CULTURA
Ancestral prática da olaria no baixo sul ganha o Museu Digital
Iniciativa é um ensaio para chegar ao status de Bem Cultural Imaterial da Bahia Iniciativa é um ensaio para
Por Tamires Silva*
Expressão significativa da cultura baiana e nordestina, a artesania da cerâmica em barro da região do Baixo Sul ganhou um museu virtual. É o Museu Digital do Barro de Maragogipinho, no ar desde o dia 22 último, no site www.museudobarro.digital.
O Museu traz um rico acervo sobre o trabalho dos oleiros do município, reunindo fotografias, vídeos e entrevistas com os mestres oleiros, além de peças produzidas e o modo de fazê-las.
Com a proposta de incentivar a patrimonialização do Ofício dos Oleiros de Maragogipinho como Bem Cultural Imaterial do Estado da Bahia, o projeto também busca contribuir com a pesquisa, interpretação e inventariação, a partir de uma amostra da singular diversidade das peças produzidas em barro, tanto decorativas, quanto religiosas e utilitárias, assim como os saberes e modos de fazer tradicionais e centenários, como o trabalho da confecção realizado pela comunidade.
“A proposta do Museu surgiu após uma visita turística à Maragogipinho e o imediato reconhecimento da importância daquele território”, conta Fernanda Gallo, historiadora e idealizadora do projeto.
“Ainda que o local seja o maior produtor de cerâmica da América Latina, o Ofício dos Oleiros ainda não foi patrimonializado enquanto Bem Cultural Imaterial, seja na esfera municipal, estadual ou federal. Vale lembrar que o barro é a matéria prima do primeiro Bem Imaterial Registrado no Brasil, o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras (ES) que inaugurou o livro de Registro dos Saberes do IPHAN, em 2002”, observa.
Maragogipinho é um distrito da cidade baiana de Aratuípe, localizada no território de identidade do Baixo Sul. Fernanda lembra que este território abriga esta tradição há pelo menos dois séculos.
“A cerca de 227 km de Salvador, o local é conhecido pela centenária produção de cerâmica ao menos desde o século XVIII, conforme registrou Durval Vieira de Aguiar no livro Província da Bahia, publicado originalmente em 1888. Com possível influência das missões católicas instauradas na região, a atividade se desenvolveu e hoje abrange cerca de 80% da população de Maragogipinho, que se dedica a produção de cerâmica”, afirma Fernanda.
“Em um momento em que temos acompanhado o avanço do turismo em áreas habitadas por populações tradicionais no estado da Bahia, é importante que os mecanismos jurídicos do campo patrimonial possibilitem a continuidade do ofício. Além disso, entre as medidas de salvaguarda, destaca-se o aprimoramento da educação patrimonial, considerada relevante para o fortalecimento da olaria enquanto elemento formador da identidade cultural de Maragogipinho”, acrescenta.
No museu on line, Fernanda e seus parceiros destacam as variadas linguagens de artesanato que tornam esta atividade tao especial naquele local específico.
“Partimos de uma proposta museológica interdisciplinar que contemplasse as diferentes dimensões do Ofício da Olaria e a relação com seu território. Para tanto, optamos por variadas linguagens artísticas como um vídeo documentário sobre o ‘modo de fazer’, entrevistas com mestres oleiros, vídeos e fotografias das peças e do cotidiano local. De tal modo, o acervo está disponibilizado gratuitamente de forma digital”, diz Fernanda Gallo.
Saber secular
O acervo do Museu está exposto através de quatro principais categorias: Peças (com fotografias de peças religiosas, decorativas e utilitárias); Mestres (entrevistas com mestres oleiros); Modos de fazer (vídeo documentário sobre o processo completo de confecção das peças) e Cotidiano (com imagens e vídeos de Maragogipinho).
“Os mestres Oleiros são os detentores deste saber secular e responsáveis por repassar seus conhecimentos às novas gerações. No que se refere aos modos de fazer tradicionais, é justamente a figura do mestre que possibilita que a prática da olaria se torne um patrimônio cultural imaterial passado de geração em geração”, diz.
A equipe do projeto é formada por Fernanda Gallo (historiadora), Marcelo Cunha (museólogo), Maurício Oliveira (designer e documentarista) e Tommaso Rada (fotógrafo). O projeto tem apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda e do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), Secretaria de Cultura da Bahia, aprovado no Edital Setorial de Museus 2019.
A idealizadora do projeto Fernanda Gallo é historiadora, mestre em Estudos Étnicos e Africanos, doutora em Antropologia Social com pós-doutorado em Teoria e História Literária.
*Sob a supervisão do editor Chico Castro Jr.
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