CULTURA
Arte armorial ganha espaço na agenda cultural de Salvador
Exposição, concertos de música e cortejo com grupo de maracatu acontecem na capital baiana
Por Eugênio Afonso
Predominantemente pernambucana e criada no ano de 1970, a arte armorial brasileira tem forte ligação com as raízes populares nordestinas, como a literatura de cordel, a música de viola, rabeca ou pífano, e a xilogravura.
Desde que foi criado, o Movimento Armorial sempre foi voltado para a produção das mais variadas formas de arte – literatura, música, dança, teatro, artes plásticas, arquitetura, cinema – a partir da mistura do erudito com o popular, sempre exaltando a cultura brasileira, em especial a da região Nordeste.
Para celebrar esta vertente artístico-cultural tão brasileira, Salvador recebe, de hoje a domingo (20), o Encontros Petrobras de Música Armorial. Serão três espetáculos gratuitos, apresentados na região do Corredor da Vitória – Museu de Arte da Bahia (MAB), igreja da Vitória e Largo da Vitória –, com o objetivo de reunir a arte de variadas partes deste país de dimensões continentais, trazendo os sons populares para mostrar a brasilidade e suas conexões.
Sob a coordenação da produtora cultural Regina Godoy, idealizadora da Mostra Armorial 50 – exposição em cartaz no MAB até 20 de outubro –, o encontro também marca o 54º aniversário do Movimento Armorial.
“Esse evento serve como uma plataforma para apresentações musicais, reunindo artistas, pesquisadores e o público em geral para celebrar e refletir sobre a riqueza e importância da música armorial”, define Godoy.
Regina conta que o Movimento Armorial foi criado, entre outros, pelo escritor paraibano Ariano Suassuna, em 18 de outubro de 1970, em Recife. “Um movimento artístico, onde o erudito e o popular dialogam e se unem para criar a essência da cultura brasileira, mostrar a diversidade de sons e ritmos e o colorido das festas populares”, completa a coordenadora.
“Ariano acreditava que este processo poderia ocorrer em todos os estados brasileiros, mostrando a potência da arte brasileira. E criando uma identidade nacional a partir do encontro entre popular e erudito”, alinhava.
Ela lembra ainda que o conceito nasceu m Pernambuco, mas reside em cada local do Brasil. “E a Bahia, que tem a efervescência do carnaval, os ritmos do Olodum, das festas e folguedos populares está implícita neste universo armorial”, afirma Regina.
Cultura nordestina
Hoje, primeiro dia do encontro e marco dos 54 anos de criação do movimento, acontece o Concerto Armorial, uma apresentação do duo Ana de Oliveira (violino) e Sérgio Raz (viola de 12 cordas), na Igreja Nossa Senhora da Vitória, às 19h. A dupla convida o Quarteto de Cordas Metamorfosis (Marco Catto e Ivan Quintana (violinos), Laura Jordão (viola) e Suzana kato (violoncelo).
Esta é a primeira vez que o sexteto se reúne para celebrar a união entre o erudito e o popular, apresentando novas e conhecidas composições, e mostrando a versatilidade da música armorial e sua relevância na contemporaneidade.
O músico Sérgio Raz explica que para criar uma obra musical armorial, o compositor precisa transformar em erudito um material de raiz popular autêntica. “Pode pegar, por exemplo, ritmos do maracatu rural, usar as células rítmicas e, a partir disto, dar uma roupagem erudita. Então, é levado para dentro do ambiente orquestral uma atmosfera da música popular de raiz”.
No segundo dia, amanhã (19), às 18h, o auditório do MAB recebe a Camerata Harmonize, que apresenta o concerto Tributo ao Armorial. Sob a regência do maestro Gabriel Soledade, o grupo musical - composto por 24 integrantes – mescla a profundidade da música armorial com o equilíbrio e a harmonização entre erudito e popular.
De acordo com a violinista Bruna Dantas, a apresentação da camerata tem o objetivo de valorizar a cultura nordestina através da música. “Buscando sempre trazer em seus concertos melodias e sons característicos da região, além de fomentar obras de um movimento muito importante para a história da arte no Brasil”.
“O repertório será composto por músicas dos principais compositores do movimento armorial, dentre eles podemos citar Clóvis Pereira, Guerra Peixe e Antônio José Madureira”, complementa Bruna, que é integrante da camerata, mas desta vez não estará no palco.
Para encerrar o Encontros Petrobras de Música Armorial, no domingo (20), às 16h, do Largo da Vitória ao MAB, o público vai poder participar de um cortejo com o grupo feminino, e soteropolitano, Maracatu Ventos de Ouro.
Liderado por Josy Garcia, mestra e fundadora do grupo, a marcha não apenas celebra o encerramento da Mostra Armorial 50, como também oferece uma vibrante homenagem à rica cultura popular nordestina, apresentando um dos ritmos e folguedos populares inspiradores da música armorial.
Após Salvador, a Mostra Armorial 50 segue para Natal (RN) com inauguração no dia 1º de novembro, na Pinacoteca do Estado do Rio Grande do Norte, onde ficará em cartaz até 2 de fevereiro de 2025.
Encontros Petrobras de Música Armorial / 18 (19h), 19 (18h) e 20 (16h) de outubro / Museu de Arte da Bahia, Igreja da Vitória e Largo da Vitória
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