive na Bahia há quase 30 anos. No grupo, ela encontrou identificação, conforto e aprendizado.

“Eu costumo dizer que não é só música. É um impacto muito grande, porque é música popular brasileira e ao mesmo tempo é música espiritual, é uma música identitária, que te ensina sobre você também, sobre a sua cultura, a cultura afro-brasileira”.

Os Tincoãs não foram os primeiros artistas a trazer a música de candomblé para seu trabalho, Ana Paula explica. Mas, a revolução que eles trouxeram está em outro aspecto: pegar as canções religiosas e adaptar, adicionando novos trechos às letras. “Deixa de ser uma música só religiosa e passa a entrar no rol da música popular brasileira. Esse álbum que eu regravei é um marco na MPB nesse sentido de trazer as músicas de cunho inteiramente religioso para o universo da música popular”, diz.

Reimaginando Os Tincoãs

“Ouvir os Tincoãs é algo impactante, porque não existe nada igual a eles na música e nem no mundo”, diz Ana Paula sobre a força de trabalhar com a música do grupo. Caetano também cantou essa pedra em 2021: “É difícil chegar aos pés dos Tincoãs”.

Essa afirmação acompanhou a cantora em todo o processo de produção do tributo, não como desestímulo, mas sim uma forma de saudação. O objetivo nunca foi reproduzir à risca o que os Tincoãs fizeram, mas reinterpretar mesclando seu próprio estilo e o legado das canções do grupo. O diferencial de Ana Paula na execução do tributo foi, segundo ela, trazer uma nova leitura para o disco lançado em 1973. Perceber que, mesmo 50 anos depois, essa arte ainda pode ser traduzida fielmente e traz questões que refletem no nosso cotidiano.

A prática estava lá, a vontade de fazer acontecer também. Assim, o disco foi tomando forma. “Eu tinha algo já desenhado na minha cabeça. Lembro que o engenheiro de som falava: 'vamos, o disco está todo aí na sua cabeça, bota para fora'. Já tinha meio que desenhado isso, porque são anos de pesquisa, então você vai sonhando com várias coisas. Por exemplo, o arranjo de Lamento às Águas foi um arranjo que eu cantei há 12 anos com o maestro Bira Marques, quando ele montou a Orquestra AfroSinfônica lá em Camaçari e me convidou para cantar. Então desde aquele momento eu sonhava: 'um dia eu vou gravar essa música'. E aconteceu.”

O maestro Ubiratan Marques, produtor do projeto Nós, Os Tincoãs, lançado em 2017 por Mateus Aleluia, e descrito por Ana como um “descendente de Tincoã”, foi responsável por três arranjos da regravação: Deixa a Gira Girar, Lamento às Águas e Obaluaê.

No álbum, Lamento às Águas toma forma nas vozes de Ana Paula Albuquerque e Luedji Luna, em uma parceria potente. Obaluaê, por sua vez, é compartilhada com Zé Manoel, e um coro feminino de sete vozes acompanha Ana Paula em Deixa a Gira Girar. O álbum conta ainda com a participação de Sued Nunes, em Sabiá Roxa. Nos instrumentos, quem dá vida às músicas é a banda formada por Gabi Guedes (percussão), Jordi Amorim (guitarra), Marcos Sampaio (baixo) e Felipe Guedes (bateria), além de músicos convidados que fazem parte da Orquestra Afrosinfônica.

A presença de tantos amigos e parceiros no álbum reforça o senso de coletividade que foi a base de toda a produção. Ana nunca sentiu que esse era um projeto só dela – é uma celebração em grupo, uma ode ao que se consegue alcançar em comunidade.

“Eu nunca me vi sozinha neste álbum. É grandioso falar dessa musicalidade, é grandioso falar dos Tincoãs, cantar essas músicas. Sozinha não dá para a gente fazer nada. Todos têm uma história, têm algo ali. Porque eu sou uma pessoa espiritualizada, falo: ‘universo, quero aqui as pessoas certas comigo’, e a gente vai se direcionando”, afirma.

Houve momentos de nervosismo e medo da dimensão do projeto. A cantora se perguntava se seria capaz de dar vida ao projeto que imaginara. A resposta já está no mundo: um disco com 12 faixas em celebração ao legado dos Tincoãs, disponível nos aplicativos de streaming e no YouTube.

“Eu pensava: ‘meu Deus, eu sou louca. Porque tem sempre um momento de dúvida, mas quando você se permite ser guiada para algo maior, que vai além da música, tudo dá certo. Eu falei: ‘se o chamado veio para mim, eu estou pronta. Vamos’. Coragem eu tenho de sobra”, conclui Ana Paula.

*Sob supervisão do editor Chico Castro Jr.

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