TEATRAL E OPERÍSTICO
Artista plástico alagoano lança exposição inédita no MAB
Figuras humanas e muitas cores predominam nos 60 quadros em óleo sobre tela
Por Eugênio Afonso
Um Contador de Histórias, da série Eu nasci há dez mil anos atrás, é o nome da mais nova exposição individual do artista plástico alagoano Murilo Ribeiro, 66. A abertura acontece nesta quinta-feira, 17, às 19h, no Museu de Arte da Bahia (Corredor da Vitória) e a mostra fica à disposição do público até 17 de abril.
São 60 quadros em óleo sobre tela, que retratam temas diversos e trazem reflexões sobre arte, humanidade, pandemia, expectativas de vida, histórias e vivências. Murilo diz que suas pinturas, na verdade, não são ilustrações, mas imagens das próprias histórias que ele quer contar.
Radicado na Bahia desde criança, o pintor nascido em Penedo (AL) não expõe individualmente desde 2010 (A Cidade e sua Cor), e diz que, em tempos viróticos, a proposta da mostra é parar um pouco para festejar a arte e a vida, e que, como artista, sempre apostou na licença poética, na liberdade da imaginação delirante.
“Sempre fui um contador de histórias e todas essas telas foram feitas durante a pandemia. Nessa fase, eu quis exatamente dar uma solenidade à cena e fugir do banal. O expressionismo levado à coisa teatral como se fosse uma ópera”, relata Ribeiro, que também é diretor do Palacete das Artes desde 2007.
Cor e forma
Marcada por cores fortes e um expressivo número de figuras humanas, a pintura de Ribeiro quer contar a emoção cabível na cena imaginada através da harmonização de formas, cores, texturas e ranhuras. Quer, como ele mesmo diz, festejar a arte e a vida dando um testemunho de fé na humanidade.
“Sempre pintei a figura humana, minha empatia com ela é total, e a cor é uma paixão. Como na música, a cor são as notas musicais. Trabalho de maneira totalmente anárquica e as pessoas se identificam, se projetam na minha pintura”, relata Ribeiro.
Para o artista plástico Juarez Paraíso, a obra de Murilo impressiona pela quantidade, qualidade e unidade de estilo. Paraíso afirma ainda que o artista mantém a espontaneidade na criação de dezenas de figuras que, em uma expressiva confraria, ocupam todos os espaços da composição.
Já Luiz Freire, doutor em História da Arte e professor da Escola de Belas Artes da Ufba, observa que no trabalho do artista alagoano há diversas citações às obras-primas da arte europeia, literatura e cinema. E que Murilo é muito cuidadoso com o suporte e com os materiais empregados, inclusive na escolha das molduras, que contrastam em pompa com as formas e as cores das composições.
Na observação do restaurador José Dirson Argolo, o que surpreende e encanta nas telas de Ribeiro é o lirismo, a alegria quase infantil e o domínio extraordinário de cor e forma que emana. Segundo Argolo, Murilo é um artista que não está preso a dogmatismos, modismos, nem preocupado com o mercado, e que retrata com raro senso de humor as alegrias e dores do povo nordestino.
Alma exposta
Ainda pequeno, Murilo conta que aprendeu a desenhar recortando figuras nas revistas e que dissolvia o papel seda das pipas na água para descobrir os tons e subtons das cores. Afirma que, com sua arte, quer se comunicar, contar histórias, conversar com as pessoas e que o artista é o maior dos exibicionistas porque mostra a alma.
“Quando me propus a ser um artista plástico, escolhi me expressar através da pintura. Na verdade, meu trabalho é um depoimento da maneira que eu sinto a vida, o mundo, as pessoas”, relata Ribeiro.
Com 56 anos de carreira, o artista acredita que nada pode ser gratuito em uma obra. “Tudo tem que caber e ter uma razão. Não precisa ser consciente e premeditado. O improviso, a inspiração, a transpiração, tudo cabe. Mas a verdadeira obra de arte sai de algum lugar, de sua alma, de seu inconsciente, do seu coração, das suas mãos para você contar alguma coisa”, finaliza.
Serviço
O quê: Exposição Um Contador de Histórias, de Murilo Ribeiro
Quando: 17 de fevereiro a 17 de abril / terça a sábado, das 13h às 18h
Onde: Museu de Arte da Bahia (Corredor da Vitória)
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