CULTURA
Após reforma, Museu da Misericórdia abre as portas para o público
Espaço ainda passou por requalificação
Por Eugênio Afonso
Agora em dezembro, o Centro Histórico de Salvador ganha mais um espaço cultural restaurado. O Museu da Misericórdia está reabrindo as portas depois de três anos fechado para obras de requalificação e reforma.
A reinauguração para convidados será hoje, às 16h30, com abertura da exposição O Cotidiano Lírico, do artista plástico maranhense Floriano Teixeira, e o lançamento do livro Santa Casa de Misericórdia da Bahia, Quando Palavra é Ação - 475 Anos de Memórias, do escritor e poeta baiano Antonio Risério. Para o público em geral, a instituição passa a funcionar a partir de amanhã.
“O Museu teve espaços ampliados, tanto do ponto de vista das exposições como para a realização de trabalhos técnicos e administrativos. O trabalho de restauração permitiu revelar a pintura original dos altares da Igreja da Misericórdia. As pinturas da nave da igreja foram restauradas e nelas identificadas a representação figurativa dos 14 princípios da misericórdia”, detalha a museóloga Osvaldina Cezar.
Iniciadas em 2021, as obras de requalificação e restauro contemplaram a ampliação e construção de novos espaços expositivos, auditório para 100 pessoas, além da restauração da Igreja da Misericórdia, incluindo teto artístico e forro com 45 painéis de pintura. Também foi realizada a instalação de um elevador para acessibilidade de pessoas com dificuldade de locomoção.
Osvaldina lembra ainda que é preciso romper a visão elitista de que o museu é um espaço dedicado somente a uma pequena parcela da sociedade. “Museu é espaço de produção de conhecimento, mas também de lazer e deve estar acessível a todos os públicos”.
Poeta visual
Com curadoria da museóloga e historiadora Simone Trindade, a exposição de Floriano Teixeira retoma o programa iniciado em 2016, com a mostra dedicada a Pancetti, que visa democratizar o acesso do público a acervos particulares e criar novos diálogos com o Museu.
“Essa iniciativa busca apresentar ao público obras de artistas cujos trabalhos, pertencentes a coleções privadas, especialmente de irmãos da Santa Casa da Bahia, raramente estão disponíveis para visitação pública. Nesta edição, destacamos a sensibilidade de Floriano Teixeira, um mestre na arte de transformar o cotidiano em poesia visual”, pontua Trindade.
A mostra, que fica aberta até 20 de fevereiro de 2025, reúne cerca de 40 obras bidimensionais provenientes de coleções particulares e galerias. Oferece um recorte representativo da produção de Floriano, evidenciando sua habilidade de extrair lirismo de cenas cotidianas, de brincadeiras infantis a casais apaixonados.
“Os trabalhos abrangem diversas técnicas e suportes, como óleo e acrílica sobre tela, pastel sobre papel, aquarela e nanquim. Essa diversidade revela a versatilidade do artista e sua capacidade de se expressar em múltiplas linguagens. Floriano contribuiu significativamente para as artes visuais da Bahia, consolidando-se como uma figura essencial na história da arte do século XX”, enfatiza a curadora.
Forte presença
Autor do livro que será lançado hoje, Risério diz que a publicação é, na verdade, uma invenção de Ana Novis, que cuida dos assuntos culturais da Santa Casa, e de José Antônio Rodrigues Alves, seu provedor. “Ana, porque me fez o convite para escrevê-lo – e José Antônio, pela sugestão de compor o texto como uma espécie de montagem ou justaposição de fragmentos memoriais”.
E afirma que foi um grande prazer escrevê-lo. “Porque a Santa Casa tem acompanhado esta nossa cidade e sua gente através dos séculos, desde os tempos do velho Tomé de Sousa, que, de resto, não suportava Salvador, vivendo aqui a contar os dias que faltavam para voltar para Portugal”.
Sendo a Santa Casa uma presença nítida e forte ao longo de toda a vida histórica e social dos baianos, escrever sobre ela significou, para o autor, revisitar aspectos fundamentais do viver baiano, do século XVI aos dias de hoje.
“E fico feliz de que o lançamento do livro aconteça na reabertura do Museu, esta preciosidade que temos, a começar do fato de que seu prédio é uma das mais belas e admiráveis criações arquiteturais da nossa gente”, ressalta Risério.
Novo espaço
Fundado em 2006, o Museu da Misericórdia pertence à Santa Casa de Misericórdia da Bahia e está instalado em um palacete do século XVII, onde funcionou o primeiro hospital da Bahia. O prédio foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) em 1938 e possui acervo composto por 3.874 peças classificadas em diversas categorias, como alfaia, mobiliário, pinacoteca e imaginária.
Além de exposições itinerantes, o museu também mantém uma mostra permanente com 14 peças feitas sob encomenda pelos artistas baianos Bel Borba, Christian Cravo, Mário Cravo Júnior, Calasans Neto, Eliana Kertész, Luiza Olivetto, Juarez Paraíso, Sérgio Rabinovitz, Carmen Penido, Caetano Dias, Grace Gradin, Juraci Dórea, Maria Adair e César Romero.
Com investimentos na ordem de R$ 11,3 milhões, a reforma, finalizada em junho deste ano, foi coordenada pela Superintendência de Obras Públicas (Sucop) com recursos da Prefeitura Municipal de Salvador e do Fundo de Defesa de Direitos Difusos (FDD) do Ministério da Justiça. Tudo certificado pelo Sistema Brasileiro de Museus/MINC.
O Museu da Misericórdia funcionará de terça a sexta-feira, das 9h às 17h e, aos sábados, das 9h às 16h30, com ingressos para visitação vendidos no local. Nos domingos e feriados, ficará fechado.
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